Às vezes me pego a refletir sobre vários momentos de minha vida, de minha existência, da minha missão e nunca encontro as respostas que procuro, talvez por ser o humano uma grande incógnita até para ele mesmo. De nada temos certeza: de onde viemos, por que estamos aqui, por que sofremos, para onde vamos. É certo que cada um tem as suas próprias respostas ou aceitam as explicações de outros. De uma coisa tenho certeza: um dia deixaremos de existir como pessoas, como gente para voltarmos as nossas origens, desta feita em forma de espíritos, porque para onde elevo meu pensamento de forma transcendental só me deparo com espíritos. Se penso em Deus, Ele é um Espírito. Se penso no Filho, Jesus, Ele é um Espírito. As pessoas fazem promessas, orações, súplicas aos santos de sua devoção e eles são espíritos. Se falarmos de anjos, arcanjos, querubins, são eles também espíritos. E por aí se vão as minhas divagações. Certa vez ouvi uma frase que me fez refletir por muito tempo e conclui, para mim mesmo, é claro, como sendo verdade. “Somos espíritos vivendo experiências humanas” e que temos uma missão a cumprir neste plano terráqueo.
Quando é tempo de natal sinto-me incomodado, novamente, com as minhas reflexões: “Por que comemoramos o natal? Qual o sentimento que nos deve envolver? Que lição devemos aprender? Ora, dirão muitos : “ Estamos comemorando o nascimento de Jesus, o nosso Salvador que deu sua vida para nos salvar.” Só isso ? É apenas uma comemoração do nascimento do maior líder de todos os tempos : Jesus, o Filho de Deus ? E, em homenagem a essa data enfeitamos nossas casas, compramos presentes para filhos, esposa, netos, irmãos e amigos . Os mesmos . Mudamos o nosso cardápio e a ceia de natal deve ser esplêndida. Ate nos lembramos de ir mais aos nossos compromissos religiosos, motivados por essa emoção repentina provocada pelas canções natalinas, pelas árvores de natal, pela propaganda bem elaborada pela mídia objetivando despertar o interesse pelas compras que, por certo resultarão em lucros. É o capitalismo tão criticado , tão propagado, tão divulgado e tão aceito.
E no nosso interior, algo mudou? Somos mais humanos, mais compreensivos, mais atenciosos, mais humildes? Temos compaixão por aqueles que sofrem injustiças, que vivem à margem de uma sociedade discriminadora e excludente? Ou ainda somos mais ávidos a criticar, apontar falhas, e tardios para perdoar, compreender, amar? Será que olhamos o nosso próximo – que não são apenas os parentes e amigos – mas todos os que não estão em nosso redor, com os olhos de irmãos, vendo neles refletido o rosto de Jesus? E nos lares reina a paz, a harmonia, o respeito de pai para filhos e vice versa, e do esposo para com a esposa e vice versa?
Há muitos séculos atrás o profeta Isaias, o que mais anunciou a vinda de Jesus, ouviu de Deus a incumbência de profetizar a respeito de Judá e Jerusalém e dentre outras advertências, o profeta reproduziu para aquele povo, o que ouvira de Deus:
“… De nada serve trazer oferendas: tenho horror da fumaça dos sacrifícios. As luas novas, os sábados, as reuniões de culto, não posso suportar a presença do crime na festa religiosa. Eu abomino as vossas luas novas e as vossas festas; elas me são molestas, estou cansado delas. Quando estendeis vossas mãos, eu desvio de vós os meus olhos; quando multiplicai vossas preces, não as ouço. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos; Cessai de fazer o mal , aprende a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão , defendei a viúva. “ Hoje, transcorridos tantos anos, a advertência é atual.
Nascendo Jesus cumpriram-se todas as profecias a seu respeito. Ele começou a sua vida missionária tendo como ponto de partida o Sermão da Montanha, o mais belo, contundente, emocionante e alentador discurso para aqueles que quiserem exercitar o cristianismo que não deve ser visto como uma religião mas como uma opção de vida. Ali estão as regras a serem seguidas e não necessitam de mestres para que possamos entendê-las. São muito claras, objetivas e desafiadoras.
Jesus sempre foi muito desafiado, ainda hoje alguns tentam provar que Ele não existiu. Certa feita, um doutor da Lei, resolveu indagar Jesus, nestes termos:
Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? Respondeu Jesus:
“Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas.”
Essa resposta, por certo, não agradou aquela autoridade religiosa, que na sua própria indagação demonstrava ser um violador da lei da qual era doutor, ou seja, detentor de conhecimentos elevados. Aquele doutor era apenas teórico, mas não vivenciava o que pregava como acontece nos dias atuais. Jesus pregava o amor como a única condição da busca do reino de Deus. Reunido com os apóstolos Ele foi mais enfático, mais direto, mais objetivo ao afirmar: “Este é o meu mandamento, amai-vos uns aos outros, como eu vos amo.”
Por que você comemora o natal? Por que eu comemoro o natal? Apenas para cumprir uma data incluída nos calendários cristãos? Ou, essa data deveria ser de reflexão? Primeiro, quanto ao propósito de Jesus ter dado Sua vida por todos nós na esperança de que, aos poucos, fôssemos entendendo e praticando os seus ensinamentos, principalmente àquele que nos remete a amar ao próximo com a nós mesmos. Segundo, se estamos, pelo menos, tentando, ou estamos totalmente desviados desse propósito.
O mal, originado das ações humanas, está crescendo de forma preocupante, em todos os seguimentos e em todo mundo. Os noticiários na televisão e no rádio, as manchetes dos jornais e revistas noticiam, diariamente, as ações de traficantes ceifando vidas de crianças, jovens, adolescentes e adultos; o aumento da criminalidade contra pobres e negros; assassinatos de militares; corrupção arquitetada por políticos e agentes públicos comprometendo as políticas públicas direcionadas aos mais carentes; crimes praticados com requinte de crueldade contra crianças e mulheres; assassinatos de moradores de rua, abuso sexual contra crianças, principalmente por religiosos, ao ponto do Papa criar, recentemente, um comitê, para combater o abuso sexual de crianças na Igreja Católica; os conflitos internacionais que por ambição do poder, até mesmo do poder religioso, ceifam milhares de vidas inocentes; a discriminação contra negro, pobre, gays, lésbicas, portadores de deficiência, a disputa de fiéis ente as religiões, cada uma exaltando as suas verdades, quando o homenageado no natal disse que não deveria haver acepção entre as pessoas.
Nossas vidas nada valem para os agentes da morte. Nosso Estado, Alagoas, ocupa uma das primeiras posições dentre os mais violentos do mundo e Maceió é a capital que mais mata gente no mundo. Somente no mês de novembro foram assassinadas 209 pessoas. Até mesmo os integrantes das policias militar e civil, vivem amedrontados, encurralados por esses assassinos.
Continuo em minhas reflexões: como comemorar o verdadeiro sentido do natal se no entorno de nossos lares, ou nas periferias da cidade onde moramos, a fome, o medo, o abandono, a solidão prevalecem. Mas dizem uns: isso é problema dos governos e não nosso! Outros reforçam: ora, vou deixar de comemorar o natal com minha família somente porque outros não têm a mesma condição? Até mesmo em muitos lares considerados de família de classe média e rica, reina a desarmonia, a decepção dos pais com seus filhos, dos filhos com seus pais; casamentos desfeitos e filhos de mãe solteira sem o amor do pai; avós sufocados e endividados na sua velhice, para cuidar de netos, renunciando até a compra de medicamentos essenciais à sua saúde e ao prolongamento de suas vidas.
Por que cresce a violência entre nós? Por que cresce o desamor entre as pessoas? Por que não nos vemos como irmãos? Por que é mais fácil praticar o mal do que o bem? Será que é porque estamos a cada dia nos afastando do Olhar de Deus, de Jesus ? Jesus não nos esquece, nós é que nos esquecemos Dele. Sendo Ele a Luz, ao nos afastarmos nos aproximamos das trevas, da escuridão. Sendo Ele a fonte do Amor, ao lhe voltarmos as costas, somos atraídos pelo ódio, pela decepção pela desesperança. Sendo Ele a fonte da felicidade o nosso afastamento nos conduz a infelicidade; Sendo Ele o Bem, se nos distanciamos Dele vamos em direção do mal.
O apostolo Paulo seguindo os passos de Jesus já nos fala da caridade como sendo algo diferenciado do amor, e assim ele se expressa: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como címbalo que retine; Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e todas as ciências; mesmo que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Prezados irmãos e irmãs, se reina a paz em seu lar e em seu coração, comemore com alegria o natal porque a lição foi apreendida. Se há conflitos interiores e desarmonia entre os seus, faz-se necessário que em vez de um natal festivo, proporcione a você mesmo e aos que estão ao seu redor, um natal reflexivo para que sejamos dignos de sermos considerados fieis ao nossos Grande Mestre Jesus e Ele possa nos considerar como amigos e não mais como discípulos.
Um feliz Natal.