Aninha tem apenas 30 anos, é viúva e mãe de duas adolescentes. Em 1997, junto com mais 20 iniciantes, começou a aplicar desenhos em tecidos utilizando agulha e linha. Treze anos depois das primeiras aulas e nove da perda do marido em um acidente de trânsito, Ana Cristina Ferreira Santos terminou a casa própria e tem ponto de vendas no Mercado de Artesanato de Penedo, conquistas pessoais alcançadas por meio da Associação de Inclusão Social Bordadeiras de Penedo (AISBOPE).
O trabalho das bordadeiras penedenses foi exibido em rede nacional na manhã deste domingo, 09, no programa “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”, um verdadeiro presente para todas as mães da AISBOPE. A história da associação que alcançou status de empresa exportadora em nível internacional, com encomendas para o Uruguai, vai ao ar a partir das 7 horas na Rede Globo. O foco da reportagem é a descoberta, por meio de curso de capacitação, da valorização de temas regionais nos bordados, formando sua identidade, tornando-se singular e atraente no resgate do cotidiano do povo ribeirinho.
O Portal Aqui Acontece visitou a sede da AISBOPE, imóvel vizinho ao do quartel do Tiro de Guerra de Penedo. A placa afixada numa das paredes da casa informa que ela foi adquirida – e não reformada, como escrito anteriormente – com recursos da Campanha Cidadão Nota 10 lançada durante a gestão do então governador Ronaldo Lessa, incentivo à exigência de entrega da nota fiscal. A reforma do patrimônio próprio veio com patrocínio de lojas do comércio local e apoio da prefeitura. Ao lado da atual sede, outro imóvel ainda em obras escreverá mais um capítulo da trajetória vitoriosa da entidade acolhida pela Casa da Amizade, instituição a cargo das esposas dos rotarianos, como são chamados os associados do Rotary Club.
Casa da Amizade, madriha da AISBOPE
Madrinha das bordadeiras, a Casa da Amizade (www.casadaamizadepenedo.com.br) apóia integralmente as bordadeiras reunidas desde 2005 na AISBOPE, oito anos depois da semente lançada por Francisca Lima Lessa Lôbo. Engenheira agrônoma aposentada e integrante da Casa da Amizade, ela foi convidada para conhecer a associação de moradores do bairro Camartelo, situado em zona de prostituição de Penedo. Do encontro surgiu a dúvida: como ajudar aquelas pessoas?
Uma alternativa seria o ensino do bordado, artesanato que aprendeu aos 7 anos com a mãe, Rita Cesário, e que bancou seu curso universitário. Disposta a colaborar voluntariamente com as mulheres e meninas do Camartelo, Francisca e Rita passaram a freqüentar a sede da associação de moradores, ministrando aulas que depois passaram a acontecer em casa de alunas. Surge o convite para Francisca Lessa assumir o comando da Casa da Amizade, proposta aceita com duas condições: a participação de todas as senhoras rotarianas na gestão e o apoio para ampliar o trabalho com as bordadeiras.
Da parceria, nasceu o projeto “Em Busca da Vida”, com ensino de bordado e crochê para as moradoras do bairro Camartelo, ampliado para outras comunidades carentes, como o Campo Redondo. É lá onde mora a estudante Marilene Honório da Silva, 16 anos. Aluna do 3º ano do Ensino Médio regular pela manhã e cursando o 1º ano à noite no Curso Normal (magistério), ambos em escolas públicas, a adolescente ainda arruma tempo para bordar porta-jóias, produto em alta entre os produzidos pela AISBOPE.
Metade do valor de cada peça é repassado à bordadeira
Com direito à metade do valor de cada peça vendida, divisão que vale para todas bordadeiras, Marilene paga custos dos estudos, compra roupas, revistas, cosméticos para uso pessoal e ainda ajuda em casa. “Nos últimos meses deu para tirar mais de R$ 100, podia ser mais ainda, mas eu tenho que estudar, aí não sobra muito tempo”, explicou a filha de agricultores pais de oito pessoas, entre elas a bordadeira adolescente que entrou para a associação há três anos.
No caso de Maria Josete da Silva Lima, 27, o aprendizado começou lá no início da formação da entidade. Desde então, ela alcançou renda suficiente para, por exemplo, pagar o curso particular de Técnico de Enfermagem, concluído em abril desde ano ao custo de R$ 197 por mês, formação que já lhe rendeu vaga no serviço público. Aprovada em concurso promovido pela prefeitura de Igreja Nova, Josete aguarda sua nomeação.
Ainda com o lucro dos bordados que aprendeu a fazer na AISBOPE, ela se inscreveu no curso de socorrista do SAMU, um intensivo de seis meses realizado durante os finais de semana, investimento de R$ 110 mensais. A qualificação será mais um passo em direção à universidade. Josete concorrerá no vestibular para Enfermagem, carreira disponível no campus Arapiraca da Ufal. Costurando roupas e bordando, ela também participa de eventos representando a AISBOPE, assim como Ana Cristina, missão que acrescenta mais algum à renda das duas bordadeiras que fazem parte da história da entidade que será conhecida em rede nacional de televisão neste Dia das Mães.