Com vassouras e água de cheiro, baianas de Salvador repetem desde 1773 o ritual de lavagem das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, na Bahia.
Aos 64 anos, animada, vestida de branco e orgulhosa de ter participado de todas as 64 lavagens, a dona de casa Graça Ner dizia: “ano após ano, sem falhar nenhuma, fui em todas, desde que era criança de colo”. Graça conta que nem mesmo a distância de mais de 300 Km de Salvador – ela mora em Itabuna – a impede de participar todos os anos. “Cheguei desta vez com os três netos para rever amigos e manter a tradição”, diz.
A programação começou logo cedo, às 8 horas, com um ato na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia. A partir das 9 horas, os fiéis seguiram para o Bonfim, reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Haverá ainda missa solene e muita festa até domingo. Os fiéis percorreram 8 Km em procissão, a maioria repetindo um ritual antigo: dar três voltas em torno da Basílica e fazer três pedidos, ao som de atabaque e cânticos de origem africana. “Tudo é festa, na saída reunimos os amigos e comemos sarapatel em casa”, diz Graça. Mais de meio milhão de pessoas, entre fiéis e também turistas, devem participar dos atos religiosos.
A capital do Pelourinho, do Elevador Lacerda, da Igreja do Bonfim e de tantos outros atrativos é hoje um dos principais destinos de brasileiros e estrangeiros que viajam pelo país. O Nordeste atrai 36% dos viajantes brasileiros, de acordo com estudo do Ministério do Turismo (MTur). A região também é a segunda do país que mais emite e recebe turistas.
A lavagem da Igreja teve início no século XVIII, quando os escravos foram obrigados a lavar a igreja, como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim.
