A produtividade brasileira sempre volta à tona quando surge uma nova pesquisa sobre o assunto. Normalmente o resultado desta nova pesquisa é sempre desagradável aos agentes envolvidos, o empresariado, pois ela coloca o dedo nesta ferida que vem piorando a cada pesquisa realizada. Como a pesquisa tem uma finalidade de mostrar o seu resultado, como uma fotografia quando é realizada, não mostra nem diz suas causas, ela deixa este problema para todo o empresariado em geral e o governo que tem muito a perder com esta situação, pois a arrecadação de impostos depende da produção gerada.
Ao tomarmos a pesquisa da média da produtividade do empregado em termos de receitas em 2023 para as empresas, que de acordo com o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, da FGV, foi de R$ 41 por hora, no mesmo valor de 2012. Assustador é que ocorreu um ótimo resultado quando ao desemprego no país cuja taxa foi de 6,9%, inferior aos anos anteriores, nos colocando em uma situação em que aumenta o número de empregados e a produtividade não acompanha este acréscimo, os preços não caem melhorando a concorrência entre as empresas brasileiras e continuamos com melhores preços dos produtos similares importados, fazendo que o governo utilize da política de impostos de importação mais elevado para não prejudicar as empresas nacionais.
Como o trabalhador brasileiro leva 1 hora para produzir o que o americano faz em 15 minutos e a média de produtividade do trabalhador americano é de RS 164 por hora, como queremos que o nosso é país enriqueça se temos várias âncoras nos segurando? Como o resultado da pesquisa é a média da produtividade, recordo-me que o Prof. Delfin Netto, recentemente falido, dizia: “a média é uma m…., pois sempre teremos empresas que estarão acima e empresas que estarão abaixo”, o que nos faz acreditar que as empresas brasileiras como melhor produtividade por empregado está bem abaixo do piso das empresas americanas, fazendo que os otimistas (otimistas ou sonhadores?) digam “que bom, nossa média poderá crescer bastante e diminuir este gaps” e os pessimistas “se este gaps aumentar as empresas estrangeiras tomaram conta de nosso mercado”.
Esta pesquisa conduzida pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli, da FGV, considera a produtividade de todas as empresas dos segmentos da agroindústria, indústria, comércio e serviços sem segmentá-las por porte e se assim fosse realizada a realidade provavelmente seria diferente, pois a produtividade das grandes empresas é bem acima dos outros segmentos devendo estar próxima do teto. Em um exercício teórico e considerando a média americana de produtividade, de RS 141, a produtividade média das grandes empresas deve se situar próxima ao piso americano em torno de R$ 80 a R$ 100, ficando o nosso problema na produtividade das pequenas empresas, que deve ficar no máximo, um pouco acima da nossa média e as demais abaixo, por isto Delfin desdenhava da média, mas é o resultado, pois a maioria destas empresas não têm competência organizacional e pior, seus dirigentes desconhece o que é isto, mas os das grandes empresas sabem e praticam, pois em caso contrário a concorrência os eliminará.
As causas da nossa improdutividade são exaustivamente conhecidas e suas soluções vem patinando há décadas, às vezes diminuindo um pouco, mas sempre incipientes para apresentar melhorias expressivas, por exemplo uma das causas desta baixa produtividade é a educação pública, porém, de acordo com o último IDEB, a educação fundamental pública vem apresentado, no geral, uma melhora inédita, porém insuficiente considerando que o ensino médio público não vem acompanhando este melhoramento, com raras exceções de alguns estados que já vinham se destacando. Esperamos que com a reforma do ensino médio prepare os alunos para o mercado de trabalho, pois o aluno conclui o curso sem a mínima noção para a empregabilidade, recebe o diploma e um “agora se vire”, mas não é só no ensino médio pois muitas faculdades fazem a mesma coisa.
Uma das principais causas que nem sempre é mencionada, por ser um assunto delicado, é a má formação do empresariado das micross e algumas pequenas empresas. O nosso entorno está repleto de exemplos, maus exemplos de como gerir uma empresa, quem não conhece prestadora de serviços, onde mais esta carência se destaca, e o proprietário como não está devidamente preparado nem controla o serviço realizado por seus empregados, orientando-os quando realizam um trabalho de péssima qualidade, isso sem mencionar se algo complica ninguém sabe resolver pois nem este “empresário sabe”, porque só conhece o óbvio e não quer se desenvolver.
Já tratei do assunto da péssima qualificação de nosso empresário destes segmentos, que não procuram os órgãos especializados na formação não somente dos empregados, mas também para si próprio, pois temos bons cursos práticos que tratam dos problemas de gestão do dia-a-dia das empresas. Não raro encontramos empresários com curso superior mas sem nenhuma noção da complexidade da gestão e que não procuram aprender o mínimo necessário. Faço um desafio: pegue um balancete de uma empresa de pequeno porte entregue ao empresário e pergunte “o que este documento mostra?”, não se espante com a resposta.
A pergunta que fica no ar é: quando calçaremos nossas sandálias da humildade e assumimos a nossa parcela de culpa nesta improdutividade?