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Meio Ambiente

Secretário do CBHSF alerta para riscos da privatização da transposição e cortes no orçamento: “O São Francisco não está à venda”

Secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Almacks Luiz Carneiro da Silva - Foto: assessoria

Durante o lançamento da campanha “Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico – Edição 2025”, realizado nesta terça-feira, 06, em Brasília, o Secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Almacks Luiz Carneiro da Silva, conversou com o repórter Rafael Medeiros, da Rádio Penedo FM (97,3 MHz e youtube.com/@penedofmplay), e expressou grande preocupação com dois temas críticos: os cortes no orçamento da ANA e a possível privatização de trechos e estruturas da transposição do Rio São Francisco, incluindo o Projeto Boacica, localizado no Baixo São Francisco alagoano.

Almacks não escondeu a apreensão diante de uma conjuntura que ameaça diretamente o papel dos Comitês de Bacia e a continuidade de projetos voltados à revitalização do rio. “Estamos vivendo uma situação muito grave. O povo ribeirinho sempre foi esquecido e agora corre o risco de sofrer ainda mais com os cortes de recursos que sustentam as ações do comitê. Isso compromete diretamente comunidades que sempre estiveram à margem das políticas públicas”, afirmou.

Ouça entrevista na íntegra:

O secretário também destacou que o corte de 33% nos recursos da cobrança pelo uso da água – o que representa cerca de R$ 15 milhões a menos apenas para o CBHSF – é apenas uma das frentes do que ele chamou de “política orquestrada de desconstrução” da Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997). Para ele, além do desmonte financeiro, o avanço de projetos de Parcerias Público-Privadas (PPP) sobre estruturas da transposição, como barragens e canais, representa uma ameaça ainda mais profunda. “Hoje, ninguém paga ao comitê pela água da transposição. E se privatizar, será que a empresa vai pagar? Será que vai investir na revitalização? Isso preocupa muito”, alertou.

De forma contundente, Almacks criticou a proposta de privatização da gestão de barragens no Baixo, Médio e Alto São Francisco – entre elas, a de Boacica. Segundo ele, a Casa Civil já discute esses projetos de concessão como parte de um pacote mais amplo. “Estão passando coisas tão importantes como a água para o setor financeiro. E a água não é mercadoria. A água é vida. Privatizar esse recurso é condenar milhões de brasileiros”, afirmou.

O secretário destacou ainda que os investimentos que o CBHSF vinha realizando estavam sendo fundamentais para corrigir passivos históricos nas cidades ribeirinhas. “A gente via as ações do comitê ajudando a resolver questões pendentes, como saneamento, abastecimento, esgotamento sanitário e ações de educação ambiental. Agora, com os cortes, essas iniciativas correm o risco de parar. Até mesmo as reuniões do comitê podem ser comprometidas”, lamentou.

Para Almacks, a única saída é a mobilização. Ele conclamou a sociedade civil, os povos tradicionais e originários, os pescadores e as comunidades ribeirinhas a se unirem em um só grito. “O São Francisco é nosso. O São Francisco não está à venda. Precisamos de um rio vivo, com pessoas vivas, bebendo água de qualidade, com saneamento em suas comunidades. A imprensa tem papel fundamental nesse processo, e por isso agradeço à Rádio Penedo FM por levar essa mensagem a quem mais precisa ouvi-la”, finalizou.

Apesar da gravidade da situação, ele tranquilizou que as obras em andamento terão seus recursos garantidos para conclusão. No entanto, o futuro preocupa. “A demanda por novas ações é constante, e o corte compromete nossa capacidade de planejar e executar o que ainda precisa ser feito.”

A participação da Rádio Penedo FM no evento reforça o papel da comunicação comunitária e regional no fortalecimento da luta pela preservação do Velho Chico. A campanha “Eu Viro Carranca 2025” simboliza, mais do que nunca, um chamado à resistência frente aos retrocessos que ameaçam o rio da integração nacional.