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Querida Penedo, como você está feia!

Que delicadeza de afirmação. Aceito sua brincadeira, meu grande amigo. Sei muito bem que você conhece a psicologia feminina no que toca à preocupação com sua beleza pessoal. Modéstia à parte, sei que não sou feia, mesmo ao natural, sem maquiagem. Se você tivesse dito que no momento me encontro feia, concordo com a sua afirmação mesmo que peque pela falta de elegância e cavalheirismo.

-Queria desculpar-me pela minha insensibilidade. Compreendo a vaidade feminina, o desejo que a mulher tem de ser reconhecida e elogiada como bela, mesmo que seja falso o elogio. Como não sou dado a galanteios, a donjuanismo, prefiro a verdade que pode causar dor, mas que servirá de estímulo de uma mudança para melhor. Acontece que no momento, ao contemplá-la, a minha imaginação leva-me a compará-la a uma velha obesa, despenteada, mal vestida, suja e, para agravar essa insuportável aparência, exibe um semblante alheio, conformista e desconsolado, merecendo urgentemente, depois do banho, o chamado banho de loja. Onde está o seu amor próprio? Qual a causa de tanto desleixo?

– Ora, meu amigo, não me pergunte sobre a evidência das coisas. Posso muito bem, num toque de imaginação, tornar-me bela e faceira. Infelizmente, para que apareça essa mágica, é preciso que os que gerenciam meus interesses façam por mim e os responsáveis não têm a menor preocupação com isso.

-Por que não bradar aos quatro ventos? Já que você não faz, faço eu. Prefeito e vereadores de Penedo, acordem e não fechem os olhos ao visível que vergonhosamente nos entristece e, unidos, vamos transformá-la numa cidade limpa. É preocupação primordial de uma cidade histórica voltada para o turismo, atrair e não repelir o turista que deve levar boas recordações e não a decepção de uma cidade suja.

Há muito estamos a necessitar de um código de postura para disciplinar, entre outras coisas, o uso dos terrenos urbanos não murados. Não sei se ele já existe. Acredito que não, pois, em caso afirmativo é como se ele não existisse. Nada fora dos padrões brasileiros onde as leis são sinônimos de sementes, as boas e as chochas, isto é, as que germinam e são postas em práticas, e as outras que são relegadas ao esquecimento.

A nenhum de nós, ao passar pela frente desses terrenos, dificilmente não torce o nariz diante de uma cena que hostiliza o mais elementar princípio de civilidade. É uma autentica reprodução das ruas das cidades medievais, que recebiam lixo e até dejetos, desconhecendo os graves malefícios para a saúde. Mas se viviam com a sujeira, a lama, ratos e porcos que tranquilamente chafurdavam nas ruas, é inconcebível e inaceitável o retorno de um comportamento primitivo.

Hoje, 25/11/2011, numa inspiração de revolta, resolvi escrever o presente, face a imundice e o mau cheiro que exalava do lixão vizinho à minha residência. Convivo com essa desgraça há mais de vinte anos, em pleno centro da cidade. Fica exatamente na frente da Igreja de São Benedito, local onde foi dado inicio à construção de uma praça, por sinal inacabada e sem fim. A cena é revoltante e mais revoltante ainda quando sabemos que os autores dessa barbárie são pessoas da vizinhança que presumíamos fossem civilizadas.

Se a nenhum prefeito podemos diretamente atribuir responsabilidade por absurda atitude, vez que seria necessário por um guarda de plantão nas vinte e quatro horas do dia nos citados terrenos, não significa que a municipalidade deve continuar inerte, estranha ao problema e sem buscar um meio para erradicar paisagem tão primitiva. Deve ficar claro que a principal causa da selvageria não está na ausência do mencionado código, embora necessária sua existência, mas na falta de educação de muitas pessoas que, insensíveis, são incapazes de entender as conseqüências do seu barbarismo.

Embora não se possa educar por decreto, achamos como providencia inicial para minimizar o dano à nossa cidade, que sejam localizados os donos dos terrenos em apreço e em seguida convencê-los a cercá-los sob pena de, findo o prazo convencionado sem uma resposta positiva, passarem a receber uma penalidade crescente no valor do IPTU, do mesmo modo como faz o INCRA com as propriedades improdutivas.

Acontece que a imagem suja da cidade não se prende apenas aos terrenos baldios, mas às ruas quase como um todo. Como contornar esse problema? Uma das mais recomendáveis é a distribuição pelas ruas de coletores de lixo. Essa providencia deve ser complementada com um trabalho de catequese junto à população, através de todos os meios de comunicação. Que se busquem pessoas competentes para tal fim.

Sabemos que o fantasma dos empreendimentos públicos sempre foi e é a falta ou escassez de recursos financeiros. Por outro lado, também sabemos, o sucesso depende das boas idéias, quase sempre revestidas de simplicidade. Tornar Penedo uma cidade limpa não requer um malabarismo para encontrar boas idéias e muito menos alto dispêndio, mas um pouco que resultará num enorme dividendo que a todos nos orgulhará. O que falta, verdade seja dita, é a vontade de fazer.

Passem a gostar de Penedo, diga adeus á inércia e percebam como se pode fazer tanto por tão pouco. No dia que aparecer um prefeito que resolva enfrentar o monstrengo da má educação, filha da ignorância que reside e perambula pelas ruas, será consagrado como o grande matador, distinguindo como o maior prefeito de Penedo.