Pelo fato de tratar de coisas supostamente divinas e estar voltada sobretudo para o mundo espiritual, não significa que a igreja católica não esteja cheia de contradições e absurdos. Afinal de contas, temos de convir, é uma instituição com um falso cartão postal do céu, criada e conduzida por homens e, como tal, repleta de falhas humanas. O que nos chama a atenção é a teimosia que a torna impermeável às mudanças essenciais à sua própria sobrevivência. É um grande equívoco acreditar-se que tudo que vem do passado deve ser reverenciado e respeitado como uma verdade imutável. Pelo contrário, o apego às tradições comportamentais, a conceitos e idéias ultrapassadas são o que há de mais retrógado no homem, impedindo o seu desenvolvimento e escravizando-o a um abuso que é a própria tradição. Como dizia Voltaire, haverá coisa mais respeitável que um antigo abuso? A igreja católica está cheia de antigos abusos.
Nas últimas semanas, Penedo, outras cidades do Brasil e alguns países têm sido palco de notícias sobre pedofilia, envolvendo diversos membros do baixo e alto clero. Tais notícias, que não são uma novidade, causa-nos sempre maior surpresa e incredulidade pelo fato de envolverem pessoas das quais a sociedade deposita total confiança e espera uma conduta ilibada. Maior ainda torna-se a nossa estupefação por fazerem parte do palco dos horrores menores que, portadores da inocência, deveriam gozar de uma admiração, respeito e especial deferência por parte dos pervertidos, verdadeiros monstros de batina. A impressão que nos dão é que são incrédulos, riem dos fieis e não acreditam em nada do que pregam e o que dizem, pelo deplorável exemplo, são apenas palavras ao vento. Fazem da religião um meio de vida e uma saída para dar vazão às suas deficiências e bestialidades sexuais. Contumazes no crime por anos seguidos, esses pastores do mal sacrificam a vida de jovens ingênuos, obrigando-os a carregar pelo resto da vida, o fardo de insuportável trauma psicológico.
A igreja católica no curso de sua história, tem enfrentado tempestades acompanhadas de chuvas torrenciais de escândalos de toda espécie. E se ainda existe, face à decrescente credibilidade, devemos atribuir sua longevidade à teimosia de seus fiéis que gradativamente migram para outras seitas, supostamente sérias. Pobres fiéis! A fé, sem dúvida, é a mais acabada expressão da fragilidade humana perante o insondável mistério da vida.
Não bastassem os escândalos passados e presentes, no passado medieval a igreja, no momento dirigida por um asno e, como tal, na mais elevada inspiração à sua altura, decreta a obrigatoriedade do celibato ao clero. Ora, tal iniciativa, estupidamente repressiva, contraria o princípio do crescei e multiplicai, contido na bíblia. Atinge o âmago da natureza no seu mais importante papel que é a perenidade da vida através da reprodução. Não só a reprodução, mas também o prazer sexual, o mais intenso e agradável prazer físico, necessário ao bem-estar e a estabilidade psicológica. Afinal de contas, qual o papel do pregador? Excetuados os meios para se conseguir o passaporte celestial, as virtudes morais que nos tornam cidadãos respeitáveis, dignos da felicidade. Pode o infeliz pregar a felicidade? O nosso verdadeiro estado é o da condição humana e só podemos nos sentir bem quando gozamos a plenitude do nosso ser. Como pode o pregador falar de sexo e matrimônio, se não os conhece?? Se Deus é amor, como poderá comprazer-se com a flagelação do homem?
Voltando ao problema do celibato, percebemos como São Paulo, grande vulto do Cristianismo, foi sensato ao dizer em Corintios, 7°, 8°: “Digo aos não casados e às viúvas que lhes é bom permanecerem assim, como também eu. Mas, se não se contêm, casem-se. Porque é melhor casar-se do que abrasar-se”. Por que a igreja não optou por esse conselho tão sensato de São Paulo? Como o pensamento, curiosamente, avança e retroage no tempo! Os que fazem parte do clero, ao submeterem-se livremente ao celibato, não estão obrigados a continuar a obedecer uma orientação irracional e suicida. Essa imbecil e covarde inação para contestar, força vital às transformações, acabará por extinguir a enferma igreja católica.
Para finalizarmos, não queremos afirmar que o celibato, que deveria ser uma opção de cada um, é responsável pela execrável conduta de alguns membros do clero. Achamos apenas que ele serve de esconderijo para tantos que são reprimidos e covardes para mostrarem sua anormal preferência sexual. A homossexualidade, escancarada nos dias de hoje, não deve ser empecilho para se pregar a mensagem da igreja. Se o homossexualismo existe, é porque assim quis a natureza. O seu rebanho é grande dentro da igreja, encurralado pelo voto – jurado e não cumprido por muitos – de castidade. O que a sociedade não aceita é que padrecos e outros mais altos na hierarquia, abusem, desumana e criminosamente, de crianças para extravasar seus instintos pervertidos.
Se esse embaixador de cristo, pai da idéia do celibato, tivesse sido mais inspirado, assim como Aldous Huxley quando imaginou para a humanidade um futuro no qual os nascimentos seriam programados para determinadas profissões, teria sido mais radical e em vez de estimular o celibato, exigiria a castração para a classe sacerdotal. De que adianta exigir a castidade, deixando solto o demônio da tentação carnal? E qual é a finalidade do celibato? Fazer com que os padres tenham uma dedicação plena aos afazeres da igreja e à contemplação divina? Pura sandice de um carola efeminado que pretendendo elevar-se às delícias do céu, foi vítima de uma visão unilateral, incapaz de calcular a decida na lama dos muitos que não podem sustentar-se na leveza etérea de pura espiritualidade. O racional e o espiritual, dom sublime do Criador concedido ao homem, está ligado, inconcebivelmente, às funções animais e a alguns instintos repulsivos. Assim, como ater-se com serenidade à contemplação e obediência a um estúpido voto de castidade, se essa promessa não tem outro objetivo senão fazer com que o padre conviva com uma guerra íntima a querer jogá-lo no abismo das tentações? Se o sacrifício, como pensam alguns, é uma prova de amor a Deus, este não passaria de um sádico sem amor. Pintam Deus com as mais belas virtudes e agem radicalmente em desacordo com a pintura.
A castração seria um ato desumano e anticristão, mas seguiria a linha das contradições, da vantagem e da desvantagem. A vantagem é que com um clero de eunucos, nem ativo, nem sexualmente passivo, mas neutro, teríamos uma igreja bem mais comportada, mostrando-se com toda fidedignidade em oposição aos hipócritas que do púlpito exaltam os princípios de moralidade e por trás, no amplo sentido para alguns, agem de forma diametralmente oposta. Com seu exército clerical efeminado na voz, seria um trovão de respeitabilidade, isentando-a de provações de credibilidade que vem minando sua sobrevivência, decorrente dos escândalos sexuais.