Claudionor Filho, 31, herdou do pai o dom de moldar formas
A aspereza do homem nordestino em Santana do São Francisco, pequena cidade sergipana banhada pelo Rio São Francisco, com 6.800 habitantes, não corresponde à práxis. Das olarias, surgem através das mãos de homens rudes, expressivas obras de arte, criadas com o barro retirado do leito e dos antigos arrozais das margens do rio, conhecida como cerâmica de Carrapicho.
Carrapicho ou Santana do São Francisco, tanto faz. A cidade é conhecida pelos dois nomes, localizada no Baixo São Francisco na margem sergipana do rio, é também o lugar das olarias. Quem empresta o nome à cidade é a padroeira do lugar, Nossa Senhora Santana. Carrapicho é como a cidade era chamada no tempo em que era comarca de Neópolis. O local tem um ar bucólico, de que parou no tempo. Onde carroças de burro e parelha de bois ainda dividem espaço nas ruas com automóveis.
As olarias estão presentes por toda a cidade e a negociação das peças são realizadas ali mesmo nas calçadas que servem de vitrine. Cada casa é um pequeno comércio, e quem chega pode conferir no mercado de artesanato todo o trabalho moldado com técnicas do passado que ainda usadas no presente.
O turista ainda pode acompanhar todo o processo artesanal da modelagem de silhuetas. Pois as olarias são abertas à visitação e a compras. Como é o caso da pequena olaria familiar, que fica na Rua Berlamino Gomes. Lá trabalham o pai, Claudionor, 74, e os filhos, José, 48 e Claudionor Filho, 31. Isso revela o ritual de transmissão de um ofício de pai para filho, fenômeno observado nas mais diversas manifestações culturais.
O homem cria as peças e a mulher se encarrega do acabamento final, que é a pintura. Esse é o caso de dona Carminha, 58 anos. Ela explica que o filho produz as peças de barro e ela se encarrega da pintura em sua casa, que também funciona como atelier.
O processo: da oleiro ao acabamento
A técnica de criação da cerâmica se inicia com o oleiro fabricando a peça, depois é colocada para secar ao sol por 24 horas. Em seguida, vai ao forno à lenha até atingir o ponto de cardeação, o que significa dizer: o ponto mais quente do forno, daí então, não se coloca mais lenha. Espera-se que o fogo apague por si e retiram-se as peças, quando frias, para a última etapa, que é realizada pelas mulheres, o acabamento e a pintura.
Confira
Saindo de Maceió pela AL-101 Sul, em direção à Penedo, são 160 quilômetros. Travessia da balsa entre a divisa de Alagoas-Penedo e Sergipe-Neópolis, a cidade de Santana do São Francisco fica a dois quilômetros do porto das balsas do lado direito sergipano. E saindo de Aracaju pela BR-101, são 117 quilômetros.
Para transpor o Rio São Francisco, em direção a Santana do São Francisco de automóvel é preciso desembolsar a quantia de R$ 17 para a balsa. Se preferir fazer a travessia de lancha, que dura em média 20 minutos, aproveitando a paisagem, fluindo pelas águas do Velho Chico, no transporte coletivo do ribeirinho, a passagem custa R$ 2 por pessoa.
