Nos primeiros dias de janeiro de 2009, pouco menos de noventa dias depois de um tumultuado processo eleitoral que trouxe uma desconfortável nódoa de desconfiança para a história política de Penedo e deixou a população emocionalmente abalada e perplexa, testemunhamos um intenso bombardeio de denúncias.
Parecia estarmos diante de uma grande tela, assistindo uma versão cinematográfica cujo roteiro se desenrolava na eterna batalha entre o “bem” e o “mal”. No caso, era apregoado que o “bem” vencera o “mal” durante a disputa eleitoral e que os “mocinhos”, guerreiros vencedores da “santa batalha”, agora assumiam os destinos de um reino que seria reconstruído com honestidade, trabalho, benevolência, respeito, liberdade e muito, muito amor, e onde o povo seria feliz para sempre.
E como não podia deixar de ser, a primeira ação dos “mocinhos” da estória foi a limpeza, ou seja, a retirada dos entulhos da destruição deixada pelo “mal”, os escombros da batalha. Para isso, os “mocinhos” contrataram uma empresa intergaláctica, a LIMPEL, pela bagatela de R$ 284.250,88 (duzentos e oitenta e quatro mil, duzentos e cinquenta reais e oitenta e oito centavos)/mês.
Diante de ruidosos arautos e enfileirados militarmente, os veículos destinados à faxina desfilaram pelas ruas da cidade anunciando a nova era.
Não vingou. Não limpou. Não eliminou os refugos, não retirou os supostos escombros e, pelo contrário, lançou sobre a desconfiança da assunção, novas impurezas de uma fuligem que parece impregnar o patrimônio público.
Depois, mudou a estação e mudaram os métodos. Atordoados pelos gastos astronômicos, o excessivo número de pessoas contratadas e apoquentados pela incompetência na condução do processo, inclusive daquele que culminou com a perda dos royaltieis que rendiam um recurso significativo para o município, os “mocinhos” decidiram adotar o mecanismo próprios das ditaduras para “consertar” as coisas que, eivadas dos vícios da decantada social democracia, cambaleavam juntamente com a Casa de Madraçaria sobre o combalido rochedo: o decreto!
O decreto de urgência administrativa veio primeiro, mas também não conseguiu impor qualquer tipo de ordenação e a orquestra seguiu desafinada.
A saúde ficou doente, a escola literalmente desmoronou, a limpeza emporcalhou e sem conseguir alcançar o aplauso da plateia, um ano e três meses depois, o Alcaide planejou uma escalada ariscada para salvar a própria pele e tratou de repassar para o “mocinho número 2” a missão de dar continuidade ao espetáculo, mas, sem levar consigo os instrumentos desafinados e ainda mantendo as cordas tensionadas e sob controle.
Após a excitação inicial e aberto o artístico embrulho, o “mocinho número 2” deparou-se com o verdadeiro presente: uma prefeitura quebrada, com débitos de cerca de R$ 8 milhões e uma folha que passou de R$ 25.828.083,29(vinte e cinco milhões, oitocentos e vinte e oito mil, oitenta e três reais e vinte e nove centavos) em 2008, para R$ 35.582.656,44 (trinta e cinco milhões, quinhentos e oitenta e dois mil, seiscentos e cinquenta e seis reais e quarenta e quatro centavos) em 2009, ou seja, um aumento de quase 10 milhões de reais em apenas um ano e três meses de mandato.
Seguiram-se então 45 dias de agonia, depois dos quais o “mocinho número 2” resolveu lançar mão da ferramenta da moda: o segundo decreto.
Na saúde, musa das campanhas eleitorais, onde no ano de 2009 foram gastos R$ 25.812.752,13 (vinte e cinco milhões, oitocentos e doze mil, setecentos e cinquenta e dois reais e treze centavos), sob a alegação de greve de médicos, enfermeiros e dentistas, paralisação dos programas de saúde da família, falta de medicamento e surto de dengue com mortes confirmadas, entre outras mazelas, foi decretado ESTADO DE PERIGO IMINENTE, CALAMIDADE PÚBLICA E URGÊNCIA, decreto este questionado pelo Ministério Público e nunca justificado, segundo nota publicada pelo próprio MP.
A esses fatos, somaram-se outros, mais outros e ainda mais alguns que a três dias do final triste e melancólico deste mandato, merecem um registro.
Dentre tantas mazelas deixadas pelo “bem” que tão mau administrou a cidade de Penedo nos últimos quatro anos, podemos citar a situação de abandono com o lixo espalhado pelas ruas, as praças destruídas, o prejuízo dos empresários que passaram mais de uma semana impedidos de emitir nota fiscal em suas empresas porque o município não honrou compromissos financeiros com o provedor da Nota Fiscal Eletrônica, os débitos com fornecedores que não serão quitados e dos quais ainda não se tem o montante, salários atrasados de servidores, não pagamento de décimo terceiro salário, dívida milionária com a Previdência Social e tantas outras, sem falar nos prejuízos pela falta de planejamento e de projetos, pelas obras inacabadas, pela desorganização generalizada da cidade que merecia mais respeito pela sua história e pelo seu valor nacional.
Dentre os males que essa administração de final triste e melancólico deixou como herança para o povo de Penedo, está a perda dos recursos para a reforma e ampliação do Aeroporto Freitas Melro, a falta de planejamento na concessão de espaço para a construção do novo Fórum, INSS e outras instituições na Lagoa do Oiteiro, causando um colapso na tricentenária feira de Penedo; a obra da Orla, com seus alagamentos e transtornos no período das chuvas, a desordenação dos ambulantes, a obra inconclusa do Mercado Público e a insatisfatória obra do Pavilhão da Farinha que não é e nunca foi um “antro de prostituição” como disse o “mocinho número 2” durante a campanha eleitoral, entre muitos outros..
Uma vez, em um programa de rádio, o “mocinho número 1” disse a seguinte frase: “Em nenhum lugar do mundo eu vi o bem ganhar do mal.”.
Pode até ser verdade. Mas certamente isso deve acontecer em outros mundos, outros reinos. Em Penedo, cidade que nunca teve Imperador e nunca terá, como em qualquer estória ou história contada, em qualquer batalha travada entre o bem e o mal, haverá sempre a possibilidade de A VERDADE prevalecer.
E a VERDADE agora prevalece!
E por falar em verdade, o “mocinho número 2” é a décima vítima daqueles que sonharam com uma Penedo melhor, o que comprova a teoria de que cotia ficou sem rabo de tanto fazer favor!
Mas, afinal, quem é mesmo que está mentindo?
IT IS THE END
