O ser humano a cada dia se torna um animal solitário. Essa solidão pode ter como causa vários fatores: desilusão, decepção, exclusão por parte da família, do meio social, das relações de amizades, a perda da autoestima, a descrença em si mesmo e a falta de fé – aquela força invisível que nos faz conquistar sonhos e vencer as dificuldades.
Olho nos semblantes das pessoas e não as vejo felizes, mas sim, carrancudas, sérias, testa franzida, caminhando apressadas, às vezes, sem necessidade, como a querer fugir de um diálogo de uma abordagem, da realidade da vida.
A solidão aniquila os sonhos e passa a ser parceira dos pensamentos maléficos que ajuda a puxar para baixo a pessoa que se deixa vitimar por eles. O ser humano é um ser social, necessita dessa convivência com os outros para alimentar as suas necessidades, partilhar ideias, aprender a conquistar os espaços e, por consequência ser feliz ou pelo menos, buscar a felicidade. Mas, apesar dessa necessidade intrínseca, o ser humano insiste, inconscientemente, em edificar um muro invisível que o separa dos outros como a querer proteger-se dos seus temores, dos seus medos.
Essa prática vem se arraigando ao ponto de, nas grandes cidades, os vizinhos não se conhecerem apesar de residirem em apartamentos ou casas vizinhas. Cruzam os degraus das escadarias e não se cumprimentam nem ao menos esboçam um sorriso ou um gesto de amizade.
Ainda há tempo para refletirmos sobre essas atitudes que tem afastado as possibilidades de um bom relacionamento, de formação de uma boa amizade. Sejamos pontes e não muros. Muros separam, segregam, ofuscam. Pontes ligam , aproximam, unem. Através da ponte poderemos enxergar o outro lado, transpor as barreiras, ter uma visão ampliada do horizonte que se apresentava muito limitada, muito restrita.
As pontes podem ser construídas pelo diálogo, pela disposição de servir, pelo oferecimento do ombro amigo nas horas tristes ou pela disposição de apenas ouvir. Ela também se constrói quando ajudamos aos mais necessitados, quando participamos de projetos sociais , quando nos vemos como irmãos, independentemente da condição social ou econômica, da cor da pele, do cargo que ocupe, da fé que professe e da religião que comungue.
Mas, não poderemos ser pontes, se dentro de nós mesmos existirem muros que nos impeçam de vê o exterior, edificado com os tijolos da inveja, da intriga, das más lembranças, do ódio, da angústia, da desconfiança, do desamor. Para muitos esse muro se torna intransponível pela falta de sonhos e de esperança e até mesmo da curiosidade de saber o que se passa além dele, preferindo ver apenas um raio de luz através de uma fresta, sem se interessar em ver o brilho do sol, ou, temendo ser ofuscado por ele.
O pior prisioneiro é aquele que se vê aprisionado por sua própria vontade sem se esforçar para se livrar dos grilhões que o acorrenta a um passado mal vivido, a um amor não correspondido, à frustração sofrida por um sonho não realizado. Essas pessoas precisam saber que na vida os problemas acontecem quer queiramos ou não e são esses desafios que fazem a diferença entre uma pessoa e outra. Umas os enfrenta e busca uma saída, outros, se mostram fracos, incompetentes, se intimidam e sucumbem.
Todo ser humano é destinado a ser um vencedor não perdedor. Cada pessoa tem capacidade para conquistar, para buscar, para realizar, cada um dentro das suas condições. O fracasso é típico dos preguiçosos, dos que não acreditam em si próprios, dos que se acomodam. Às vezes a fraqueza humana tem uma causa embutida e, nessas condições, o não lutar não está atrelado à preguiça à falta de vontade, mas às questões psicológicas ou às doenças físicas que necessitam serem curadas. Nesses casos há necessidade da pessoa se revestir de uma força extrema para sair dessa condição. É aí que o homem ou a mulher espiritual deve superar o homem ou a mulher humana. Essas duas forças – material e espiritual – existem no interior de cada ser humano como o bem e o mal, tristeza e alegria…
O apóstolo Paulo viveu em certa ocasião um momento de tristeza muito intenso e muito sofrido onde ele diz que lhe foi dado um espinho na carne. Diz ele que por três vezes rogou ao Senhor para que o apartasse dele e, como resposta o Senhor lhe disse: “Basta-te minha graça porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”.
Após ouvir ao Senhor, o homem espiritual se manifestou e aí, o apóstolo afirmou: “Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo”. Todas as vezes que nos encontrarmos em uma situação de fraqueza, de desânimo, de esfriamento da fé, é hora de invocarmos o homem ou mulher espiritual e repetirmos como o grande apóstolo de Jesus: “quando me sinto fraco, então é que sou forte.”.
As fraquezas têm a virtude, se assim quisermos, de nos propiciar uma reflexão sobre as suas causas e, nos revestindo da couraça do homem ou mulher espiritual, vencer os obstáculos postos à nossa frente, muitas vezes por nós mesmos.
Sejamos portanto, pontes e não muros !.