No Centro Administrativo da Prefeitura de Branquinha – uma das cidades mais atingidas pelas enchentes ocorridas em junho de 2010 – um grande quadro com a foto do município chama atenção de quem ali circula. Na imagem congelada, uma frase emblemática que acompanha o visual leva à reflexão: “Branquinha, uma cidade que se renova”. A frase foi idealizada há quase quatro anos e, como que por ironia, não podia ser tão atual e adequada ao momento que o município ainda vive.
Na época da catástrofe, não eram raras as manchetes que colocavam a cidade como “varrida” do mapa de Alagoas, tal o tamanho da destruição causada pela força das águas.
Em outro viés de sofrimento – esse com um histórico bem mais longo e cultural – Branquinha também detinha até alguns anos atrás um dos mais altos índices de mortalidade infantil. Por conta da tragédia de 2010, a cidade quebrou um pouco o ritmo de redução, mas não esmoreceu e voltou a trabalhar na implantação de programas essenciais na batalha contra mortes de crianças com menos de um ano de idade.
Um deles é o programa do Governo de Alagoas de Cestas Nutricionais, que distribui entre as gestantes em vulnerabilidade social alimentação e nutrientes balanceados, com 14 itens essenciais a um bom pré-natal.
“Em 2010, por conta das enchentes, tivemos o registro de quatro mortes de bebês por conta de as grávidas não serem residentes e não fazerem parte da clientela do pré-natal”, justificou a coordenadora do Programa Saúde da Família (PSF), Tereza Marluce, que comanda quatro equipes do PSF.
Em Alagoas, a Governo consolidou, além das Cestas Nutricionais, uma frente de ações que envolve várias secretarias de Estado (Saúde, Assistência e Desenvolvimento Social e Mulher, Cidadania e Direitos Humanos), para o enfrentamento da mortalidade neonatal.
Entre os principais programas estão: o Samu Neonatal – o primeiro a ser adotado no País; a amplação dos bancos de leite materno; a adoção de cartórios civis em maternidades para combater o sub-registro; a Rede Cegonha para qualificação de parteiras e a parceria permanente com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Governo Federal.
Em função deste esforço concentrado, pelo menos 56 municípios conseguiram reduzir a taxa de mortalidade infantil no período entre 2009 e 2010, segundo os dados divulgados pela Sesau. Destes municípios, dentro do período entre 2009 e 2010, cidades como Belém, Jundiá, Coqueiro Seco, Minador do Negrão e Palestina, por exemplo, não registraram nenhum óbito de recém-nascidos até um ano de vida.
QUEDA NO ÍNDICE
Desde 2007, os programas implantados pelo Governo de Alagoas com o objetivo de reduzir o triste quadro de mortalidade neonatal em todo o Estado têm surtido efeito. Em 2007, a taxa foi de 32,6‰, caiu para 28,6‰ em 2008 e diminuiu para 25,9‰ em 2009.
A cidade que ainda carrega o trauma da enxurrada que devastou cerca de 70% de suas casas e prédios públicos, mostra que, de fato, é capaz de renovar das cinzas para reverter o resultado dessa “guerra”.
Os esforços de Branquinha somam-se à superação da meta estabelecida pelo Governo de Alagoas, mesmo diante a catástrofe que se abateu sobre a cidade no ano passado.
A informação foi anunciada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), ao revelar que o Estado conseguiu reduzir em mais de 10% a taxa de mortalidade de crianças a cada mil nascidas vivas, no período de até um ano de idade.
Os novos números – que tiveram como parâmetro o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde (MS) – apontam que os óbitos em menores de um ano de vida saíram de 1.067 em 2009, para 924 óbitos em 2010, o que representa uma taxa de redução de 10,9%.
Com o resultado, a taxa de mortalidade infantil em Alagoas caiu de 19,2‰ nascidos vivos em 2009 para 17,1‰ em 2010.
Através de ações como o Viva Vida, em parceria com o Programa Saúde da Família (PSF) do município, a cidade tem conseguido implantar diversas ações que incluem programas na atenção básica à gestante em vulnerabilidade social, fundamentais para reduzir a mortalidade infantil no Estado.
“Branquinha realmente está mostrando o verdadeiro sentido de renascer, superando os traumas das chuvas do ano passado e realizando um trabalho intenso na parceria como o Estado para reduzir a mortalidade infantil”, atesta Tereza Marluce.
MÃES ASSISTIDAS
Tereza destaca que um dos programas que têm ajudado sobremaneira à cidade a enfrentar os índices de mortalidade é de cestas nutricionais. “Atualmente, Branquinha recebe 50 cestas nutricionais graças à parceria com a Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social”, informa Tereza.
E são essas cestas que garantem o nascimento de bebês saudáveis no município. Simone Mayara Terto dos Santos, 17 anos, é uma das beneficiadas que tem o nascimento do bebê garantido.
Com seis meses de gestação de seu primeiro filho e acomodada em uma das 134 barracas que servem de abrigo para as famílias vítimas das enchentes, Mayara segue rigorosamente os procedimentos para um bom pré-natal. Ela recebe a cesta nutricional todo dia 30 de cada mês. “Se for menino se chamará Willams. Se for menina seu nome será Eloá Mayara”, diz a moça de sorriso tímido, casada com Edvan Domingos.
A complementação alimentar é realizada por meio da entrega das cestas às gestantes em situação de vulnerabilidade social nos 102 municípios. Cada cesta é composta por 14 itens, entre eles feijão, leite e cereais integrais. No total, mais de 40 mil gestantes em Alagoas já foram beneficiadas nos últimos dois anos.
“O trabalho é muito sério porque os lotes de cestas são encaminhados aos municípios com certificação de qualidade garantida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o que assegura a procedência dos produtos e possibilita um maior controle da validade por parte das cidades”, diz Heloísa Helena, superintendente de Segurança Alimentar e Nutriconal da Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social (Seads).
