A migração interna vem caindo nos últimos anos no Brasil. É o que revela o estudo Migração Interna no Brasil, divulgado nesta terça-feira (17), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o estudo, o percentual de migrantes dentro da população caiu de 3% em 1995, para 1,9% (3,3 milhões de pessoas) em 2008.
Entre 2003 e 2008, no Brasil, 3,327 milhões de pessoas deixaram seus estados de origem. Em geral são pessoas jovens, com idade entre 18 e 29 anos, têm uma taxa de desemprego menor do que a de não migrantes e, quando conquistam um emprego, tendem a estar na formalidade, mas com uma carga horária acima de 45 horas semanais.
Os maiores fluxos de migração são entre estados da Região Sudeste, e entre o Nordeste e o Sudeste brasileiro.
“Se analisarmos o total de migrantes que, entre 2003 e 2008, mudaram de estado, veremos que a maior quantidade ocorre entre estados da Região Sudeste, com 465.593 migrações. Em segundo lugar, com 461.983 casos, está a migração de pessoas que vão de algum estado nordestino para algum estado do Sudeste”, explicou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Herton Araújo.
Segundo ele, a migração entre estados do Sudeste se difere da do Nordeste-Sudeste principalmente pelo fator escolaridade. “Apenas 6,1% dos nordestinos que vão para o Sudeste estudaram pelo menos 12 anos. Esse percentual sobe para 23% quando analisamos a migração dentro do Sudeste”, explica o pesquisador.
O Centro-Oeste surpreendeu por apresentar 151.614 migrações internas.
Proporcionalmente, foi o maior índice de migração entre estados de uma mesma região. “Muito disso pode ser justificado pelo alto custo de vida no Distrito Federal, o que gera um grande número de migrações para a região do Entorno do Distrito Federal, de mais baixo custo de vida”, acrescentou.
Herton Araújo destaca que dentro das relações migratórias envolvendo as regiões Nordeste e Sudeste – regiões onde se encontram mais de 60% dos migrantes do país – ocorreu um fato curioso. “Houve, entre 2002 e 2007, uma inversão dessa migração, apresentando um saldo maior de pessoas indo do Sudeste para o Nordeste [cada ano apresentado pelo estudo refere-se à média dos cinco anos anteriores]”. Mas, segundo o pesquisador, essa situação voltou novamente a se reverter a partir de 2008.
O estudo detalha que esse saldo migratório, que entre 2002 e 2003 era levemente favorável ao Nordeste – migrações bastante próximas a zero -, foi ampliado entre 2003 e 2007, tendo o ápice em 2005, com saldo superior a 110 mil migrações para o Nordeste, com origem no Sudeste. “Estimamos que 80% desse saldo é de retorno de nordestinos a seus estados”, afirmou o pesquisador.
De acordo com o Ipea, 45,6% dos 3,327 milhões de migrantes brasileiros são jovens, com idade entre 18 e 29 anos. Entre o público não migrante esse percentual cai para 29,5%. Além disso, os migrantes têm mais ocupação do que os não migrantes: 68,9% contra 66,3%.
De cada quatro pessoas com idade igual ou superior a 18 anos que vão do Nordeste para o Sudeste, três estão ocupadas. “Isso se deve, em parte, ao fato de que o migrante não poder se dar ao luxo de ficar desempregado. Essa é uma situação que é mais facilmente contornada pelos não migrantes. Como dizemos, poder ficar desempregado é um luxo que nem todos têm condição de ter”, justificou Araújo.
Enquanto um migrante tem um salário médio de R$ 1,2 mil, os não migrantes recebem em média R$ 968. “Esses dados escondem o fator horas trabalhadas. Enquanto 41% dos migrantes trabalham mais do que 45 horas semanais, apenas 34,2% dos não migrantes encontram-se nessa situação. É a luta pela sobrevivência”, concluiu o técnico do Ipea.