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Sergipe

Projeto Sergipe em Cena renova as artes cênicas em Sergipe

“O teatro é a poesia que sai do livro e se faz humana”, assim dizia o poeta espanhol Federico García Lorca. Sem dúvida, ele estava certo. O teatro é uma das mais preciosas manifestações culturais existentes no mundo, e concordando com isso, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura, está promovendo uma verdadeira revolução nas artes cênicas de Sergipe.

Sergipe é um estado com grande tradição na área de Artes Cênicas, com a formação de grupos de teatro que povoam a capital e todo o interior sergipano. São dezenas de companhias cujo mercado, até então, era estreito e focado em apresentações esporádicas nas escolas, instituições e eventos culturais. Desde que assumiu a gestão da Secult, no ano de 2009, a secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, apresenta propostas e projetos para as artes cênicas. Neste contexto, surgiu uma das mais audaciosas e grandiosas iniciativas para a área: o ‘Sergipe em Cena’.

O projeto reúne ações focadas nos eixos de circulação e capacitação dos profissionais das artes cênicas e busca ampliar as oportunidades de apresentações dos grupos teatrais, garantir o acesso da população sergipana e dos turistas à produção teatral e qualificar esta produção através de cursos de capacitação. A ação atua através de parcerias com instituições que tradicionalmente investem no teatro brasileiro.

A secretária Eloísa Galdino define o ‘Sergipe em Cena’ como um projeto importante na consolidação de políticas públicas para as artes cênicas e argumenta que a ação promove mais um passo da Secult no fortalecimento da cultura no estado, aproximando-a daqueles que atuam no cenário artístico local.

“Nós elaboramos um projeto a partir das demandas do setorial de artes cênicas de Sergipe, efetuando parcerias importantes para posicioná-lo em sintonia com o que acontece nacionalmente. Uma delas foi trazer o selo da Funarte para dialogar com o projeto, a partir da relação que estamos construindo entre a Secult e o Ministério da Cultura. É muito bom ver que todo o nosso esforço está gerando bons frutos. Temos tido respostas positivas dos grupos e de todos que fazem o teatro e a dança em Sergipe, o que comprova que o projeto deu certo, mas que também ainda temos muito a fazer. Exemplo disso foi a oficina de Voz, realizada com a venezuelana Elisa Toledo, um nome reconhecido internacionalmente, que veio a Sergipe ajudar na formação dos nossos artistas”, ressaltou a secretária.

Ações não param

Entre as ações que agrupam o macro projeto Sergipe em Cena, estão o Encontro de Grupos de Teatro e Dança de Sergipe, realizado em junho deste ano em Lagarto; a concretização da segunda etapa do Projeto Temporadas, que encantou centenas de jovens e adultos no Complexo Cultural Lourival Baptista, no mês de setembro; e as oficinas de qualificação que ocorrem também no CCLB, e que fazem parte do projeto Teatro (in) formação. Além disso, o projeto prevê ainda a realização de três oficinas que fazem parte do Teatro (in) formação, apresentações teatrais no Balaio Cultural e do I Festival Estadual de Teatro de Rua, previsto para o fim deste ano.

O coordenador da Cia Cubos de Dança, Rodolpho Sandes, participou do Encontro de Grupos de Teatro e de Dança, e afirma que o evento foi uma iniciativa muito interessante, pois promoveu um encontro saudável entre os grupos de Sergipe. “A iniciativa do encontro, e principalmente do projeto Sergipe em Cena é importantíssima, pois temos a oportunidade de dialogar com os grupos, saber de suas necessidades e a partir de então poder agir. Afinal de contas, não basta ter apenas o palco e local para o espetáculo. É necessário ter som, iluminação e espaços adaptados para cada apresentação artística, para que ela possa ser ainda melhor”, completou.

O ator Tassio Lima, do grupo de Teatro Pernas de Pau, da cidade de Santo Amaro das Brotas, foi um dos contemplados com o projeto Temporadas e ficou em cartaz por quatro dias no Teatro Lourival Baptista com a montagem ‘Nordestinação’. Para ele, o projeto foi uma aprendizagem e uma ótima oportunidade de mostrar seu trabalho ao público da capital. “Foi a primeira vez que nos apresentamos no Teatro Lourival Baptista e acredito que correspondemos às expectativas do público. O ‘Temporadas’ foi uma iniciativa ímpar e nós, fazedores de teatro, temos muito o que agradecer e aguardar com expectativa outras oportunidades como esta”, afirmou.

Já o ator do município de Cedro de São João, Carlos Augusto, que participou do mini curso de Voz com Elisa Toledo, ocorrido recentemente e integrado ao projeto Teatro (in) formação, explica que ficou muito feliz com a realização da oficina, pois foi uma necessidade que surgiu a partir de uma demanda percebida nos encontros com os atores e que foi prontamente atendida pela Secretaria de Estado da Cultura. “Participar do curso foi um privilégio, pois nós temos uma carência enorme nesta área e estamos sendo sempre atendidos pela Secult. O curso foi de grande valia e muito bom para todos nós”, finalizou.

As oficinas do Teatro (in) formação estão apenas começando. Além da prática sobre Técnicas de Voz, ocorreu ainda no Teatro Lourival Baptista, no período de 11 a 15 de outubro, o curso de ‘Dança Contemporânea’ com o professor Airton Tenório.

Incluídas ainda no projeto, serão realizadas as oficinas de ‘Consciência do Movimento para o Trabalho de Criação’, entre os dias 25 e 29 do mesmo mês, com a diretora e coreógrafa Suely Machado; uma oficina sobre Arqueologia do Movimento, com Alex Dias Mendes Moreira, no período de 08 a 12 de novembro e a Oficina ‘Direção Teatral’, com Tânia Maria Brito França, de 22 a 26 de novembro.

Muitas melhorias

Muitos avanços já foram conquistados pela Secult em prol das Artes Cênicas, mas ainda há muito o que fazer. Virgínia Lúcia, representante do Setorial de Teatro na Plenária do Conselho Nacional de Políticas Culturais, defende que a visibilidade da cultura cresceu consideravelmente nos últimos meses em Sergipe. Para ela, este fato se deu, principalmente, pelo entendimento e interesse da secretária Eloísa Galdino pelas políticas públicas da cultura e devido à inclusão de Sergipe no Sistema Nacional de Cultura (SNC).

“Este ato histórico tirou nosso estado da escuridão em relação às políticas nacionais de cultura, possibilitando maior acesso aos benefícios federais e alavancando importantes parcerias com o governo estadual, a exemplo do Programa Mais Cultura. Nesse cenário favorável, as artes cênicas se beneficiam da abertura de diálogo entre a gestão cultural de Sergipe e os produtores. A partir de então, tivemos resposta das nossas necessidades prioritárias, tanto na área da formação, como da circulação de espetáculos, mediante editais específicos e programações, a exemplo dos Encontros Estaduais de Grupos de Teatro, Encontro de Artes Cênicas, Prêmio César Macieira e Projeto Temporadas”, argumentou.

Para o diretor do Teatro Lourival Baptista, Raimundo Venâncio, o momento que o teatro sergipano passa é um dos mais significativos, pois se incorporam a ele várias gerações de pessoas e pensamentos em consonância com uma idéia coletiva do fazer teatral. “Toda essa energia produtiva que hoje circula pelos ares do teatro sergipano se deve a dois fatores em especial: primeiro, a ideia da união dos artistas em cima de um objetivo concreto para a arte cênica, um fazer teatral que está centrado na qualificação dos nossos fazedores de teatro e de sua profissionalização; e segundo, a interferência do Estado como responsável e facilitador desse processo de entendimento de uma nova política cultural, que passa primeiramente pela autonomia e reconhecimento dos artistas de teatro de Sergipe”, assegurou.

Dentro deste contexto, surgiu ainda uma interessante organização que partiu dos próprios fazedores de cultura, o Fórum das Artes Cênicas de Sergipe. Organizado a partir do Encontro de Grupos de Teatro e Dança, ocorrido em Lagarto, e coordenado por Virgínia Lúcia, o fórum visa discutir ações conjuntas para as artes cênicas em Sergipe, fortalecendo e incentivando a classe. Lindemberg Monteiro comemora o atual cenário que se encontra o teatro sergipano, e defende que o engajamento e a parceria entre os grupos e a Secult é uma grande conquista.

“A construção do Fórum de Artes Cênicas fortaleceu a nossa cena. Além disso, somar as parcerias e a aproximação da Secult em nossas discussões, que até então eram independentes, tem um grande reflexo para nós, pois podemos ver que somos ouvidos e muitas vezes atendidos. Ainda estamos na fase de plantio, e acredito que 2011 será um ano ainda mais produtivo para a cena teatral sergipana”, finalizou.

A atriz Tânia Maria também comemora o avanço nas Artes Cênicas de Sergipe, e argumenta que a formação do Fórum foi importantíssima para a consolidação de um cenário organizado e respeitado pelo povo sergipano. “Toda essa mudança ocorreu primeiramente porque o movimento teatral se fortaleceu, pois as pessoas envolvidas nas artes cênicas perceberam que o distanciamento e o individualismo nos enfraquece. Acredito que hoje as pessoas que estão envolvidas acreditam que é possível trabalhar com dignidade, produzir coisas boas e que deem orgulho aos sergipanos em qualquer lugar que formos”, completou.

A dançarina Maíra Magno também comemora os avanços na área. Para ela, a Semana de Dança foi uma das maiores colaborações para os artistas de dança, pois deu visibilidade aos grupos independentes e injetou novo fôlego à categoria.

“A partir da semana de dança surgiu, assim como o Fórum de Artes Cênicas, o Coletivo dos Artistas de Dança de Sergipe, onde pela primeira vez a categoria se uniu para discutir questões ligadas à realidade de quem dança no estado. Paralelo a isso, o poder público incentivou a formação de fóruns e conferências, municipais, estaduais e nacionais de cultura, sendo que na última, fui delegada por Sergipe na setorial de dança, e pude ver como as coisas funcionam para os artistas em outros estados. Percebi que as necessidades são basicamente as mesmas, salvas as devidas proporções”, explicou.