Cena de "Uma pontinha de sabores"
O estudante mineiro Daniel Drumond, 23 anos, saiu de Belo Horizonte para morar em São Paulo há quatro anos. Sua ideia de cursar Publicidade e Propaganda na Universidade de São Paulo (USP), curso que está concluindo, esbarrou em uma paixão: o cinema documental.
Atuando na área de forma independente e ainda em início de carreira, ele teve duas das suas três produções, Carne e Casca e Uma pontinha de sabores, ambas de 2016, selecionadas para compor o Circuito Tela Verde (CTV).
O CTV é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Educação Ambiental (DEA) da Secretaria de Articulação Institucional, em parceria com a Secretaria do Audiovisual (SAV), do Ministério da Cultura.
O Circuito promove regularmente a Mostra Nacional de Produção Audiovisual Independente, que exibe vídeos de conteúdo socioambiental em todo território nacional e até fora do país. Desde 2009, o projeto já teve sete edições, 322 vídeos selecionados e 8.734 espaços exibidores.
“Estou feliz demais. Começo com o pé direito minha carreira documental – atuando com uma temática que me interessa demais, meio ambiente, e fazendo parte do Circuito Tela Verde”, conta Daniel, conhecido como Dani Drumond.
Tudo começou quando ele foi selecionado para fazer um curso promovido pelo projeto francês Ateliers Varan em Pernambuco, onde deveria escolher o tema para a realização de um documentário. Teve três dias para aceitar a proposta e se mudar de São Paulo para Recife. “Não conhecia a cidade e descobri, olhando no mapa, a Ilha de Deus, uma comunidade de pescadores e catadores de mariscos, inserida no centro da cidade, mas praticamente desconhecida”.
A ilha tem cerca de dois mil habitantes e fica no Parque dos Manguezais, reserva estuarina da Bacia do Pina. Daniel passou dois meses morando lá, com apoio de uma ONG local, com o objetivo de se inserir na realidade dos seus habitantes, ao tempo em que buscava tornar sua câmera invisível para interferir o mínimo possível nos costumes da comunidade.
O resultado é um filme com pouco mais de 25 minutos em que acompanha Mosquito, como é chamado o pescador José Joaquim, morador mais antigo do lugar, sua família e rotina de trabalho, desde o amanhecer, quando entram no rio, passando pelo beneficiamento artesanal do produto até chegar à venda. “O pescador vive sem noção do tempo. Não tem hora certa para nada, para acordar, para comer”, reflete Mosquito.
A narrativa central é perpassada por problemas ambientais que ameaçam a continuidade do trabalho, como a poluição e o assoreamento do rio e, sociais, como a preocupação de Mosquito com o futuro dos netos.
