Milhares de pessoas ainda não conseguiram retomar suas vidas, a batalha nos tribunais por indenizações promete ser longa e os cientistas não foram capazes de avaliar todos os impactos do maior desastre ambiental da história dos EUA
A explosão no dia 20 de abril da plataforma Deepwater Horizon, operada pela BP no Golfo do México, resultou na morte de 11 trabalhadores e no vazamento de mais de cinco milhões de barris de petróleo. Agora, seis meses depois do acidente, ainda não existem informações suficientes para que seja possível analisar todos os efeitos da tragédia.
Segunda a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) a operação de limpeza teria sido um sucesso, com a maior parte do petróleo tendo evaporado, queimado ou dispersado. Fatores naturais, como a ação de microorganismos, teriam facilitado a degradação, que ocorreu de forma muito mais rápida que a esperada.
Porém, a queda do turismo e as dificuldades de pescadores, criadores de ostras e outras pessoas que dependem do oceano para voltar ao trabalho estão agravando a crise econômica na região.
No caso das ostras, praticamente todos os locais de criação apresentam problemas de mortalidade.
“Eu posso dizer com honestidade que estou muito pessimista com tudo isso. Nós não temos noção da situação. Não temos dados reais do problema e quanto tempo será preciso para resolvê-lo. Esta é nossa vida, não temos outro lugar pra ir”, afirmou à AFP Byron Encalade, presidente da Associação de Criadores de Ostras da Louisiana.
O governo norte-americano reabriu 90% das águas do golfo para a pesca, mas a indústria da região ainda sofre com o prejuízo de ter ficado parada tanto tempo e pela crise em sua imagem.
Sindicatos alegam que a demanda por seus produtos simplesmente não existe mais, pois nesse meio tempo as distribuidoras buscaram novas fontes.
Batalhas legais
Do total de US$ 20 bilhões prometidos pela BP em compensações apenas US$ 1,5 bilhões já teriam sido pagos e literalmente milhares de processos lotam as cortes norte-americanas.
O mais recente deles teve início nesta quarta-feira, com a iniciativa de grupos ambientais que a empresa pague por ter colocado em risco espécies ameaçadas como tartarugas marinhas e baleias.
“Os efeitos nocivos do vazamento irão continuar a ameaçar as espécies por muitos anos. Nós pedimos à justiça que cobre da companhia a garantia de que ela fará todo o possível para minimizar os danos”, explicou Gregory Buppert, advogado da ONG Defensores da Vida Selvagem.
As entidades querem que a justiça ordene a BP a criar um fundo de preservação para as espécies do Golfo do México. O processo não deixa claro o valor do fundo.
O que se pode comemorar com esses seis meses é que nenhum dos piores cenários se confirmou. O vazamento não chegou a atingir toda a costa leste dos Estados Unidos como muitos previram nem causou a morte de milhões de animais.
Mas ainda há vestígios de petróleo em grandes profundidades assim como concentrações anormais de determinados tipos de bactérias que proliferaram com o vazamento. A ação do dispersante COREXIT 9500, usado em grande quantidade pela BP, no ecossistema também ainda precisa ser avaliada.
A única certeza é que os cientistas terão muito que estudar nos próximos anos até que um quadro completo de toda a tragédia possa ser estabelecido