Neste mês de junho o mundo inteiro se reúne em torno da magia do futebol, com milhões de pessoas envolvidas, de uma forma ou de outra, no evento. Aqui no Brasil, além da alegria da Copa da África, vive-se o ciclo das festas juninas, motivo da mais genuína alegria do povo nordestino. Apesar das festas juninas e do brilho do mundial de futebol, nuvens negras andaram fazendo estragos em Alagoas e Pernambuco, deixando um rastro de destruição, dor e desespero para milhares de pessoas, principalmente dos pobres que moram nas regiões ribeirinhas dos rios Paraíba do Meio, Mundaú, Ipojuca e Una.
Tentando explicar a identidade brasileira, o alagoano Sérgio Buarque de Holanda, autor do clássico “Raízes do Brasil”, enfatiza que o brasileiro, herdeiro das tradições portuguesas, é um povo avesso a projetos de longo prazo e cuja sociabilidade é vista, praticamente, nas festas e comemorações. Apesar da obra ter sido escrita há mais de setenta anos continua a dialogar com os acontecimentos do Brasil de hoje neste particular.
De quatro em quatro anos, o país se prepara para a Copa do Mundo, assim, como todos os anos, o carnaval embala o país de norte a sul e o São João arrasta todos os nordestinos. Mas, como o mundo não é feito somente de futebol e festas, de vez em quando eclode uma catástrofe numa região do país. Fenômenos naturais vem provocado grandes problemas para a humanidade nos últimos cinco anos e a precipitação exagerada de chuvas tem resultado em tragédias previsíveis no Sudeste e no Nordeste brasileiro.
A cada episódio destes vemos o povo, de forma desorganizada, se solidarizar com os atingidos pelas calamidades, mas, assim que o fato deixa de ser noticia na televisão, as pessoas vão se desligando dos desafortunados e, de maneira quase natural, as coisas se acomodam de forma precária.
O caráter do brasileiro, sempre imediatista e a impaciência dos governos com os projetos de longo prazo, agravam os problemas causados pelo excesso de chuva e outros fenômenos naturais.
Qual das nossas cidades, pergunto-lhes, possui uma defesa civil relativamente organizada e pronta para agir em situações de emergência? Desde que começaram as chuvas, acaso houvesse um mínimo de organização civil nas cidades ribeirinhas do Mundaú, Paraíba do Meio, Ipojuca e Una, o prejuízo poderia ter sido infinitamente menor.
Alguém, algum órgão ou autoridade pública se deu ao trabalho de, passado dois dias de chuva nas cabeceiras desses rios de alertar a população dos possíveis efeitos das enchentes? Não, ninguém fez isto, nem em Alagoas e nem em Pernambuco e não fará na Bahia ou no Ceará, acaso no próximo ano, haja alguma coisa parecida.
Faz tempo que estamos pisando na bola. Daqui há trinta dias a imprensa terá deixado de contabilizar vítimas e destacar a tragédia e os desorganizados voluntários já terão se cansado de ajudar. Assim, continuamos pisando na jabulani, isto é, deixando de fazer a coisa certa e tomando atalhos que nos custam caro e comprometem o futuro.
Que tal organizar um sistema de defesa civil e de monitoramento dos rios de nossa região, senão em cada cidade, mas, pelo menos, de forma regional? Ou, então, continuemos a rezar e orar.