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Penedo

Preso relaciona policiais com crime organizado

Revelações sobre furto de armas do Fórum de Penedo são graves, segundo juiz Braga Neto

Tido como principal suspeito pelo furto de 21 armas do Fórum de Penedo, o preso José Aldo da Silva, 29 anos, acusa policiais militares por envolvimento de tráfico de drogas no município situado no Baixo São Francisco. A denúncia consta em depoimento prestado ao juiz substituto da 4ª Vara Criminal, Sérgio Roberto da Silva Carvalho, que determinou tomada das “providências cabíveis” ao comando da Polícia Militar e à Secretaria de Defesa Social.

Capturado na tarde de 24 de maio no povoado Paciência, situado em Piaçabuçu, município vizinho de Penedo, Aldo da Silva foi encaminhado para a delegacia de Igreja Nova por motivos de segurança. No dia seguinte, ele prestou as informações descritas no processo de número 049.10.000555-0, disponível na página eletrônica do Tribunal de Justiça de Alagoas. O suposto envolvimento de militares com o tráfico de entorpecentes surgiu durante o depoimento sobre o furto do arsenal que ainda não foi recuperado.

“Cal” e o cabo Lulinha

Aldo da Silva alegou que “está com medo de morrer porque tem muita gente da Polícia Militar envolvida no roubo do Fórum e no tráfico do entorpecente”, que seria comandado em Penedo por Carlos Olimpio, mais conhecido como “Cal”, chefe do negócio ilícito que teria a participação do cabo José Luiz da Silva, o Lulinha. Ele forneceria munição e armas para a quadrilha, crime que contaria ainda com a cumplicidade de outro militar que não soube identificar o nome, motorista de um Corsa preto, sem placa, veículo que seria utilizado durante os supostos encontros do cabo Lulinha com os traficantes.

O depoente acrescentou outra acusação contra o cabo Lulinha, apontado por ele como “informante para a quadrilha de qualquer atividade policial”, conforme consta no depoimento disponível na internet. O preso cita ainda o analista judiciário Jorge Alves – tio de Carlos Olímpio – como pessoa que intercede pelo sobrinho no Fórum de Penedo. Sobre sua participação na quadrilha, Aldo declarou que fazia depósitos na agência da Caixa Econômica Federal de Penedo que totalizam “de oito a dez mil reais por semana, sempre em contas diferentes, mas em nome de mulher, todas de Maceió”.

Por equívoco, informamos anteriormente que a citada movimentação financeira supostamente caberia ao analista judiciário Jorge Alves.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que a Corregedoria da corporação tem sindicância instaurada contra militares de nome José Luiz da Silva, situação que envolve homônimos (pessoas com nomes idênticos) e que iria se certificar do despacho judicial por meio da identificação da matrícula do cabo lotado no 11º BPM, sediado em Penedo. Já o analista judiciário Jorge Alves rebateu as acusações e avalia que o preso pretende envolver inocentes no crime que teria cometido.

Aldo cumpriu pena alternativa no Fórum

“O comentário que corre à boca miúda é que foi ele (Aldo) quem levou as armas. Ele cumpriu pena alternativa trabalhando no Fórum e está tentando se livrar da acusação colocando a culpa em outras pessoas, inclusive quem não tem nada a ver com isso”, declarou Jorge Alves, acrescentando que foi transferido da 4ª Vara Criminal para a 2ª Vara Cível do Fórum de Penedo em 2005, remanejamento que o afasta dos processos criminais que tramitam na comarca.

A diretora de jornalismo da Rádio Penedo FM – empresa do mesmo grupo do Portal Aqui Acontece -, Martha Mártyres, manteve contato nesta quarta-feira com o titular da 4ª Vara Criminal de Penedo, juiz José Braga Neto. Além de considerar as acusações graves, o magistrado afirmou que irá até o fim na investigação do furto das armas do Fórum de Penedo, inclusive com tomada de novos depoimentos de José Aldo da Silva e demais nomes citados no processo.

“Em razão da falta de segurança existente na cadeia local (de Penedo) e da gravidade dos crimes cometidos”, conforme consta no documento com as declarações de José Aldo, o juiz Sérgio Carvalho expediu despacho determinando a inclusão do depoente no programa estadual de proteção à testemunha coordenado pela Secretaria de Defesa Social.

Com base nas declarações de José Aldo da Silva, segue abaixo detalhes da audiência

José Aldo da Silva nega ser o autor do furto das armas, mas afirma ter sido convidado para praticar o crime por duas pessoas identificadas como Cabo João e José Elson. Este teria a chave do portão principal do prédio situado na avenida Floriano Peixoto, centro comercial de Penedo. Ele aponta os dois como responsáveis pelo sumiço das peças de processos criminais, roubo detectado em 26 de abril, uma segunda-feira.

No sábado, 24, o depoente afirma ter recebido telefonema dos acusados que esperavam encontrá-lo no povoado Cerquinha, onde Aldo receberia sua parte no roubo que afirma não ter participado. O preso diz que não foi ao encontro por medo de se assassinado e acrescentou ter comentado com mais duas pessoas de identidade não declarada sobre o convite para cometer o furto. Na noite do mesmo sábado, Aldo da Silva foi a um clube social de Penedo, onde escapou de uma tentativa de homicídio que teria sido praticada por quatro homens, entre eles Cabo João e Elson, auxiliados por Clayton e Saulo, conforme declarou.

Balas “pinadas” e disparo na boca

Aldo disse que foi imobilizado por Saulo e Cabo João, enquanto que Clayton apontava um revólver para sua cabeça. Seis disparos “pinaram” (não foram deflagrados), o que não aconteceu com a arma que teria sido utilizada por Elson, apontado como autor do tiro que lhe atingiu a boca. Apesar de ferido, Aldo correu e afirma ter ouvido durante a fuga o som de novos disparos “pinados”.

Ele teria ainda recebido oferta de socorro de um homem que estava numa moto, mas recusou por medo de ser mais um membro do grupo que tentou sua morte. Refugiado no interior do clube social, Aldo foi removido do local por uma unidade do SAMU. Transferido posteriormente para a delegacia de Penedo, Aldo afirma ter sido avisado “por um policial de cabelo grisalho que ia morrer ali dentro e que o mesmo policial não entendia porque o depoente estava numa sala separada, ao invés de ter sido colocado junto aos demais presos”, conforme declaração que consta no depoimento.

Serra para fugir da delegacia

No dia 19 de maio, Aldo disse ter recebido uma serra, instrumento que teria sido colocado por debaixo da porta. Como estava proibido de receber visitas, ele “desconfia que a serra fôra colocado por um dos policiais e que não serrou as grades no mesmo dia com medo de ter alguém esperando do lado de fora”, relato que consta no depoimento. Três dias depois de receber a serra, ele serra a grade da janela e escapa da delegacia de Penedo, sendo recapturado cerca de 48 horas depois em Piaçabuçu.

Aldo Silva acrescenta ainda tentativas de intimidação contra sua namorada e sua mãe, perseguições que teriam sido realizadas por “Tripa” e “Robão”, este portando inclusive uma pistola cromada que teria sido roubada do Fórum. O depoente identificou ainda supostos responsáveis pelo comércio ilícito de drogas em Penedo e que “existe um acordo entre os marginais, no qual o Cal só comete os homicídios em Maceió e que o pessoal de Maceió, contratado pelo Cal, para cometer os homicídios em Penedo”. Carlos Olímpio é apontado por Aldo Silva como “responsável pelas mortes do Toninho, Bagre, Bode, Francisco e Xarel, todos envolvidos com tráfico de droga”.

Sobre a procedência da maconha e do crack vendidos em Penedo, o transporte seria feito de forma camuflada em mercadorias colocadas em veículos alternativos que fazem a linha entre a capital alagoana e o município ribeirinho, “sempre na parte da tarde, nunca pela manhã”, frisou Aldo em sua declaração.

Atualizado às 08h28 de 03/06/2010