Situada entre o Colégio Imaculada Conceição e a emissora Rio São Francisco, a Praça Jácome Calheiros – mais conhecido por seu coreto – é o retrato dos estragos causados por atos de vandalismo e o desleixo da administração pública em Penedo. A murada que cerca parcialmente a área de lazer tem sido constantemente depredada, com a quebra das peças que ornamentam sua estrutura, os balaústres. Até mesmo os reparos realizados pela prefeitura sujam a imagem do local, com material deixado sobre a praça.
A reposição de um balaústre destruído do coreto não teve o imediato recolhimento dos restos do serviço, constatação feita na tarde desta terça-feira, 17. A reportagem do portal de notícias Aqui Acontece fotografou o material amontoado próximo à escada de acesso ao coreto que tem sido usado como abrigo para sem teto. Colchão, papelão e recipientes de comida espalhados no piso do coreto revelam que o espaço tem sido útil para moradores de rua, ocupantes que não são responsáveis pela depredação recorrente das estruturas da murada da praça e do próprio coreto.
Os atos de vandalismo já teriam inclusive autor identificado, segundo fonte consultada pela reportagem, mas a ausência de um flagrante impede a tomada da necessária providência. Há trechos da murada que perderam por completo os balaústres que integram a estrutura, adornos derrubados por conta da falta de consciência do valor do patrimônio público. Até parece que os vândalos seguem o exemplo de algumas intervenções oficiais que modificam o paisagismo das praças de Penedo, deixando os espaços irreconhecíveis, descaracterizados.
Espaço onde está situada praça sempre foi de uso público
A praça Jácome Calheiros está situada em espaço que sempre foi de uso público da comunidade penedense. No livro Arruando Para o Forte, um passeio por Penedo escrito por Francisco Salles – fundador da Casa do Penedo – o autor descreve no capitulo “Ocupação dos Altos” que a área era um recanto comum para os moradores das vilas do Brasil colônia, os chamados rocios. A ocupação gradativa do local por residências ganhou até praça, batizada inicialmente como Valetin da Rocha Pita, capitão que liderou a expulsão dos holandeses em setembro de 1645.
Do nome de inspiração heróica, a praça erguida na primeira década do século XVIII passou a homenagear São Gonçalo do Amarante, referência à capela e ao abrigo de frades carmelitas que existiam nas imediações do espaço. A igreja ruiu, sendo o terreno aproveitado para erguer o Colégio Imaculada Conceição, prédio com vista privilegiada para o espaço projeto pelo arquiteto italiano Luiz Lucarini, que chegou a residir em Penedo.
Coreto da praça é marco de resistência
Da obra original de Lucarini – que também assina os projetos do Theatro Sete de Setembro, da emissora Rio São Francisco e do Mercado Municipal, todos situados na cidade ribeirinha, e ainda o antigo Palácio do Governo, localizado em Maceió -, o coreto destaca-se como marco de resistência às reformas patrocinadas por prefeitos ao longo dos anos e atos de banditismo que apagam da memória balaústres, ânforas (vasos antigos de origem grega) e estátuas romanas.