Autoridade teme pela atuação dos vândalos nos campos brasileiros
“Não levaria meu filho a um estádio de futebol” diz promotor do MP
Max Martins tem se constituído na principal referência quando se fala em Estatuto do Torcedor e violência das torcidas organizadas nos estádios de futebol em Alagoas. Promotor titular da Procuradoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público Estadual, Max tem opiniões fortes quando o assunto é o Estatuto do Torcedor e a estúpida violência disseminada por vândalos que causam o afastamento do torcedor comum das praças esportivas.
“Eu não sou contra quem vai e leva seu filho. mas eu não levo. Do jeito que ainda se encontra a situação, não teria a tranquilidade de levar meu filho para ver uma partida de futebol. Isso não é só aqui em Alagoas. Já fomos em outras cidades, em Recife, no Rio de Janeiro, e principalmente em jogos clássicos, realmente não me sinto tranquilo para levar meu filho ou uma pessoa convidada”, disse o procurador a reportagem do portal esportealagoano.
A frase seria até comum se fosse pronunciada por qualquer torcedor, mas ganha um outro peso pronunciada pela principal referência do Ministério Público quando o assunto é Estatuto do Torcedor e a relação com o futebol.
Na última década, Max Martins debruçou-se e praticamente foi pinçado para o futebol graças a implementação do Estatuto do Torcedor que tornou o aficionado do esporte mais popular um consumidor. Mas admite que a adaptação foi algo difícil.
“Foi uma adaptação muito difícil, sobretudo para pessoas que fiscaliza e muitas vezes quando você atua em algo que envolva duas partes, uma das partes não vai sair satisfeita. Mas você não está aqui para agradar e sim para cumprir o que a legislação determina” avalia o promotor.
A ação contundente ao longo destes dez anos causou uma mudança significativa nos hábitos de acompanhar o futebol, seja como autoridade constituída ou como um cidadão comum.
“Ir tranquilamente a um estádio de futebol isso não é mais possível. Você pode até ir para uma tribuna de honra, mas diante das circunstâncias, diante da atuação do Ministério Público, é necessário você se preservar um pouco mais. Mas a atuação tem sido muito producente”, afirma Max Martins.
SENTIMENTO DE FRUSTRAÇÃO
Apesar do Estatuto do Torcedor ser amplo e tratar dos mais diversos assuntos relacionados ao futebol, a atuação do promotor fica “colada” ao assunto violência nos estádios e torcidas organizadas.
Em uma ação patrocinada por Max Martins e pela também procuradora Denise Guimarães, a Procuradoria de Defesa do Consumidor chegou a pedir a extinção das duas principais torcidas organizadas do Estado: a Mancha Azul e a Comando Vermelho. A ação surtiu um efeito imediato e durante três anos impediu que estas duas instituições pudessem comparecer aos estádios alagoanos exibindo qualquer artefato que identificasse as agremiações.
O pedido de extinção aconteceu após uma grande confusão e um quebra-quebra generalizado na Rua Cabo Reis após um clássico máster em comemoração aos 30 anos da Tv Gazeta. A ação foi consubstanciada, abordando pontos de um clamor social e mostrando a nocividade praticada pelos integrantes das duas torcidas. Em um primeiro julgamento, o desembargador entendeu que as torcidas tinham direito a livre associação, além de não considerar as provas existentes no processo como fortes o suficiente para provocar a extinção e autorizou as duas a comparecerem aos estádios com toda simbologia.
Devido a morosidade da justiça, o processo segue até hoje e na semana passada houve uma audiência, que antecedia um novo julgamento. Mas nesta audiência apenas o MP compareceu. Os representantes das torcidas não foram. A expectativa é que dentro dos próximos meses, esta ação seja novamente julgada. Após vários anos, O procurador Max Martins demonstrou um sentimento de frustração sobre este assunto.
“Depois de debruçarmos sobre o assunto e não termos uma definição, causa uma enorme frustação. Já se passaram muitos anos e o processo agora é apenas um amontoado de papeis, sem a emoção do instante em que tudo aconteceu, perdemos o clamor popular do momento” finalizou Max.
