O Governo de Sergipe levou a riqueza cultural do seu artesanato além-fronteiras. Uma peça única e emblemática da Coleção Divino, desenvolvida por meio do projeto RendaVeste Sergipe, foi apresentada na sexta-feira, 6, em Bogotá, na Colômbia, durante a realização da Expoartesanias 2024, maior feira internacional de artesanato latino-americana.
Em homenagem ao artista plástico Arthur Bispo do Rosário e inspirada nos cânions de Xingó, a peça da Coleção Divino traduz o diálogo entre tradição e inovação. Os tons terrosos, verdes, azuis, laranjas e brancos incorporam simbolismos da natureza e pureza, enquanto o formato do manto reverencia as vestimentas do artista sergipano.
A produção é fruto do talento e dedicação das rendeiras dos municípios sergipanos de Divina Pastora, Maruim, Laranjeiras e Nossa Senhora do Socorro, participantes do projeto RendaVeste, uma iniciativa do Governo de Sergipe, elaborada pelo Senai Cetiqt, com o objetivo principal de impulsionar a inserção das artesãs no mercado da moda, promovendo o desenvolvimento econômico por meio da capacitação em moda e design.
Uma das rendeiras participantes é Neidiele de Jesus Silva, presidente da Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin). Ela representa as artesãs da renda irlandesa no evento na Colômbia e foi convidada pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) para participar da roda de conversa com o tema ‘Mãos que cuidam e ensinam: como acontece a transferência dos saberes e do resgate cultural’. Na oportunidade, ela comentou sobre a importância de políticas públicas para o impulsionamento do trabalho das rendeiras em Sergipe.
“O projeto RendaVeste foi o pontapé inicial para resolver um problema que as rendeiras tinham. A gente quer ver o nosso produto em uma passarela, mas a gente tinha essa dificuldade, por não conhecer o mercado”, diz a artesã Neidiele.
O artesanato sergipano tem ganhado cada vez mais visibilidade, tanto no Brasil quanto no exterior, graças a investimentos robustos e políticas públicas voltadas ao fomento da atividade. Durante a participação na Expoartesanías, maior feira de artesanato da América Latina, realizada na Colômbia, o secretário de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo, Jorge Teles, destacou os avanços conquistados e os planos futuros para o setor.
“Neste ano, nós já rodamos todo o Brasil e estamos finalizando aqui na Colômbia, graças ao apoio do governador Fábio Mitidieri, que tem uma visão diferenciada para o nosso artesanato. Todos os investimentos que foram feitos neste ano possibilitaram a comercialização recorde dos nossos produtos. E nós já temos dentro do programa Viva-SE um grande investimento, o maior da nossa história, no artesanato sergipano, com a construção de espaços de comercialização e, sobretudo, investimento nas pessoas com a realização de qualificação, empreendedorismo, precificação dos produtos e oficinas para melhorar ainda mais o nosso artesanato e agregar valor ao que o sergipano produz de melhor. Temos a certeza de que o ano de 2025 vai ser muito melhor”.
O secretário evidencia o compromisso do Governo de Sergipe em transformar o artesanato em uma alavanca para a geração de renda, inclusão social e valorização cultural.
A presidente da Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin) destacou ainda a importância da união entre as produtoras da renda irlandesa para que elas alcancem mais sucesso econômico. “Fundei com mais 30 mulheres uma associação, onde a gente trabalha isso, viabilizar espaços de comercialização, fomentar a economia da mulher, porque na nossa realidade no município, muitas se curaram da depressão com esse saber-fazer da renda irlandesa manual. Muitas sofrem abusos psicológicos dos seus companheiros. Quando a gente vê que mulheres por trás dessa arte tem esse contexto de sofrimento na sua história, a gente tenta provocar os órgãos para mudar essa realidade”, explica Neidiele.
Coleção Divino
Neidiele foi uma das mais de 15 rendeiras que se dedicaram à produção da peça apresentada na Colômbia. A peça escolhida combina a resistência do algodão com a delicadeza da renda irlandesa, exaltando um dos maiores patrimônios culturais do estado.
A consultora técnica do Senai Cetiqt, Charllene Santos, uma das responsáveis pelo andamento do projeto RendaVeste, explica que a peça é o resultado do aprendizado em moda das rendeiras combinado ao repertório de vida delas. “O mais legal no projeto é ver que a renda irlandesa de um modo geral está viva, porque ela é compartilhada em comunidade. E a produção da peça foi o momento de colocar em prática todo o aprendizado que iniciamos lá em julho até aqui e, também, delas se aprofundarem e trazerem algo que é delas, a história de Sergipe, a história de cada uma, e como traduzir isso em um look”, destaca.
Além de oferecer ferramentas modernas para inovar, o projeto RendaVeste valoriza a expressão da identidade cultural das artesãs, preservando suas tradições enquanto abre novas possibilidades para transformar seu trabalho em fonte de renda e reconhecimento.
Um saber só nosso
Sergipe é o único lugar no mundo onde se produz a renda irlandesa na atualidade. O saber-fazer desta tipologia do artesanato se perdeu na Europa. Há algumas versões de como a técnica realmente chegou à Divina Pastora, em Sergipe.
Uma das rendeiras mais reconhecidas da localidade, Dona Alzira, 66 anos, conta que a técnica foi levada ao município há mais de um século, através de freiras irlandesas que chegaram para ensinar catequese. A tradição, aprendida e mantida viva por rendeiras sergipanas, tornou-se patrimônio imaterial brasileiro.
O projeto, realizado em parceria com o Senai Cetiqt e apoiado pelo Governo de Sergipe, por meio da Seteem, é um marco na valorização do artesanato local. Além de celebrar a maestria das rendeiras, a peça é um convite para que o mundo reconheça a riqueza cultural e o talento sergipano.
Agência Sergipe