“Eu amenizo a dor da saudade dos meus pais e da minha namorada gastando as energias em todas as atividades que o sistema me oferece. Confesso que vim com medo, mas chegando aqui fui abraçado pela diretora e tenho participado de aulas de música, atendimento médico e futebol. Não sou muito bom de bola, mas aqui me distraio e reflito sobre o que é ter uma amizade de verdade”, relatou o adolescente E.R., de 15 anos. Acolhido pela Fundação Renascer na Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip), o jovem segue aguardando, em um prazo máximo de 45 dias a sentença a ser aplicada pelo poder judiciário.
Conforme previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), independente do ato infracional supostamente cometido pelo adolescente, é dever do Estado oferecer acolhimento e atividades socioeducacionas que contribuam para sua reintegração na sociedade. Além das práticas esportivas, os jovens participam de aulas de flauta doce, violão, canto, pintura, artesanato e teatro. Junto ao trabalho desenvolvido pelos profissionais, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) também destaca a necessidade da presença familiar no trabalho de ressocialização.
Considerando as orientações previstas na legislação brasileira, Aidil Vaz, diretora da Usip desde março de 2015, avalia que Sergipe tem qualificado o sistema e multiplicado o índice de adolescente verdadeiramente ressocializados. “O nosso cenário era de conflito e uma imensa troca de farpas entre os funcionários e adolescentes. Hoje a situação é outra. Conseguimos realizar ações simples, mas que traduzem o progresso real dessa relação de confiança, como por exemplo, entrar nas alas sem utensílios de proteção, e na quadra de futebol para jogar com os garotos”, avaliou.
Sobre a participação dos pais ou responsáveis, ela foi enfática: “mais de 70% dos adolescentes cujos responsáveis se fazem presentes nesse trabalho, são garotos que possuem uma boa relação com nossa equipe de funcionários e participam das atividades com frequência. Aqui todo dia tem futebol. Eles gostam, a gente aplica a medida e o sistema se desenvolve positivamente”, completou Aidil. Para manter a regularidade das ações democráticas os adolescentes acolhidos em cada ala participam de forma simultânea de atividades opostas.
“Aqui é assim: estava jogando bola, saí para tomar banho e ser avaliado por uma psicóloga, enquanto os meninos de outra ala começavam a entrar na quadra pra bater o ‘baba’ (futebol) deles. Gostei da atenção dos professores, que são pessoas do bem, mas quero voltar a sorrir pra cada um deles lá fora; eu com uma vida nova e com os erros do passado já pagos”, concluiu esperançoso, o adolescente E. R.