Saber quanto ainda resta de cobertura vegetal de caatinga e de mata atlântica no Estado para que medidas que visem a recuperação de áreas devastadas e um maior controle do desmatamento possam ser tomadas. Esses são os objetivos de um trabalho que vem sendo realizado em Alagoas através de um convênio firmado entre o governo do Estado, por meio do Instituto do Meio Ambiente (IMA), e a Petrobras.
Duas equipes — uma responsável pela caatinga e outra pela mata atlântica — estão mapeando as áreas do Estado a fim de que possam chegar a um número de cobertura vegetal desses biomas bem próximo da realidade.
Hoje, Alagoas não possui dados que apontem, com clareza e precisão, quanto ainda resta dessas espécies vegetais. Por conta disso, casos de desmatamento e devastação só se tornam conhecidos pelas autoridades competentes por meio de denúncias e flagrantes, já que não há como saber do desmatamento se não há conhecimento sequer se a área ainda possui vegetação.
“Qualquer ação que for desencadeada deverá prescindir de um diagnóstico. Hoje só temos como constatar a existência de desmatamento por denúncia ou flagrante. Nós não podemos traçar um planejamento estratégico de como agir se não temos um diagnóstico. Esse trabalho é para fazer esse diagnóstico. Nós somos isso, desse tamanho, nesse lugar. Conhecendo esses dados, nós faremos um planejamento estratégico de como trabalhar no sentido de mitigar as devastações que ainda existam e promover meios de fomentar a preservação”, destacou o presidente do IMA, Adriano Augusto de Araújo Jorge.
De acordo com ele, existe uma grande preocupação no sentido de preservar os biomas, em especial a caatinga, por ser, aparentemente, o que mais sofre com a devastação no Estado. Segundo Adriano Augusto, por ser uma vegetação oriunda da região do Sertão, onde as condições de vida são naturalmente mais difíceis, o ecossistema está sendo destruído e a vegetação sendo transformada em carvão para fins comerciais.
“A caatinga está dizimada, completamente dizimada por conta da falta de oportunidade de renda para o sertanejo. Eles cortam as espécies para fazer carvão e vender. Se continuar do jeito que está, em breve nós não teremos mais a caatinga, vai restar somente a capoeira. Esse mapeamento vai revelar esse número bem próximo da nossa realidade”, destacou o presidente do Instituto.
O convênio entre a Petrobras e o IMA propiciou a aquisição de três caminhonetes, GPS, computador e máquina fotográfica, além da contratação das duas equipes de profissionais que estão indo a campo fazer a verificação da cobertura vegetal in loco — tudo isso financiado pela Petrobras. Pelo convênio, o Instituto entrou com a contrapartida científica e está com técnicos engajados no projeto.
De acordo com o biólogo Iremar Accioly — responsável pela equipe que está mapeando a cobertura vegetal de mata atlântica —, cerca de 50% do trabalho de constatação da existência da vegetação in loco já foi concluída. Segundo ele, estima-se que dos 100% de mata atlântica que existia em Alagoas, restam aproximadamente 9%.
“91% da mata do Estado praticamente desapareceu. Nós conseguimos imagens de satélite de praticamente 100% do que aparentemente ainda resta de mata atlântica e estamos indo fazer a verificação em campo porque as imagens não são muito recentes e o que existe lá já pode ter desaparecido”, destacou Iremar. A região que vem sendo mapeada pelo grupo da mata atlântica abrange 52 municípios alagoanos.
Já o geógrafo José Santino, responsável pelo mapeamento do bioma da caatinga, conta que a falta de imagens tem dificultado os trabalhos realizados pela equipe. Dos 50 municípios que devem ser mapeados pelo grupo, somente três foram concluídos até agora — Mata Grande, Água Branca e Delmiro Gouveia. Apesar de os trabalhos não terem sido fechados, o professor já confirma que o desmatamento da caatinga continua intenso.
“Eles cortam a vegetação para fazer carvão. Nós chegamos a ver as pessoas desmatando enquanto trabalhávamos nesse projeto”, conta o professor, que é autor de um atlas publicado em 2007.
Em 2007, restava apenas 10,15% da área original de caatinga
De acordo com a obra, Alagoas possuía, originalmente, uma área total de caatinga de 12.593,59 km², dos quais restavam apenas 1.277,91 km² em 2007 — o correspondente a 10,15%. Já de floresta, Alagoas tinha uma área total de 12.495 km², dos quais restavam somente 802,80 km² em 2007, o equivalente a 6,4%. Os números, frutos de um trabalho realizado pelo geógrafo, já devem estar bem diferentes. Essas informações devem ser confirmadas pelo trabalho das equipes.
De acordo com o presidente do IMA, a expectativa é de que o resultado final do trabalho de mapeamento da caatinga e da mata atlântica em Alagoas — um livro e um CD Rom — esteja pronto até o final de 2010.
Além dos locais onde poderão ser encontradas as espécies de vegetação, o material vai contemplar também questões como estado de conservação e a flora existente. “Queremos que o material seja utilizado didaticamente para os mais diversos grupos”, destacou Iremar.
Mangue — Trabalho semelhante ao que vem sendo feito com os biomas da caatinga e mata atlântica já foi realizado com o mangue. O material aponta o diagnóstico do ecossistema em Alagoas e tem servido de referência para a realização de trabalhos científicos e para que sejam localizadas espécies fundamentais para o desenvolvimento de outras atividades.
Como exemplo, tem-se a própolis vermelha — produto que tem despertado o interesse até de estrangeiros. “Recentemente se descobriu que é em uma espécie de mangue que essa própolis pode ser encontrada. É um dado importante sob o ponto de vista científico”, destaca Adriano Augusto.
Conhecendo os locais que foram alvos de devastação por parte de grandes empresas, por exemplo, o Instituto do Meio Ambiente vai poder cobrar ações efetivas de recuperação. “A Chesf teve que cortar uma faixa importante de caatinga de Paulo Afonso até aqui. Isso é um fato que está constituído e a gente precisa identificar isso para cobrar. Mas não é cobrar dinheiro. Se foram devastados 50 hectares de caatinga, por exemplo, nós vamos encontrar uma área para que essa mesma quantidade seja replantada e para que o local se transforme em uma unidade de conservação. No fundo, será uma recuperação do dano ambiental já efetivamente constituído”, afirmou.
Usinas — Mas os trabalhos visando a recuperação e preservação de espécies vegetais do Estado não se resumem ao convênio firmado com a Petrobras. Cerca de 20 usinas de cana-de-açúcar já se comprometeram a recuperar parte da mata ciliar destruída. O prazo para recuperação da vegetação é de 10 anos. Ao final desse tempo, estima-se que cerca de 5 mil hectares — dos cerca de 7 mil degradados — serão recuperados. “É um número importante muito expressivo e um ganho ambiental sem precedentes”, ressalta o presidente do IMA.
O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado há pouco mais de um ano entre o IMA, o Ministério Público Estadual (MPE) e o Sindicato dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas (Sindaçúcar). Por meio dele, os principais corpos d’água das terras das usinas devem ser repovoados com espécies nativas. Além do ganho ambiental, o TAC também possui um cunho social. Depois que as áreas forem repovoadas, famílias de baixa renda que moram no entorno do local ficarão responsáveis por tomar conta das mudas. Em troca, elas terão os espaçamentos entre essas mudas para desenvolver culturas de pequenos cursos — milho, amendoim e feijão.
“Vai ser importante que essas famílias cuidem das mudas porque não adianta plantar e abandonar. Até determinado tempo de maturação da vegetação, essas famílias vão estar inseridas nesse projeto. Além de estarmos recuperando as áreas, vamos criar uma alternativa de emprego e renda para as comunidades mais pobres que moram nessa circunvizinhança”, disse o presidente do IMA.
Ainda segundo ele, somente 10% dos usineiros que assinaram o TAC não cumpriram a primeira etapa do projeto de recuperação das matas ciliares. Segundo Adriano Augusto, quem não apresentou os projetos requisitados nessa primeira etapa, deverá fazê-lo sob o rigor da lei.