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Sabedoria em conflito

Sempre ouvimos falar, principalmente dos estudiosos, que a humanidade de tempos em tempos sofre mudanças em razão de determinados fatos que podem estar ligados às questões climáticas, sociais, políticas, religiosas, tecnológicas e humanas. Hoje, podemos afirmar que o planeta Terra está em verdadeira ebulição em razão das agressões à natureza, dos desrespeitos, da ignorância, da insensibilidade, da ganância desenfreada de todos nós, seus hóspedes, que ao invés de lhe dedicar amor, proteção, cuidado, em troca das benesses que recebemos , fazemos, infelizmente, o contrário. Nas questões atinentes à preservação, em nada avançamos , somos verdadeiros ignorantes se comparados ao homem da pré-história que, do nada, descobriu o fogo, entendia a importância do dia e da noite; do sol e da lua; dos rios e das florestas. Esse homem era sábio e se comportava como criatura e não como Criador.

Enquanto o saber humano de alguns, se amplia pelo avanço da tecnologia e da ciência a um nível muito elevado e inalcançável pela maioria, aumenta, na mesma proporção, com uma velocidade feroz, a insatisfação pela vida, pelo bom relacionamento, pela prática do amor, até mesmo entre membros de uma mesma família, entre empregados de uma empresa, no ambiente escolar, gerando por consequência um descontrole emocional que tem concorrido para que muitas vidas sejam ceifadas, ainda em idade pueril, e outras, debilitadas pelo uso incontrolável das drogas, das doenças psicossomáticas, do abandono e dos maus tratos.

O homem deixou de olhar para o alto e também para o seu interior onde se armazenam as respostas para suas indagações e conflitos. Alguns privilegiados se preocupam apenas em conquistar poder, fama, fortuna, escravizar outros homens, mas vive infeliz consigo mesmo, apesar de seu patrimônio, da sua conta bancária recheada, das aplicações em paraíso fiscal e do poder que ostenta seja ele, politico, social, econômico, ou religioso. O poder, a fama, a fortuna sempre foram ingredientes de uma massa fétida que afasta, ignora, repele, escraviza, discrimina o outro que não se ajusta dentro de seus padrões doentes, cancerígenos, volátil. 
Esse homem não aceita ser criatura, ele se acha criador.

Ele não sabe o que é um nascer ou por do sol, o nascimento ou amor de um filho, a importância de uma família, de uma esposa como companheira, amiga, parceira, necessária para procriar sua prole, sua continuidade humana. Ele é um vazio. Um corpo oco, sem vísceras, órgãos, artérias, veias, sangue, sentimento. É como se dentro dele não existisse vida humana. Vida humana não é apenas existir como um animal, um verme, uma planta. Vida é partilha, é amor, é sensibilidade, afeição, respeito, disponibilidade. Viver é entender que somos criaturas e não criadores. Que não somos capazes de criar nada a não ser através de algo que já existe. Somos seres espirituais vivenciando experiências humanas.
O homem, apesar de toda sua “sabedoria”, gasta bilhões de dólares para investigar se há água em marte, em mercúrio ou em outro planeta, mas a viseira que ele mesmo coloca em seus olhos, não o capacita para enxergar que em nosso planeta Terra, muitos morrem por falta de água. Os cientistas comemoram a descoberta de que no Planeta Mercúrio tem água gelada, apesar da temperatura escaldante e que o gelo e os compostos orgânicos são semelhantes ao piche ou carvão. Outra notícia diz que “Cientistas da NASA sabem que Marte tem bastante gelo, mas é a primeira vez que assistimos a hipótese de haver água líquida”.

No Brasil, um país que possui a maior reserva de água doce do Planeta, os sertanejos vivem a enfrentar grandes dificuldades com a seca no Nordeste que tem afetado substancialmente a produção de cana, de feijão, milho, leite, a criação e gado e a vida de homens fortes, obstinados, de fé, que não perdem a esperança de um dia usufruir de programas governamentais que amenizem esse sofrimento. Muitos desses Municípios já tem aparência de deserto. E se for comprovado que em Marte ou Mercúrio tem água líquida? Essa água servirá para nós? Se servir, como transportá-la?. Concluída essa descoberta que beneficio terá a humanidade? Apesar de todos esses investimentos bilionários, a NASA está planejando nova sonda para Marte em 2020.

Respeito à opinião dos intelectuais que admitem que essas investidas pelo cosmo sejam necessárias. Para mim, simples mortal e ignorante a respeito desses tão importantes vislumbres, essa montanha de dinheiro desperdiçada pela procura de agulha em um palheiro planetário deveria ser destinada para amenizar a fome, encurtar o grande abismo entre ricos e pobres e para preservar o nosso planeta que, já se sente fraco pela escassez de água, a seiva necessária para a continuidade da vida.

Os cientistas são homens detentores de uma inteligência incomum, mas falta-lhes, a meu ver, o maior atributo: a sabedoria. O apóstolo Paulo, um dos intelectuais de seu tempo, tendo sido um dos principais sacerdotes do Templo de Salomão, que depois que se converteu tornou-se o personagem mais importante do cristianismo, depois de Jesus, é claro, viveu em uma época em que o saber humano já começava a despontar. E, em um discurso na cidade de Coríntios, ele falou: “Onde está o sábio”? Onde o escriba? Onde o inquiridor deste século. Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? “. Hoje, passados todos esses anos, até parece que a sabedoria humana, continua sendo uma loucura. 

Estamos vivendo em um Planeta conflituoso: os homens não se respeitam entre si; as nações vivem constantemente em guerra por questões que poderiam ser resolvidas sem o sacrifício de tantas vidas; o ser humano vive a falar de paz, mas não a tem dentro de si mesmo; os governos gastam milhões de dólares para combater o tráfico e uso de entorpecentes, mas não sabem extirpar o câncer da corrupção; querem ser amados, mas alimenta o ódio, a inveja, a intriga; querem ser saudáveis, mas insistem em ingerir álcool, envenenar o próprio pulmão com a nicotina dos cigarros e o cérebro com a maconha, cocaína, crack. Querem ser felizes, mas não conseguem fazer amigos; falam em preservação da natureza, mas são os primeiros a contribuir com a poluição. Finalmente, o que queremos? Em que somos sábios?