A expectativa é que o julgamento mais esperado do País termine até a madrugada de sábado, com a leitura da decisão dos sete jurados que fazem parte do conselho de sentença. Se for condenado, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pode pegar mais de 30 anos de prisão – o pai de Isabella está sujeito a uma pena maior do que a madrasta, por ter cometido um crime contra um descendente.
Depois de todos os depoimentos, das leituras das peças e da fase de debates, o conselho de sentença vai reunir-se para votar os quesitos e determinar o veredicto – absolvição ou condenação. Na sequência, o juiz Maurício Fossen lerá a decisão dos jurados em plenário e, em caso de condenação, estabelecerá a pena.
O casal Nardoni é acusado de homicídio doloso (quando há intenção de matar) com três qualificadoras, que podem agravar a pena final. São elas: meio cruel (asfixia); recurso que impossibilitou a defesa da vítima (jogá-la inconsciente pela janela); e assegurar impunidade de outro crime (o casal teria jogado a menina para ficar impune do que havia feito no apartamento).
Quarto dia
Alexandre Nardoni, que permaneceu quieto durante os dias de julgamento, mexendo nos óculos, pondo o dedo na boca e ouvindo atentamente as testemunhas que o acusaram de matar a filha Isabella, de 5 anos, foi interrogado ontem durante cinco horas. “Aquilo para mim foi o pior dia, perdi o que tinha de mais valioso na minha vida”, afirmou o réu.
Logo que começou a ser ouvido, às 10h45, Nardoni fez um pedido ao juiz: queria virar a cadeira para depor olhando os jurados. O pai da menina atirada pela janela em março de 2008 começou o relato afirmando que a denúncia da promotoria era “falsa”. O acusado descreveu o que se passou na noite do crime. Depois, chorou ao dizer que perdeu a coisa mais preciosa de sua vida. “Eu, que briguei tanto para ela (Isabella) nascer, briguei com minha sogra, que queria que a Ana Carolina (Oliveira, a mãe da menina) abortasse”, afirmou.
Em seguida, o pai chorou ao contar quando recebeu a notícia da morte da menina e, pela última vez, ao descrever a menina no necrotério. Passou então a acusar os policiais que investigaram o caso de tentar obrigá-lo a confessar. Afirmou ter sido agredido no 9.º Distrito Policial (DP) e disse que o pai, o advogado Antônio Nardoni, foi vigiado por dois anos.
Ao meio-dia, começou o confronto entre o réu e o promotor Francisco José Cembranelli. O acusado passou a responder de forma monossilábica e nervoso. Chegou a ser repreendido pelo juiz Maurício Fossen. Numa dezena de perguntas, Cembranelli ouviu como resposta a frase “não me recordo”. Antes de acabar de depor, às 16h20, o pai reafirmou: “Não matei. Jamais fiz isso”.
Contradição
A madrasta da menina Isabella, Anna Carolina Jatobá, contradisse o marido em dois pontos durante o interrogatório. A exemplo de Alexandre Nardoni, ela nem esperou o juiz Maurício Fossen ler as acusações para explodir em prantos: “Não excelência, isso é totalmente falso.”
O segundo interrogatório, que fechou o quarto dia de julgamento, começou às 16h30. Atendendo um pedido do juiz, Anna Jatobá passou a relatar o que ocorrera na noite do crime. Foi nesse momento em que Anna Jatobá contradisse o marido. Alexandre passou ou não a cabeça pelo buraco da tela cortada? Ao depor, o pai disse que não e afirmou que carregava o filho Pietro no colo. A mulher, porém, disse que viu o marido passar a cabeça pela tela com o filho no colo.
Em outro ponto de seu depoimento, ela voltou a contradizer o marido. Afirmou que viu quando Alexandre tirou a chave do bolso para abrir a porta do apartamento, quando eles chegaram com os filhos Pietro e Cauã no colo. Horas antes, seu marido havia dito aos jurados que só havia fechado a porta com o trinco.