Dona Severina Clemente, 59 anos, não consegue conter as lágrimas ao lembrar do dia da enchente em Branquinha, que levou sua casa com todos os pertences. Residente há duas décadas na cidade, ela agora está morando em uma escola que serve de abrigo para cerca de 170 pessoas.
Viúva há seis meses, a senhora franzina ficou com a responsabilidade de cuidar de cinco filhas e três netos e ainda mantém a esperança em encontrar sua maior perda: “Queria tanto encontrar o corpo de meu filho mais velho para enterrá-lo junto ao pai. Ele foi me ajudar a tirar as coisas de casa e foi levado pela cheia”, conta emocionada.
Para ajudar dona Severina e as demais vítimas das enchentes a superar a tragédia, uma parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e a ONG Médicos Sem Fronteiras vai garantir atendimento psicológico tanto nos abrigos como num posto de assistência individual, que será montado na entrada da cidade. O trabalho iniciou neste domingo (4), com profissionais visitando os abrigos para anunciar o novo serviço.
“Diante de uma catástrofe desse porte, o principal problema é a questão da moradia e isso só será resolvido a médio e longo prazos. Mas o que essas pessoas estão precisando nesse momento é de um acolhimento psicológico, um trabalho preventivo, que vai evitar que surjam transtornos mentais graves”, explicou Laeuza Farias, técnica da Gerência de Saúde Mental da Sesau.
De acordo com Cristina Sutter, psicóloga da ONG Médicos Sem Fronteiras, a equipe disponibilizada pela instituição é formada por cinco profissionais, entre psicólogos, enfermeira e pessoal da logística. “Estamos organizando escalas com profissionais voluntários da Sesau, Uncisal e Ufal. Nossa proposta é ajudar os desabrigados e desalojados a superar as perdas e começar vida nova”, informou, acrescentando que a ONG também vai construir ‘campos de desabrigados’ – espécie de barracas – e distribuir kits de higiene e limpeza.
Denise Silva, desabrigada que está morando e coordenando um dos abrigos, informou que já foi possível detectar quatro pessoas que apresentam problemas mentais. “São três idosos que moravam sozinhos e uma mulher; eles ficam falando que estão sendo perseguidos, coisas sem nexo. Eles só estão se alimentando, porque estamos cozinhando para eles”, disse.