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Cultura

Rio: Memorial do Holocausto abre as portas ao público

Construção foi erguida no Mirante do Pasmado, em Botafogo


O Memorial do Holocausto, um novo espaço museológico na cidade do Rio de Janeiro, está abrindo as portas ao público. Na exposição permanente, os visitantes podem ampliar conhecimentos sobre os acontecimentos que marcaram a história e ter acesso a relatos de vida dos sobreviventes.

A construção do Memorial do Holocausto no Rio começou a ser idealizada há mais de 30 anos pelo ex-vereador e ex-deputado estadual Gerson Bergher, já falecido. Um concurso organizado no final de década de 1990 pelo departamento fluminense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) teve como vencedor o projeto do arquiteto e urbanista Andre Orioli. Mas a proposta só saiu do papel mais recentemente.

Em construção desde o início de 2019, o memorial foi erguido no Mirante do Pasmado, em Botafogo. O local foi definido junto à prefeitura do Rio, que deu apoio ao projeto e cedeu o uso do terreno em 2018. A obra é de responsabilidade da Associação Cultural Memorial do Holocausto e contou com o patrocínio de empresas privadas. O Consulado da Alemanha também é parceiro da iniciativa. Em 2020, houve a inauguração da área externa que abriga um monumento de quase 20 metros de altura, dividido em dez partes, representando os Dez Mandamentos. Em sua base, foi escrita a frase: “Não matarás”.

Com a abertura das instalações da área expositiva, as visitas já podem ocorrer semanalmente de quinta-feira a domingo, a partir das 10h. A última entrada deve ocorrer às 17h. O acesso é gratuito, mas há um controle de fluxo e é necessário retirar antes o ingresso por meio da plataforma Sympla.

Também é possível agendar visitas guiadas em grupo, através do programa educativo do memorial. Haverá ainda estímulo para excursões de estudantes das redes pública e privada. “Nosso objetivo aqui no memorial é educar e transmitir valores. E fazer isso mantendo viva a memória, mostrando para as novas gerações que isso existiu. Porque amanhã, num futuro próximo, as pessoas podem começar a achar que foi um filme de ficção. Manter preservada a memória é a única maneira de não se repetir um holocausto nazista com o passar dos anos”, diz Alberto Klein, presidente da Associação Cultural Memorial do Holocausto.

Ele disse que espaços como esse ajudam a sociedade a se preparar para coibir certos tipos de manifestação. “Discurso de ódio não é liberdade de expressão. Defender o extermínio de um grupo não é liberdade de expressão. É racismo e aqui na lei brasileira é crime”.

O Holocausto foi o assassinato em massa de milhões de judeus e de integrantes de outros grupos populacionais minoritários durante a Segunda Guerra Mundial. É considerado o maior genocídio do século 20. Conduzido através de um programa sistemático de extermínio colocado em prática pelo Estado nazista liderado por Adolf Hitler, ocorreu na Alemanha e nos demais países ocupados pelos alemães durante a guerra. Monumentos em todo o mundo buscam preservar sua memória para que não seja esquecido, nem repetido.

De acordo com Alfredo Tolmasquim, que coordenou o grupo curatorial formado por quatro pessoas, há diversas formas de provocar reflexões sobre o Holocausto. Ele lembra que memoriais em diferentes países que ressaltam, por exemplo, a resistência armada ou o massacre nos campos de concentração. No Rio, o foco central recai sobre a história de vida dos sobreviventes. “Ao invés de falarmos de uma história de milhões, queremos contar milhões de histórias”, afirma.

Percurso
Ao visitar o interior da edificação, o público se depara inicialmente com um telão que apresenta rostos e citações de sobreviventes sobre o valor da vida. A partir daí, há um percurso dividido em três módulos. Cada um deles retrata um período cronológico. No primeiro, antes do Holocausto, há informações sobre como era a vida das famílias antes da implantação do Estado nazista. Também há imagens da época, coloridas com auxílio de inteligência artificial, que revelam momentos do dia a dia nas escolas, nos locais de trabalho, nos bairros, além de festas, casamentos, encontros etc.

A iluminação vai escurecendo até a chegada do segundo módulo, que retrata o período do Holocausto. A partir daí, as fotos ficam sem cor. São apresentadas informações sobre ações de discriminação até a deportação e o extermínio, revelando a luta das pessoas pela sobrevivência. Finalmente, no terceiro módulo, a reconstrução da vida após o holocausto se torna o foco principal.

“É importante falar desse período. Temos registros fotográficos das pessoas comemorando o fim da guerra. Mas imagina aquela pessoa que sai do campo de concentração, que perdeu a família, que não tem casa, que não tem trabalho, que não tem mais o vilarejo onde ela vivia. O que ela tem para comemorar? E essas pessoas conseguiram reconstruir suas vidas. Isso mostra a resiliência do ser humano. Mostra a nossa capacidade de recomeçar e de nos reconstruirmos, por pior que tenha sido o que nós passamos. Também nos reconstruimos carregando os traumas e todas as consequências. Então podemos aprender muito quando olhamos para esse período após o Holocausto”, avalia Tomalsquim.