Ricardo seria mais um preso dentre os mais de dois mil do Sistema Penitenciário de Alagoas, se não fosse a vontade de mudar a sua realidade. Enquanto muitos passavam os dias desacreditados, ele seguia com o objetivo de mudar de vida. Com persistência e determinação, o jovem de 19 anos sempre cultivava o sonho de chegar ao ensino superior. E conseguiu. Teve o nome publicado na lista dos aprovados da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Foram muitos os obstáculos que a vida impôs para que esse sonho fosse concretizado. O rapaz teve realmente que se prender aos estudos, que tornaram-se a sua única distração atrás das grades. No lugar dos livros, apostilas soltas, bagunçadas e sem arame, para que ele não fosse usado como arma pelos presos.
O adolescente natural de Viçosa nunca teve uma vida fácil. Sempre estudou em colégio público e foi um aluno aplicado. Ele já havia passado em um vestibular da Universidade de Ciências Médicas de Alagoas (Uncisal) em 2008, mas foi obrigado a desistir do curso de Ciências Biométricas. “Era um curso muito puxado e eu não conseguia me dedicar o bastante, porque eu precisava trabalhar para ajudar minha família. Além disso, a faculdade era muito distante e, por isso, não tive escolha senão desistir”, contou o vestibulando.
Preso na Casa de Detenção de Maceió desde outubro do ano passado, acusado por roubo, o rapaz cansou de esperar que sua vida mudasse, por isso voltou a encarar o destino portando a única arma que lhe era possível, o conhecimento.
Graças a uma autorização da Justiça, Ricardo pôde comparecer à maratona de provas do Processo Seletivo Seriado (PSS) da Ufal e hoje pode sentir novamente a sensação de ser um universitário. O jovem que foi aprovado no curso de administração permaneceu escoltado por agentes penitenciários durante os quatro dias de prova.
Entretanto, para o promotor de Justiça Flávio Gomes, a aprovação no vestibular mais concorrido de Alagoas não é garantia de que o estudante possa ingressar na universidade. “É consenso de que a educação é essencial e ajuda no processo de ressocialização, mas é necessário que seja feita uma avaliação apurada para ver o grau de periculosidade deste acusado e se ele representa perigo para os demais alunos”, analisa o promotor.
Mesmo sabendo que o seu destino agora está nas mãos da Justiça, Ricardo acredita que sua vitória vai se tornar um bom exemplo de superação para as pessoas. Ele deixa uma mensagem para os outros detentos do sistema prisional: “O que eu posso dizer é que a vida do crime não é fácil. A pessoa não tem tranquilidade e nem amor. O estudo é uma porta que a pessoa tem para melhorar de vida”, declarou Ricardo.
Agora, o rapaz, que venceu as dificuldades e se tornou o primeiro preso a ingressar na universidade pública de Alagoas, espera que a vida continue lhe proporcionando boas surpresas e que a Justiça humana seja tão perspicaz para resolver sua situação quanto ele precisou ser para passar no concurso.