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Será possível salvar o Brasil?

Zé Alves, ex-vice, ex-prefeito e ex-aliado de Márcio Beltrão

Será que este país é um caso perdido e que há muito acenou um adeusa a toda esperança? Será que perdido na mais negra escuridão de um labirinto é incapaz de nutrir o otimismo de alcançar a plena claridade? Será que irá padecer o eterno castigo dos desmandos? Se tudo muda, por que não há de mudar o Brasil? Será que está tudo perdido, perdida toda esperança que dá sentido a vida? Assim dialogava consigo próprio Sísifo, o mais otimistas dos homens, inquieto e agastado com o panorama nacional, conturbado a acenar, mais uma vez, com um futuro incerto. Apesar dos vícios centenários entranhados em sua gênese, essa velha tara pode ser combatida e sensivelmente atenuada. Recusava-se a render-se apesar das pesadas e escuras nuvens que prenunciavam o caos, não iria trilhar o caminho do pessimismo, aceitar a derrota sem luta.

O sonho e o sonhador formam o amálgama de uma das mais simpáticas personalidades. Poucas coisas emanadas do cérebro são tão perturbadora quanto às manifestações radicais dos sonhos que vão do extravagante, do cômico e absurdo, às geniais criações artísticas, literária e de terem a paternidade de revolucionarias descobertas cientificas. A solução do problema que o cientista não encontrou em sua labuta diurna, surge na suavidade do sonho. É bem verdade que os sonhos, na sua grande maioria, resultam das impressões que recebemos durante o dia, sendo a sua multiforma representação de responsabilidade do inconsciente do sonhador.

Dentro dessa realidade onírica, devemos ressaltar que o Sísifo é um viciado em noticiário. Atualmente bombardeado, como todos nós, na longa investigação lava-jato, certamente a maior lavagem da sagrada igreja da corrupção envolvendo os mais altos dignitários do clero, talvez um Papa, uma Papisa, cardeais da câmara e do senado em conluio com as maiores empreiteiras, ficava, no entanto, na expectativa de noticias alvissareiras. Não surgiram. Essa frustração foi engendrando em seu inconsciente uma saída para o Brasil.

 Há poucos dias foi dormir sem nenhum problema capaz de perturbar seu repouso. Na paz do sono dos justos seu cérebro trabalhava a mil para redimir os pecados do nosso país. Eis que é surpreendido com o mais original dos sonhos. Encontrava-se sentado em um sofá, absorto em seus pensamentos. Inesperadamente, como num passe de mágica, aparece-lhe em sua frente a figura de um velhinho, olhar zombeteiro e leve sorriso nos lábios, começa a falar. Sei perfeitamente em que você está pensando. Não passa de um coitado sofredor pintado com as cores do exagerado otimismo. Pelas vias normais, seu País não tem salvação. É um caso perdido. Perca toda esperança. Seus país, pelas vias normais, não tem salvação. Resta-lhe apenas o caminho do impossível. Terá de renunciar o direito à autodeterminação.

Providenciará em seguida a importação de mercadoria de primeira grandeza, homens de vergonha e retidão, oriundos de países de belas instituições. Assumiriam funções nos três poderes, a mais bichada das trindades que conheço. Isso não significa que o seu Brasil padece de uma forma absoluta de homens virtuosos. Seria um tremendo exagero. Sabe você que a política desponta como a principal responsável pela péssima imagem no conceito internacional. Seus políticos, ressalvadas as exceções, assemelham-se a uma matilha de lobos esfaimados que levam impressa na testa a letra escarlate da dissolução moral. E o que dizer dos que administram a coisa pública em geral? Rezam no mesmo catecismo. Tudo isso mostra claramente, jovem atormentado, que seu país moralmente enfermo, sem condições de reger seu destino, só existe um caminho: ser submetido á interdição e à curatela. Acontece que imaginando um país que pudesse vir a exercer esse doloroso encargo, mesmo que altamente renumerado, pergunto-me: será que algum teria coragem de se habilitar?

Deixando de lado a interdição, quero afiançar-lhe, com absoluta convicção que a causa principal de toda miséria de seu país está na ausência de uma boa educação doméstica, em grande parte displicente, frouxa e permissiva. Se um dia vier a tê-lá, empregando meios para esse fim, o Brasil passará a ser um país sério. E isso é possível.

Risonho, Sísifo despertou do mais curioso e claro dos sonhos, incrivelmente a confundir-se com o real. Infantil e absurdo? Pouco importa. A extravagancia faz parte de seus caprichos. Voltando à razão, começou a pensar e chegou à conclusão que os Países, como as pessoas, não podem ser contemplados com todas as desejáveis benesses. O Brasil, belo e atraente na sua gigantesca estatura, quis a maldade do destino, para contrapor a essa grandeza, implantar em sua personalidade toda a degradação moral. Será possível extirpa-la? Será possível descartar a educação, milagrosa empreitada para regenerá-lo? Não vejo outra alternativa capaz de alterar o DNA do Brasil, estigmatizado pela crônica maldição da corrupção.