Com as cortinas abertas ao público depois de passar por uma grande reforma, a maior casa de espetáculos de Alagoas completa, no próximo dia 15 de novembro, 100 anos. E ninguém melhor que os artistas que sobem ou subiram ao palco e as pessoas que trabalham diretamente com a cultura no Estado para falar sobre a importância do aniversário e da reabertura do Teatro Deodoro, que fez e faz parte da vida de muitos alagoanos.
A atriz, cantora e escritora alagoana Anilda Leão teve sua carreira alavancada dentro do Teatro Deodoro. Foi lá que ela pisou, pela primeira vez – ainda como espectadora – em uma casa de espetáculos, e de lá não mais saiu. “Meu pai me levou ao teatro pela primeira vez aos 13 anos para assistir a uma peça com Bibi e Procópio Ferreira”, relembra.
Como atriz, Anilda Leão estreou no Deodoro com a peça Bossa Nordeste, de Ariano Suassuna. E é dessa estreia, ocorrida na década de 70, que ela fala com mais carinho, relembrando que na ocasião foi eleita a atriz revelação por uma comissão de jurados. “O próprio Ariano Suassuna veio assistir à peça. Eu me fiz artista lá dentro do Teatro Deodoro”, conta.
Reaberto no último dia 16 de setembro, o Deodoro está de volta, com toda a sua força e imponência, após uma reforma executada com recursos próprios do governo de Alagoas. Um investimento de R$ 2,5 milhões. Para comemorar o aniversário, o suntuoso palco vai celebrar a data com o tema “Teatro Deodoro – 100 anos de arte” e uma programação especial, que foi cuidadosamente preparada para comemorar um aniversário tão importante para todos os alagoanos.
“Celebrar essa data é um compromisso com a arte, com os artistas e, naturalmente, com toda a comunidade alagoana”, ressalta o diretor Artístico do Teatro Deodoro, Alexandre Holanda, destacando que a programação de aniversário acontece de 15 a 20 de novembro.
“A entrega do Deodoro mostra como o governo de Alagoas encara a cultura com seriedade e zelo”, diz o diretor-presidente da Diretoria de Teatro de Alagoas (Diteal), Juarez Gomes de Barros.
Para o presidente da Associação Teatral de Alagoas (ATA), Ronaldo de Andrade, o Teatro Deodoro é mais que uma casa de espetáculos, é um símbolo da cultura alagoana, que exige mais empenho da parte dos artistas que lá se apresentam e que também oferece mais recursos capazes de dar mais brilho aos espetáculos.
“O Teatro Deodoro transcende a ideia de casa de espetáculos para ser um símbolo da cultura artística do Estado. Para quem faz teatro, ela é a casa de espetáculo mais completa e mais bem equipada de Alagoas, se não for a única a ter recursos humanos, recursos técnicos e estrutura física adequados para as apresentações, diz Ronaldo, que é um dos autores do livro comemorativo aos 100 anos do Deodoro, que será lançado no próximo dia 15 de novembro”.
Ele destaca o esforço dos artistas locais para encher a casa durante as apresentações. “O Deodoro é também um local que exige dos grupos e companhias de teatro um empenho maior na realização do trabalho, no sentido de conseguir conquistar o preenchimento dos 600 lugares que ele tem de espectadores, o que não é fácil para o público local. Ele impõe certas condições de empenho para os artistas”, diz Ronaldo.
A dama
Pensar em teatro em Alagoas é lembrar de Linda Mascarenhas, fundadora da ATA e considerada uma mulher à frente do seu tempo, a dama do teatro alagoano. Segundo Homero Cavalcante, vice-presidente da Associação Teatral das Alagoas, o título de “dama” não é por acaso, tendo em vista que Linda Mascarenhas trouxe para o Estado espetáculos e artistas consagrados que se apresentaram no palco do Deodoro e que hoje fazem parte de momentos históricos do teatro.
“Com a liderança que possuía e o conhecimento que detinha junto ao mundo artístico nacional, Linda trouxe a Alagoas espetáculos, peças, autores e atores de renome, que se apresentavam na casa-mãe da cultura de Alagoas, o nosso Teatro Deodoro”, relembra Homero, que teve o prazer de conviver com a dama do teatro, falecida em 9 de junho de 1991.
No último mês de outubro, a ATA completou 55 anos de história e para comemorar a data, nada melhor que o palco do Teatro Deodoro. “A comemoração dos 55 anos do grupo criado por Linda Mascarenhas foi marcada pela apresentação dos espetáculos A Troca e O Patinho Feio, musical infantil de Lauro Gomes, em cuja montagem estão aplicados os fundamentos do teatro amador”, conta Homero.
A reforma do Deodoro buscou deixar o teatro com as cores e características originais da época em que foi inaugurado – em 1910. A obra contou com o acompanhamento e fiscalização de órgãos respeitados, como o Pró-Memória, ligado à Secretaria de Estado da Cultura (Secult), e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Durante a restauração, uma das etapas ganhou atenção especial no contexto da obra: o resgate das cores originais. Para esse trabalho minucioso, a equipe da Diteal, auxiliada pelo Pró-Memória e pelo Iphan, foi buscar na Bahia um especialista no assunto, que identificou pelo menos sete camadas de tinta provenientes de 12 reformas realizadas anteriormente. A responsabilidade do trabalho ficou por conta de Mário Swenson, que tem trabalhos realizados em várias partes do Brasil.
Paralelo à recuperação detalhada da parte referente ao espetáculo e de toda sua estrutura – como os cenários e instalações – a sociedade alagoana recebeu ainda a restauração total de outra jóia rara do complexo cultural – o Salão Nobre do teatro.
Confira a programação de aniversário do Teatro Deodoro
Segundo Alexandre Holanda, a semana dedicada aos 100 anos do Teatro Deodoro será aberta com a exposição “Gajuru 15 anos” de 15 a 21 de novembro. Também no dia 15, ocorre a estréia da peça “Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar”, às 20h.
Ainda no dia 15, no pátio externo, ocorre uma apresentação musical com a Power Jazz, às 22h, e lançamento do livro “Teatro Deodoro – 100 Anos de Arte”, com coquetel em seguida.
Já no dia 16, a atração será “Reverência ao Deodoro” (dança), às 20h, com o espetáculo dividido em quatro momentos distintos entre as bailarinas Eliana Cavalcante, Emília Vasconcelos, Emília Clarck e Jeane Rocha.
No dia seguinte, 17, é a vez da peça infantil “O Patinho Feio”, às 17h, que contará, entre os espectadores, com a presença de alunos da rede pública de ensino, que serão levados pelo Estado para conhecer a maior casa de espetáculos de Alagoas. No dia 18, a apresentação fica por conta do concerto de piano com o pernambucano Levy Guedes, às 20h.
A entrega da Comenda “Zumbi dos Palmares” acontece no dia 19, além da apresentação do espetáculo afro “Oní Xé a Awuré”, às 20h. Encerrando as comemorações, o Teatro Deodoro será palco, no dia 20 de novembro, do espetáculo “Lua Cambará”, às 20h, com o grupo Ária Social, de Pernambuco.
