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Brasil/Mundo

Vendaval e chuva de granizo deixam rastro de destruição em Sergipe

O vento conseguiu derrubar árvores gigantescas

Um forte temporal com ventos de até 135 km/h, com força semelhante a de um furacão, derrubou e destelhou casas nas cidades de Porto da Folha, Itabaiana, Frei Paulo e Campo do Brito. Os municípios mais atingidos foram Porto da Folha, onde a população entrou em pânico e 13 casas foram totalmente destruídas, e Campo do Brito, com dezenas de casas destelhadas e árvores arrancadas. A Defesa Civil decretou estado de calamidade em Campo do Brito e hoje a mesma situação deve ser decretada em Porto da Folha, onde 50 pessoas estão desabrigadas. Não houve morte, apenas feridos com escoriações leves e muitos danos materiais. Vinte e seis cidades do sertão e agreste sergipano ficaram sem energia elétrica por mais de três horas. Alguns povoados ainda estão às escuras, mas a Energipe informou que está com nove equipes na região.

“Estava muito quente durante todo o dia e de repente, por volta das 16h30, o tempo mudou. Começou um vento muito forte, escureceu tudo e a chuva caiu”, disse o secretário de Desenvolvimento Rural de Itabaiana, Luciano Santana. “Parecia um ciclone”, reforçou o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Itabaiana, Valfrânio Araújo. De acordo com o meteorologista Overland Amaral, as rajadas de vento foram semelhantes a de um furacão que oscilam entre 100 Km/h e 350 Km/h (ver boxe).

No município de Itabaiana, a 56 quilômetros de Aracaju, uma casa recém-construída na rua Josevaldo Nunes Santos, periferia da cidade, ruiu. O muro e parte do telhado da Vila Olímpica José Queiroz da Costa desabaram. Vizinho ao clube, que fica às margens da BR-235, o telhado de amianto da casa de Maria Augusta Santana não agüentou a força do vento e se partiu. “Perdi televisão, som, colchão e até comida, que molhou com a chuva e o vento forte”, lamentou a dona de casa.

Árvores ao chão

Maria OdíliaEm Campo do Brito, a 64 quilômetros da capital, uma oficina construída há apenas três meses veio abaixo. No momento do desabamento, cinco veículos estavam em conserto. De acordo com informações do comerciante Edson da Silva, um dos que estava com o carro consertando na oficina, quando os mecânicos e clientes perceberam o ruído correram para fora. Ninguém se feriu. O veículo dele foi o único que foi retirado cinco minutos antes do desabamento.

Na praça Mário Ribeiro de Brito, a principal de Campo do Brito, oito árvores de médio porte foram arrancadas pela raiz. Outras também foram ao chão em propriedades rurais localizadas às margens da rodovia de acesso a Lagarto. Parte da ponte que passa sobre um riacho, nesta mesma estrada, ficou obstruída por um eucalipto por pelo menos 10 horas. A árvore foi retirada ontem pela manhã pela equipe do Corpo de Bombeiros de Itabaiana.

Na avenida José Carlos de Oliveira, a maior de Campo do Brito, dezenas de casas foram destelhadas. O Ginásio de Esportes Governador Albano Franco teve a cobertura bastante danificada. Uma parte ruiu e a que restou ficou cheia de buracos. “Em 55 anos nunca vi um temporal desses”, disse o agricultor Domingos Souza, que quase foi arrastado pelo vento forte quando voltava de bicicleta para casa. No ginásio, uma equipe de rapazes jogava uma partida de futebol de salão, mas ninguém ficou ferido, pois todos correram quando a ventania começou.

Mais destruição

Dos quatro municípios atingidos pelo temporal, Porto da Folha foi um dos mais prejudicados, na avaliação da Defesa Civil. Treze casas foram destruídas, cinco imóveis tiveram o muro derrubado e mais duas tiveram a estrutura danificada (ver boxe). Uma pessoa ficou ferida e foi levada à unidade de saúde local. Recebeu os primeiros socorros e liberada em seguida. Pelo menos outras três sofreram escoriações leves.

Em Frei Paulo, a 74 quilômetros de Aracaju, telhados também voaram e muros ruíram, mas ninguém ficou ferido. O meteorologista Overland Amaral alertou para a ocorrência de mais chuvas, inclusive de granizo (ver boxe). Das 26 cidades que ficaram sem energia elétrica, 13 estão nas proximidades de Itabaiana e as demais ao redor de Nossa Senhora das Dores.

Alerta de temporal até amanhã

“O alerta de temporal, que já assola o Estado desde a última segunda-feira, vale até amanhã. A previsão é de possibilidade de chuvas com ventos de velocidade de 135 km/h e trovoadas”. A afirmação é do Coordenador do Centro de Meteorologia do Estado, Overland Amaral. Segundo ele, a velocidade de 135 km/h, corresponde, na escala mundial Belfort, a uma característica de velocidade da classe 12, considerada extremamente forte, que se assemelha com a velocidade de um furacão. “Quero alertar que a situação vai continuar em todo o Estado, principalmente no agreste e alto sertão, até amanhã (hoje), podendo ocorrer mais ao longo desse mês”, alertou o meteorologista.

Overland Amaral disse ainda que as instabilidades atmosféricas são características desta estação. “As pessoas devem estar bem abrigadas numa hora dessas, principalmente se estiverem no trânsito, porque o impacto é muito forte”, orientou ele, informando que a descarga elétrica também é muito forte. “As nuvens estão muito carregadas. É preciso que a população se proteja. Não fique em campos abertos ou próximos a árvores”, afirmou. O meteorologista alertou também para a possibilidade de chuvas de granizo, por causa do resfriamento no topo dessas nuvens.

“Provavelmente já deve ter ocorrido isso em Gararu e Nossa Senhora da Glória, entre outros municípios do sertão. Se ainda não ocorreu, vai ocorrer e se já ocorreu pode ocorrer novamente. A comunidade deve ficar atenta e deve comunicar à Defesa Civil, porque isso não ocorre somente em outros Estados, acontece em Sergipe também”, disse. Overland Amaral explicou que as chuvas de granizo são mais propensas nas áreas dos sertões porque há uma formação de células de convecções nessas regiões, até porque a área é mais quente e devastada, absorvendo mais os impactos da natureza.

A previsão também é para Aracaju, mas as chuvas devem ocorrer de forma mais moderada. “A gente já esperava por isso, inclusive já tínhamos enviado um alerta para a Defesa Civil. Mas o quadro de chuvas convectivas é de normalidade e, se não fosse, a gente teria um alto estado de seca”, informou, ao ressaltar que as fortes chuvas ainda não tinham chegado ao Estado de Sergipe por conta de um bloqueio causado por um ciclone de altos níveis, comum nesse período, ocorrendo inicialmente em atmosferas mais altas, que se firmou na faixa leste.

“Ele forma uma convecção com chuvas na faixa oeste dele, como estava chovendo na Bahia. Por isso o ar quente e seco começou a descer para o Nordeste, causando muito calor nestes últimos dias”, explicou. A chuva chegou com a dissipação desse sistema. “Acabado esse bloqueio, vêm mais chuvas por aí. São chuvas de verão e convectivas, com possibilidades de raios e trovões”, alertou Overland Amaral.

13 casas desabaram na sede de Porto da Folha

Em Porto da Folha, a chuva de granizo e o vendaval deixaram muitas famílias desabrigadas. Como a situação nunca foi vivida pela população do município, um senhor teve um ataque cardíaco e morreu. Uma pessoa saiu ferida devido ao desabamento de uma casa. Na área urbana, 13 casas de famílias de baixa renda foram destruídas e uma foi parcialmente danificada. “São casas de construção simples e fracas”, disse o coordenador da Defesa Civil, Nailson Santos, ao acrescentar que cinco depósitos, sendo dois de venda de gás, tiveram os muros derrubados, assim como a garagem de um caminhão, a sede de uma associação comunitária e o muro do Estádio de Futebol Caio Feitosa.

No povoado Serra dos Homens, também em Porto da Folha, duas casas desabaram. “Sendo que essa é uma localidade atendida por caminhões-pipa devido à situação de seca”, contrastou Nailson Santos. Com relação aos danos financeiros causados nas criações de animais e plantações, estamos esperando a conclusão do relatório da Deagro, para saber qual foi o tamanho do prejuízo”, ressaltou o coordenador da Defesa Civil.

O prefeito de Porto da Folha, Manuel de Rosinha, informou que a população foi pega de surpresa e ficou totalmente transtornada por conta do temporal. Segundo ele, foram duas horas de chuva, mas o pior foi o vendaval. “Ao todo, 20 casas foram danificadas por causa das chuvas e rajadas de vento. Estamos com medo da possibilidade do riacho transbordar”, disse. As olarias, que sofreram danos em 2004, também foram atingidas. “Todo o material foi levado”, contou. As 15 famílias que ficaram desabrigadas neste município estão alojadas na Escola da Coroa do Meio.

Trovoadas se repetem como no ano passado

No ano passado, as fortes chuvas nesta mesma época do ano fizeram estragos no alto sertão sergipano. Foram sete horas seguidas de trovoadas e ventos que provocaram prejuízos no campo e estragos nas estradas secundárias e na principal rodovia que faz a ligação entre Nossa Senhora da Glória e Monte Alegre. A correnteza foi suficiente para arrastar cercas, derrubar árvores, pequenas pontes e romper o asfalto em vários trechos da via asfaltada. Dois carros se acidentaram, um deles um ônibus que transportava estudantes do povoado Mocambo para a cidade de Nossa Senhora da Glória, mas por sorte ninguém se feriu. O carro foi totalmente danificado na passagem de um riacho.

Também foram ouvidos muitos trovões e os ventos fortes que arrancaram árvores pela raiz. O que chamou a atenção de muitas pessoas é que nos municípios vizinhos, como Poço Redondo e Canindé do São Francisco, a chuva foi pouca. Também choveu forte em Frei Paulo. O riacho Caiçara, que corta vários povoados na região sertaneja, já estava transbordando e a água passando sobre o asfalto, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória e Monte Alegre. Uma equipe do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) foi obrigada a fazer desvios no local. As pessoas eram transportadas em micro-ônibus fazendo baldeações com vários carros, sempre após os abismos para chegar em casa. Os donos de utilitários ganharam dinheiro com essa situação.

Por causa das crateras abertas por baixo do asfalto, os motoristas de caminhões e carretas foram obrigados a dormir na beira da estrada. Poucos se arriscaram a passar sobre os trechos em meia pista. Somente após 24 horas de trabalho o DER liberou meia pista para os carros pequenos.