A história nos revela, observadas as exceções, que o vencedor impõe a sua cultura, especialmente quando o vencido, tateando na escuridão, preso ás suas crenças demonstra remota possibilidade de ascender a um nível satisfatório de civilidade. Se no Brasil colonial houve um tratamento desumano em relação ao índio, chegando ao trucidamento, por outro lado agiu corretamente com a sua catequese pelos jesuítas. Lamentavelmente, foi quebrada sua sequência, fato que impediu que o índio esteja hoje integrado, adaptado e nivelado com resto da sociedade. Não teria surgido a retrograda concepção da reserva indígena, compatível exclusivamente para plantas e animais e muito menos seríamos expectadores da violência pela disputa da terra. Errados e perdidos nos encontramos, vítimas de pensamentos ultrapassados sobre o modo e a necessidade do respeito a preservação da cultura indígena. São conceitos pretensamente elevados, prenhes de intelectualismo liberal, agradáveis aos ouvidos enquanto abstração poética, mas que desencantam pela esterilidade de seus resultados. Se isso não é verdade, perguntamos: podemos assinalar, depois de quinhentos anos do descobrimento do Brasil, alguma evolução significativa do Índio? Não vemos. Esse resultado pífio não tem outra explicação senão o artificialismo teórico, divorciado da essência, da política indigenista. Eis porque insistimos: reserva indígena é inimiga do índio, é uma criação absurda e dissonante com a realidade, incompatível com a civilidade, não passando de uma homenagem fúnebre à inteligência, dando a impressão de que o silvícola, despido de alma, deve ser segregado em seu ambiente natural como se fosse um animal em extinção.
Ultimamente, tomamos conhecimento de decisões judiciais que determinaram a desocupação de terras hipoteticamente indígenas. A de maior repercussão, após longo decurso processual, emanada do Supremo Tribunal Federal, autorizou a expulsão de arrozeiro que praticavam uma agricultura moderna, altamente produtiva pelo emprego da tecnologia e a mecanização, da reserva Raposa do Sol, no estado de Roraima. Outras duas, com requintes de crueldade, aconteceram nos estados da Bahia e Mato Grosso do Sul. O telespectador que viu o aparato policial para a retirada de pacíficos agricultores que há décadas tinham suas terras legalmente tituladas, teve a impressão de estar assistindo a uma cena de guerra de terra arrasada, destruindo tudo, pondo abaixo casas de um povoado, deixando-os ao relento á beira da estrada, entregues á própria sorte. Curiosamente, de pé ficou apenas uma igreja, não sabemos porque, talvez por ser considerada um símbolo sagrado que servirá de testemunhas de um grande sacrilégio. Por outro lado, ficamos incrédulos que da cabeça de um magistrado, que reputamos dever primar pela sensibilidade, possa ter saído, sem antes resguardar a segurança dos posseiros, uma decisão tão radical, fria e desumana.
Esses julgamentos chamam a atenção para três fatos curiosos. O primeiro, é que eram áreas produtivas, sagradas e intocáveis como tais, ocupadas por muitos anos por uma população superior à indígena; o segundo, é que são reservas de enormes extensão para um número reduzido de índios; o terceiro, é que foram adquiridas de boa-fé através de escritura pública, com o conhecimento público, circunstância que evidencia, por parte do Governo Federal, a desídia na sua missão tutelar. Não bastasse essa três observações, uma quarta (de maior gravidade), diz respeito ao destino dessas terras devolvidas que, fatalmente, como sempre ocorre, perderão a sua função social pela improdutividade, retornando ao seu estado primitivo para a caça e a pesca. É uma verdadeira cegueira e um estúpido descompasso que agride a realidade do mundo atual, carente de terras produtivas para alimentar uma população cada vez mais carente de alimentos. E qual foi o embasamento jurídico para as decisões em referência? É que os posseiros se encontravam dentro da reserva indígena. E o que é terra indígena? As ocupadas originalmente por índios? Por que então, seguindo a lógica, não devolvemos todo o Brasil aos índios? Seria um absurdo? Mas não devemos ser coerentes e sensatos? Rejeitada a coerência, por que os ilustres julgadores não ressalvaram pelo menos o bom-senso que jamais permitiria que uma população estável, ordeira, pacifica e produtiva fosse removida á força, para dar lugar à desertificação indígena, seu inevitável destino?
É preciso que os nossos congressistas acordem, fiquem em sintonia com o século atual e acabem com o romantismo da política indígena. Se o índio foi maltrado e trucidado no período colonial, não significa que deve ser recompensado com um remédio com evidente efeito colateral prejudicial às duas partes, pois se as referidas reservas, em razão da desocupação de terras produtivas, vêm causando sérios prejuízos à agropecuária, ao grosso da sociedade, por outro lado, não têm nenhuma eficácia para o desenvolvimento socioeconômico, dada à segregação com as demais etnias.
A essa ditadura dos costumes indígenas que faz parte da preservação da sua cultura, defendida por tantos, sobretudo pelos pseudo intelectuais, é a mais grave causa a impedir a sua evolução social, vez que impede o despertar para a curiosidade e a criatividade, como também ocorreu com os aborígenes em outras partes do mundo. O homem deseja, por uma índole natural, a desvendar os mistérios da vida e do universo. Esse estado de espírito, no entanto, só é possível florescer num meio livre das ameaças de qualquer natureza. O que não nos parece sensato é enxergar as necessidades do índio pela metade, a preservação da sua cultura, desprezando o mais importante que é o homem na totalidade das mais nobres e elevadas aspirações. Nesse sentido, só vemos um caminho, a total integração do índio com a sociedade.
Infelizmente, somos vítimas de um fenômeno, não poupando os que lidam na área das pesquisas e descobertas científicas, que consiste em não perceber a evidência das coisas. Assim vivem os dois lados a sofrer dessa cegueira, tanto o chamado homem branco como o índio aculturado e civilizado, que não permite ver a falácia da política indigenista. Nesse sentido, se de um lado dorme em berço esplendido o Congresso Nacional do outro, o judiciário dá o arremate do desastre através de decisões contraproducentes, como ocorreu em relação á reserva Raposa Terra do Sol. Acrescentaríamos que foi uma decisão surrealista, pois, além de ter prejudicado a economia do Estado de Roraima, tem tudo para figurar no portal do impossível acontece, vez que não conseguiu satisfazer a nenhuma das partes envolvidas na conflito. O quer é hoje a Raposa Terra do Sol? A desolação, o abandono e a miséria generalizada.
Constatado esse desastre, é oportuno perguntarmos: quantas reservas indígenas existem no Brasil? O que produzem? Qual tem sido a sua contribuição para a economia do país? Não bastasse a sua contribuição zero, o índio de hoje lembra o aforismo do passado que dizia que ou Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. A sua truculência, como nos tem mostrado os meios de comunicação, em contraste com a pureza natural do homem, além de estar a causar considerável prejuízo à agropecuária, acha que tem o direito de paralisar obras da mais alta importância para o País, como a hidrelétrica de Belo Monte, sob a alegação de que irá prejudicar a pesca artesanal. Consideram-se intocáveis e cheios de direitos. Mas não nos desesperemos por completo, os índios poderão contribuir no futuro com o turismo exótico. As agências de viagem farão através de imagens pela televisão, convite ao telespectador para conhecer seres bípedes em forma de homem que vivem em plena harmonia com a natureza e praticam o comunismo primitivo. Caçam, pescam em conjunto e dividem o produto. Armam as redes em suas malocas e procriam. Não deixe de ver essa pedra bruta, limitada e sem horizonte que lhe permite viver na ingênua e irracional pureza paradisíaca.
Atualmente somos informados do propósito de uma mudança nos critérios demarcatórios para a criação de novas reservas. Não era isso que desejaríamos ouvir. Não concebemos que queiram dar continuidade a um desastre em todos os sentidos e que nunca deveria ter existido. A verdade é que essas reservas, mais cedo ou mais tarde, terão de ser extintas, vez que não se justifica que áreas imensas sejam destinadas a um punhado de índios para satisfazê-los na infantilidade de seus caprichos animalescos, quando o país e o mundo necessitam de novas terras agricultáveis para atender a crescente demanda de alimentos. O Brasil, não sendo elástico, não será sempre tão grande para assistirmos estupidamente o desperdício de tanta terra.
Que se dê um basta a essas reservas e que tiremos da mente a demente ideia de que o índio tem de viver no paraíso natural, parasitando os favores da natureza . Podemos imaginar tamanho abismo com a nossa visão de vida? Vivemos uma fase em que a ciência e a tecnologia avançam a passos de gigante. É como se o homem civilizado, emancipado da natureza, estivesse a alcançar vôo na amplidão do espaço sem fim para o encontro com Deus, enquanto o índio, numa direção inversa, insiste em permanecer em comunhão com o mundo natural e, não fazendo uso da faculdade racional, involuirá até o período primitivo do seu nascimento, em direção dos braços do seu Criador. Bom seria que os nossos naturalistas que só conseguem ver e raciocinar pela metade, entendessem que o índio tem os mesmos desejos e aspirações do homem civilizado, bastando apenas despertá-lo, livrá-lo das amarras da ditadura dos seus costumes, integrando-o com as demais etnias. Assim passando a viver, conhecendo o bem e o mal da civilização, vai chegar à conclusão, imbuído da inquietação pelo conhecimento, que é melhor planar entre o céu e o inferno, a permanecer, com aparência bovina, na tranquilidade e quietude da paz celestial.
