Não tenho o hábito de discorrer sobre assuntos religiosos por serem polêmicos, cuja discussão, sempre acirrada, nenhum efeito prático produz, além de contribuir para a discórdia. Cada um daqueles que professam uma fé (religião) estão certos de que ali prevalece a verdade e a interpretação correta das palavras do Grande Mestre e, assim sendo, se arvoram de verdadeiros integrantes da igreja de Jesus e donos da verdade absoluta. Uns dizem que seus líderes são representantes do apóstolo Pedro ao qual Jesus incumbiu para edificar a sua igreja pronunciando estas palavras: “E eu te declaro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela; Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Para esses, os verdadeiros representantes de Jesus neste plano material, são os pertencentes à sua religião e que as palavras de Jesus foram dirigidas aos seus líderes apesar de terem sido pronunciadas há mais de dois mil anos quando ainda essa religião nem existia.
Há aqueles que apregoam que sua igreja é verdadeira porque cumpre ipsis litteris, os Dez Mandamentos ou o Decálogo, principalmente o quarto mandamento que assim está redigido: “Lembra-te de santificar o dia de sábado. Trabalharás durante seis dias, e fará toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um repouso em honra do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que está dentro de teus muros. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo que neles há, e repousou no sétimo dia; e, por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o consagrou.” Para esses crentes, o sábado é um sinal perpetuo do eterno concerto de Deus com Seu povo. Considera prazerosa a observância desse tempo sagrado duma tarde a outra tarde, do por do sol ao por do sol.
Ressalte-se, também, àqueles, adeptos a uma religião que se apega a diversos valores que afirmam estarem baseados na Bíblia e que pregam a neutralidade política, a moralidade sexual, a honestidade e não aceitam transfusão de sangue. Muitos pacientes pertencentes a essa religião não tem permitido a transfusão de sangue, mesmo em casos de risco de vida, o que tem levado alguns à morte. Eles acreditam ser fiéis a Jeová, também chamado de Javé que é o nome de Deus na Bíblia hebraica e, segundo os seguidores dessa religião, Deus não permite essa prática.
Há outro segmento que admite ser uma fé e não religião, que tem como verdade absoluta a imortalidade do espírito e que este se aperfeiçoa através dos ensinamentos apreendidos na sua passagem terrena bem como continuam a recebê-los nas diversas dimensões e que é através do bem, do amor dispensado ao próximo que se atinge a perfeição. Asseveram que a salvação é individual, mas ninguém se salva sozinho, necessário o exercício continuo do amor, da humildade, da perseverança. Admitem a comunicação com os espíritos.
Existem igrejas, e elas se encontram espalhadas pelo Brasil inteiro e pelo exterior, onde os milagres acontecem diariamente a cada culto. Pessoas são curadas de câncer, de aleijões, de paralisias e até restituem a visão aos cegos de nascença.
A pergunta: Qual a igreja de Jesus? É pertinente. A palavra “igreja” se confunde com “religião” no linguajar popular apesar de terem conceitos diferentes. Daí existir: Igreja Cristã Maranata, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Católica, Igreja Batista, Igreja Quadrangular, Igreja Universal…
O que me inspirou a escrever este texto foi a renúncia do Papa Bento XVI ao Ministério Petrino, cujas causas têm instigado o pensamento dos especialistas e dos jornalistas do mundo todo. No entendimento dos líderes religiosos que professam essa religião é Cristo o pastor da Igreja. É Ele Quem a guia e que a renúncia foi um ato orientado pelo Senhor. Para a CNBB, a renúncia foi um ato de humildade e grandeza.
Já àqueles que são especialistas nos assuntos atinentes ao Vaticano – os vaticanistas- vêm de forma diferente as razões que levaram o Papa a renunciar, destacando dentre elas o fato do mesmo ter se sentido “abandonado por cardeais , bispos e padres em sua disposição de dar um basta aos recorrentes casos de pedofilia que conspurcam a Igreja. O corporativismo foi mais forte do que o papa. Isso ficou claro em 2010, na Irlanda. Descobriu-se que milhares de crianças haviam sido abusadas por sacerdotes, entre 1996 e 2009, com o silencio cúmplice de bispos”, além de escândalos financeiros e vazamento(roubo) de documentos comprometedores da Santa Sé ,conforme se lê na reportagem especial da revista Veja do dia 20 de fevereiro de 2013. Acrescente-se os escândalos atinentes à homossexualidade.
Para os católicos o Papa é infalível, mas ao renunciar perde a infalibilidade, porque “Aquele que renuncia não mais tem a assistência do Espírito Santo para guiar a Igreja” segundo diz o porta voz da Santa Sé, Federico Lombardi. Ora se a escolha do Papa é orientada pelo Espírito Santo e se sua renúncia também o foi, porque ele, o Papa, perderia a infalibilidade?
No documento que leu, comunicando a sua renúncia, o Papa escreveu algumas frases que necessitam de serem bem compreendidas, pois, no meu entender, foram pronunciadas num momento de grande angústia como um desabafo, uma manifesta decepção com os integrantes do alto clero.
a) “É preciso refletir sobre como a face da Igreja é por vezes deturpada por golpes contra a sua unidade e divisões do corpo eclesiástico.”
Se a Igreja é considerada a esposa de Cristo, porque a convivência entre os membros do corpo eclesiástico é tão destoante das palavras do Mestre Jesus?
b) “A verdadeira tentação é a de instrumentalizar Deus, usá-lo para os próprios interesses, a própria gloria e o sucesso”.
Insisto na pergunta: Qual a Igreja de Jesus?
Nesse emaranhado de interesses e de poder, onde cada igreja ou religião se diz verdadeira, como identificar àquela que realmente está afinada com as ideias, com os ensinamentos do Mestre Jesus que pregou o amor, a humildade, o desapego ao poder, aos valores materiais, o acolhimento, e que vê no outro, no irmão, a única possibilidade de se chegar à perfeição? Sim, é no amor ao próximo que se manifesta a verdadeira atitude cristã.
“Indagado sobre qual seria o maior mandamento, disse Jesus:” Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo.”
Acredito que a verdadeira Igreja de Jesus seja aquela formada por pessoas que vejam no próximo, no irmão, o caminho de sua salvação, vendo nele refletido o rosto de Jesus. Essas pessoas estão ligadas por uma força mental e espiritual e podem estar nas diversas igrejas, nas diversas religiões e até fora delas, mas tendo em comum a magia do sentimento do amor verdadeiro.
Essas pessoas pertencem a uma comunidade religiosa onde a fé é uníssona, ou seja, todos a professam da mesma forma, unidos, na espera da vinda de Jesus. Fé é a espera contínua na confiança inabalável das promessas de Jesus e ela se manifesta pelo amor ao próximo e pelas obras. “A fé sem obra é morta” já dizia o apóstolo Paulo. Sem essa unidade e sem a humildade que tanto pregou e ensinou o Grande Mestre Jesus, não existe uma igreja verdadeira.
“Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaias: Este povo somente me honra com os lábios, seu coração, porém, está longe de mim. Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vem dos homens”. Jesus dirigiu essas palavras aos religiosos de sua época que eram tidos como detentores da verdade absoluta.
E você, a que igreja (religião) pertence? A de Jesus ou a dos homens?