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Esporte

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol marca início de novo momento no esporte

Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol

O futebol brasileiro viveu um dia histórico nesta quarta-feira (24). Na sede da entidade, no Rio de Janeiro (RJ), a CBF realizou a primeira edição do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, evento inédito para fomentar o debate e marcar um novo momento na batalha contra o preconceito no futebol brasileiro.

O Seminário foi aberto por Gilberto Gil, convidado de honra da CBF. Lenda da música brasileira, fã de futebol e uma das principais lideranças da cultura negra no país, o baiano citou o “dever cívico” que o esporte tem na luta contra o racismo e na transformação da sociedade.

“(Saúdo) A todos que estão aqui presentes para se unirem a essa iniciativa extraordinária e necessária. É um dever cívico. As tarefas que nos trazem aqui são mais do que conhecidas. As grandes diferenças que temos hoje no aspecto mundial em relação aos temais raciais, sociais… O que nos traz aqui é exatamente esse compromisso”, afirmou Gilberto.

O cantor foi seguido por Ednaldo Rodrigues, Presidente da CBF e idealizador do evento. Primeiro negro a ocupar o cargo mais alto na gestão do futebol brasileiro, Ednaldo reforçou que o intuito do Seminário é mostrar que não há espaço para o racismo no futebol e na sociedade.

“Fiz questão de realizar esse evento aqui na sede da CBF para mostrar ao mundo do futebol e aos preconceituosos que ainda frequentam os estádios do país e do mundo que estamos lutando para bani-los. Sabemos que a realidade é dura. Mas estamos aqui para mudar”, disse o Presidente da CBF.

O dirigente apresentou uma ideia que pretende levar adiante: a punição desportiva pelos casos de racismo. Ednaldo Rodrigues afirmou que levará ao próximo Conselho Técnico do Brasileirão Assaí, em 2023, a proposta de perda de pontos por episódios de racismo durante a disputa do campeonato.

“Acredito que somente com a pena desportiva sendo imposta diretamente ao clube o racismo e o preconceito deixarão o futebol. Não há mais espaço para racista no século XXI”, explicou.

A abertura do evento também contou com a participação do Presidente da CONMEBOL, Alejandro Domínguez, e do Presidente da FIFA, Gianni Infantino. Domínguez esteve presente no evento, no Rio de Janeiro, e fez um breve discurso sobre a importância de ter CBF e CONMEBOL lado a lado na luta contra o preconceito. Infantino, por sua vez, não pôde comparecer, mas enviou mensagem por vídeo para reforçar o apoio institucional da FIFA ao evento e à iniciativa da CBF de ter ações mais concretas contra o racismo.

“O fato deste seminário estar acontecendo é um sinal encorajador. Da mesma maneira, aplaudo a decisão de trazer palestrantes da Europa e também do Brasil, para que se possa aprender com as experiências de outras regiões do mundo. A CONMEBOL agiu corretamente ao introduzir multas mais severas. Mas agora devemos procurar soluções mais abrangentes. E a FIFA está aqui para oferecer todo seu apoio”, declarou Gianni Infantino.

A abertura institucional do evento seguiu com as participações do Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, e com o Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. O parlamentar teve destacado, por Ednaldo Rodrigues, seu papel na representação legislativa da luta antirracista. Medalhista de ouro no Futebol de 5 nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, Mizael pontuou o papel que a CBF desempenha ao realizar um evento como o Seminário.

“A CBF dá um passo importante ao demonstrar que compreende a importância desse tema para a nossa sociedade, demonstrando que não está alheia ao que os jovens sofrem diariamente nas ruas”, afirmou.

Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol

Após a apresentação da abertura do Seminário, Marcelo Carvalho e Onã Rudá subiram ao palco do auditório da CBF, para demonstrar os números do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2021. A pesquisa, organizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, aponta que o registro de casos de racismo em 2022 já igualou a quantidade acumulada em todo o ano de 2021.

“A partir do momento que se traz um relatório com aumento de casos de racismo, você está reconhecendo que existe o problema, o que é uma questão sempre muito delicada. Reconhecer que existe o problema é o que sempre pensei ser a maior dificuldade para avançarmos. Quando a CBF leva para dentro da sua casa a decisão de ‘vamos mostrar que o problema existe e como ele existe’, a gente está dando um passo muito grande”, disse Marcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

sta é a oitava edição do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol e, pela primeira vez, a pesquisa recebeu apoio institucional da CBF, que colaborou financeira e logisticamente. A entidade irá auxiliar a realização do relatório pelos próximos quatro anos.

“O relatório anual evidencia com clareza o tamanho do problema que enfrentamos e sua publicação periódica permitirá demonstrar os resultados das nossas ações”, atestou o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.