A voz de felicidade do garoto alagoano José Sérgio Guedes da Silva, 10 anos, o Serginho, já anunciava o desfecho feliz da história. “Vou voltar amanhã para pescar no riacho”, falou em tom de alegria logo após o término da audiência que decidiu que a guarda dele voltaria para os pais. Ocorrida na tarde desta segunda-feira, no Fórum de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, a audiência era ponto fundamental para que Serginho pudesse voltar para Alagoas. Antes da decisão, mesmo tendo reencontrado os pais, o menino permaneceu no abrigo onde estava morando desde o final do ano passado.
Agora sim, ele terá sua vida de volta e nesta segunda-feira irá dormir com os pais pela primeira vez, desde o reencontro, na última sexta-feira. O grande desejo de Serginho, que é voltar para casa, em União dos Palmares, vai ser realizado nesta terça-feira. A comitiva que saiu de Alagoas para ir ao encontro do menino sai de Campos dos Goytacazes às 7h, com a pretensão de pegar o voo das 13h e previsão de chegada em Maceió por volta das 16h.
A secretária de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Wedna Miranda, acompanhou todo o desfecho da história, participou da audiência desta segunda-feira e destacou o empenho do juiz Heitor Campinho, da promotora Anik Rebelo e do defensor Tiago Fonseca no sentido de fazer com que Serginho voltasse para Alagoas o mais rápido possível.
“Houve uma sensibilidade muito grande do pessoal do fórum, que trabalhou para agilizar tudo para que Serginho pudesse voltar o mais rápido possível para casa. Nós estávamos vivenciando uma angústia muito grande porque desde que houve o reencontro, ele não queria mais ficar e nem dormir no abrigo. Queria ficar com os pais, mas isso ainda não era possível”, afirmou Wedna Miranda.
O desfecho feliz da história do sequestro de Serginho, que havia desaparecido há dois anos da cidade de União dos Palmares e foi encontrado na semana passada na cidade de Campos de Goytacazes, deve-se ao trabalho da imprensa e ao esforço concentrado do serviço de inteligência da Polícia Civil de Alagoas, em conjunto com as polícias de Pernambuco e do Rio de Janeiro.
Essa é a opinião das autoridades e profissionais envolvidos no caso que mobilizou o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, a Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos e os profissionais do abrigo Minha Cidade, Meu Amor, situado em Campos, onde Serginho aguardava com ansiedade pelo reencontro com a família.
O trabalho foi coordenado desde o início pelo delegado da Regional de União dos Palmares, Cícero Lima, e contou ainda com o apoio da delegada que cuida da questão da Criança e do Adolescente, Bárbara Arraes.
“No momento em que fomos autorizados pelo Ministerío Público a colocar na imprensa e na internet a foto do Serginho, com pouco mais de duas horas tivemos o feedback positivo de uma vizinha dos pais, que reconheceu o garoto. A imprensa foi fundamental”, avalia a delegada Bárbara Arraes.
O caso foi e está sendo acompanhado de perto por uma comissão de deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional que cuida de casos de crianças desaparecidas, como o do garoto alagoano.
“Os dados levantados sobre o sequestrador pela Polícia Civil alagoana, em parceria com a inspetoria da Polícia Cilvil em Campos e mais a agilidade do Conselho Estadual da Criança em Alagoas , culminando com a foto do acusado na internet, foram pontos-chaves para se chegar ao desfecho”, relatou a assistente social Cinthia Paes Guimarães, assistente social que atua no Abrigo e que acompanhou Serginho desde dezembro do ano passado, quando o garoto chegou ao abrigo.
“Nas abordagens, ele falava que era de Alagoas, em um lugar onde tem um rio e uma praça de motoqueiros. Daí entramos em contato com o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente de Alagoas e em 10 dias conseguimos resolver o caso “, completa Cinthia.
O contato imediato do abrigo foi com a conselheira Estadual da Criança e do Adolescente, Nelma Nunes, que acionou a Secretaria de Estado da Mulher, Cidadania e dos Direitos Humanos, e divulgou a notícia do aparecimento e fotos do garoto nos veículos de comunicação.
De acordo com Nelma, a família do menino soube do aparecimento de Serginho através de uma vizinha, que viu sua foto publicada em um sites de notícias de Maceió. “A vizinha do menino reconheceu o Serginho, que vendia tapioca, e comunicou ao pai'”, confirmou Nelma.
A secretária Wedna Miranda destacou que a rede de proteção em torno do caso de Serginho foi fundamental para o desfecho feliz. “Esse foi inclusive um dos pontos que os deputados da CPI presentes ao caso elogiaram, desde a participação da imprensa, o bom trabalho desempenhado pela polícia ao interesse do governo, que não mediu esforços para bancar a viagem dos pais de Serginho”, destacou Wedna.
O caso — Segundo o delegado Cícero Lima, tudo começou no dia 28 de dezembro de 2009, quando o menino Victor Hugo, 8 anos, foi levado por Luiz Henrique de Messias, que se passava por Erlimar Souza da Silva, e teve sua identidade revelada pelo serviço de inteligência da Polícia Civil. “Monitoramos o caso com a polícia de Pernambuco, uma vez que havia informações de que o sequestrador teria passado por Caruaru”, disse o delegado.
“Quando surgiu a informação de que o acusado havia sido preso, confirmamos todas as características com a polícia do Rio de Janeiro, com os dados levantados sobre o caso e tudo bateu, inclusive a identidade falsa”, confirmou Lima, responsável pelo início das diligências em 2008.
O sequestrador Luiz Henrique foi encontrado na cidade de Campos, no Rio de Janeiro. Ele ainda tentou fugir, quando houve uma perseguição da polícia, e foi detido na rodoviária de Campos. Ele se encontra na Cadeia Pública Dalton de Castro, em Campos , e vai aguardar julgamento. Segundo informações, o sequestrador diz não saber onde mora e que tem uma idade entre 40 e 49 anos.
“Mas já descobrimos que o sequestador é alagoano e tem parentes que trabalham no Corpo de Bombeiros. Vamos aguardar o garoto chegar para interrogá-lo e saber se sofreu algum tipo de violência. Quanto ao acusado, estamos enviando uma carta precatória à polícia do Rio de Janeiro para interrogá-lo”, completou o delegado.