Já devidamente testado com louvor no primeiro mandato, mesmo assim nunca votei no Lula. Sendo avesso ao socialismo tinha receio, no início, que a sua vitória se transformasse numa aventura socialista, algo semelhante com a atual Venezuela bolivariana do debilóide Hugo Cháves. Confesso, no entanto, contrariando minha sombria expectativa, que o seu aparecimento no cenário da política nacional e mesmo internacional, razão porque continua a gozar os mais altos índices de popularidade, quer pela sua espontânea simplicidade na comunicação com todas as camadas sociais, quer pela realização dos dois mandatos coroados de pleno êxito.
As fortes impressões do passado tornam-se marcas indeléveis na formação da personalidade das pessoas. Nesse sentido, o que mais me chama a atenção no Lula é que tendo arquivado a prática socialista, restando-lhe tão-só a emblemática barba marxista, é o seu comportamento que claramente exibe a nostalgia do vermelho revolucionário. Como explicar suas viagens a Cuba e sua grande admiração por Fidel Castro? O mesmo com a Venezuela e Hugo Cháves? Fora da área socialista, a simpatia pelo presidente da Líbia e do Irã. Onde estão as qualidades desses personagens para serem dignos de admiração?
Gadafi um ex-terrorista que ceifou muitas vítimas inocentes. O presidente do Irã e seu ódio a Israel a ponto de desejar a eliminá-lo do mapa. Hugo Cháves que está levando a Venezuela à bancarrota econômico-social. Fidel Castro, que derrubou uma ditadura e tornou-se o mais antigo ditador e, personalista ao extremo, autoridade suprema de Cuba. Em resumo, como se observa, estadistas da pior qualidade, com currículos recheados pelo extremismo, desrespeito à liberdade e a ferocidade sanguinária. Na mesma linha de suas mórbidas simpatias e decisões que pecam pela parcialidade, foi não ter permitido a extradição do assassino italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua. Foi um gesto deprimente a manchar-lhe a reputação. Em sentido contrário, quando deveria ter concedido asilo político a dois inocentes cubanos que não queriam voltar para a ditadura, imediatamente providenciou a deportação, num gesto de consideração pelo facínora Fidel Castro.
Acontece que o fiasco relativo ao asilo político concedido ao italiano em referência não se esgota apenas na parcialidade, mas no equívoco que demonstrou uma falta de apreço pelo Supremo Tribunal Federal que em primeira votação decidiu pela deportação. Cabia ao Lula, que enxergou crime político, numa manifestação de respeito pela independência dos poderes, respeitar e decisão do Supremo. Agiu como uma superautoridade. Esse último gesto do seu governo, que deveria fazer jus ao bom desempenho do seu governo e sua imagem pessoal, jogando ao ar pétalas de rosas perfumadas, preferiu colocar merda no ventilador, chamuscando seriamente a sua reputação.
Sinceramente, não consigo entender a diferença entre o homicídio comum e o político. Muito menos consigo imaginar qual foi a cabeça coroada por um abacaxi que criou a figura do crime político. Acho que todo homicídio, se não tiver o condão da legítima defesa ou do soldado contra soldado no campo de batalha, é comum. Ora, se eu sou, por exemplo, um liberal capitalista, porque devo matar ou morrer pelas minhas convicções? No caso do Battisti, a Itália não estava em guerra civil, apenas enfrentava grupos marxistas que apelavam para a violência, método já ultrapassado pela hegemonia do poder.
O poder que, como dizia Ulisses Guimarães, é um orgasmo. Embriagador, quando ofuscado pela claridade do palco perde-se e quase sempre tende para o precipício porque ignora os limites do seu alcance. Lula não ficou imune a essa alucinação do poder. Isso, no entanto, é o menor dos males. Para ele, com os polpudos vencimentos de presidente da república e palestrante de altos cachês, a fruição do merecido prêmio. A obscuridade de suas simpatias absurdas e muito menos as reminiscências do vermelho das lutas e greves operárias não o impedirão, apesar dos crimes que lhe foram atribuídos no passado, de usufruir as delícias do verde capitalismo.
