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Alagoas

Professor estimula o protagonismo juvenil por meio do Projeto Albatroz

Professor Nildo, formado em história e com especialização em artes

Em 1967, Sidney Poitier emocionou o mundo com o filme “Ao Mestre com Carinho”. Na película, o ator interpreta Mark Thackeray, um professor que muda a vida de jovens de uma escola do subúrbio de Londres por acreditar no potencial de seus alunos e na sua capacidade de mudar a própria realidade. Em Alagoas, o professor de História Givonildo Vieira, mais conhecido como Nildo, tem uma trajetória similar ao educador fictício de Poitier: há dez anos, por meio do Projeto Albatroz, ele revela talentos entre os alunos da Escola Estadual Ovídio Edgar, na parte alta de Maceió, afastando-os de influências negativas.

O projeto atende a aproximadamente 60 adolescentes, capacitando-os para inclusão no mercado a partir de atividades culturais em duas vertentes: esporte e arte. Com aulas aos sábados ou nos horários vagos, os alunos tem acesso aos conhecimentos artísticos e desenvolvem seus talentos com aulas de canto, música, teatro, artes e atividades esportivas, como skate e kung fu.

As aulas são ministradas por professores da escola e voluntários, contando ainda com o apoio da Escola Técnica de Artes (Eta) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenart). “O maior resultado do Albatroz é o material humano. Todos os trabalhos são executados com o protagonismo forte dos alunos”, afirma Nildo, que é formado em história mas tem especialização em artes.

Ele diz ainda que, para fazer parte do Albatroz, basta que o aluno tenha vontade de desenvolver seus dotes artísticos. “Se uma aluna quer fazer canto, antes de fazer a ficha dela e montar o seu perfil, nós a encaminhamos para a aula de canto”, afirma. “Nós não burocratizamos o acesso de ninguém aos conhecimentos e saberes que compartilhamos”, observa.

Para o educador, o projeto visa oportunizar que todos possam se manifestar artisticamente. “Partimos do pressuposto de que todos nós dispomos de algum tipo de talento para as artes, portanto basta que tenhamos a oportunidade de desenvolver ou ensinar esse talento. Por isso, todos nós do Albatroz trabalhamos com esse espírito multiplicador”, explicou.

Apoio e inspiração

A diretora da Escola Ovídio Edgar, Elicleria Ulisses da Silva, conta que Nildo, mais do que um educador, é um amigo que acompanha o dia a dia de seus alunos, dando apoio quando estes enfrentam algum problema. “Além de ser um excelente professor, o Nildo ainda oferece apoio a alunos quando estes se encontram mais agitados e irrequietos. Ele trabalha na base do diálogo e da arte”, acrescenta.

Muitos dos alunos que participaram do Projeto Albatroz assimilaram o conteúdo artístico de forma tão intensa que escolheram seguir carreira na área de Humanas, optando por cursos como Letras, Educação Artística, Música e Teatro. E mesmo já não estando mais na escola, eles retornam constantemente ao projeto como voluntários.

É o caso de Felipe Benício de Lima. Hoje mestrando em Estudos Literários na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ele se envolveu com o projeto em 2004, quando ainda cursava o Ensino Fundamental e passou a atuar em peças teatrais. Sempre que possível, Felipe retorna à escola e ao projeto, promovendo uma integração entre os estudantes da Escola Ovídio Edgar com a universidade por meio de ações de incentivo à leitura.

“Estudei o Ensino Fundamental e Médio na Ovídio Edgar e costumo dizer que tenho um débito impagável com o professor Nildo. Foi em uma aula sua que ouvi pela primeira vez os versos de Carlos Drummond de Andrade e despertei como leitor. E este envolvimento com a literatura por meio do Albatroz, com certeza, foi decisivo para que hoje eu estivesse no mestrado. Para mim, trata-se não só de um projeto artístico, mas, acima de tudo, pedagógico e social”, declarou.

Dez anos

O aniversário de dez anos do Albatroz será comemorado com uma série de atividades na escola no dia 28 de novembro. “Estamos programando um seminário, com mesa redonda para discussão de vários temas, envolvendo alunos e ex-alunos do Projeto”, adiantou a diretora Elicleria.