Três gerações de moradoras do bairro do Trapiche conversavam tranquilamente na tarde da última quarta-feira (25) às margens do Canal do Trapiche. Sentadas em cadeiras, avó, filha e netas curtiam o aprazível crepúsculo aprazível bem ao lado do equipamento instalado pela Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) no local.
Deruza Almeida Soares comemora limpeza
Deruza Almeida Soares comemora limpeza
Há pouco mais de um mês a cena não seria possível. Culpa dos mosquitos, que durante o verão se proliferam tão voraz e rapidamente no leito das águas paradas que, além de impedir a permanência das pessoas nas ruas, atacam de modo incessante até mesmo dentro das casas.
“Era tanto mosquito que gente não conseguia nem falar”, revela Gedalva Vicente Gomes, que mora há mais de 50 anos no local. “Teve uma vizinha aqui que chegou a fechar a porta do quarto e toca fogo dentro para que a fumaça espantasse os mosquitos”, complementa Deruza Almeida Soares.
Juntas, elas recordam a época de construção do canal, há quase 30 anos. “A gente viu desde o começo. Sempre teve muito mosquito e sujeira. Agora, está muito melhor”, reitera Deruza.
Limpeza no canal do Trapiche
Limpeza no canal do Trapiche
E o cenário mudou graças ao equipamento instalado pela Slum, conhecido como barragem hidráulica (ou barragem móvel). O sistema é simples. A água do canal é represada por 24 ou 48 horas e depois é liberada. A onda formada pela descarga d’água varre a lama do fundo canal e empurra os resíduos até uma tela de contenção, onde os garis coletam o material de maior volume. Com o movimento diário no fluxo do canal, os mosquitos – que precisam de água parada – não conseguem se proliferar.
“Está dez mil vezes melhor hoje. Quando dava quatro da tarde, ninguém mais saía de casa”, reforça Marcelino de Oliveira, morador da localidade há mais de 50 anos. “Depois que começaram a fazer a limpeza, a situação melhorou demais”.
70 toneladas
Ricardo Barbosa comanda a equipe manual, de mais cinco garis, que tem a missão mais árdua de retirar os resíduos mais volumosos da tela e de dentro do canal. “Era tanto mosquito que parecia uma colméia de abelha. Hoje, quando chega essa hora das cinco da tarde, você vê um ou outro perdido”, confirma.
A equipe que trabalha diariamente das 07h às 16h, geralmente a hora em que a onda é liberada, coloca os resíduos em duas caixas estacionárias (contêineres de maior porte, com capacidade para cinco toneladas cada), que enchem a cada dois dias, quando são levadas para o Aterro Sanitário de Maceió.
Em aproximadamente um mês no local, os garis já retiraram o equivalente a 70 toneladas de lixo de dentro do canal.
No trecho em que os garis atuam dentro do canal, o cenário é de muita lama e de todo o tipo de resíduo possível. “Aqui a gente encontra de tudo”, diz o agente de limpeza Williams dos Santos, que mostra a parte mais complexa do leito do canal. “Além de ter muita lama – a gente chega a ficar com lama no meio das pernas -, eu já encontrei muitos animais mortos também”, comenta.
A chuva que caiu nos últimos dias ajudou. A força da água carreou a lama para a foz da lagoa, num processo natural semelhante à metodologia utilizada pelo equipamento. Contudo, os trabalhos no Canal do Trapiche devem continuar ao longo de todo o mês de março.
“Já começamos a ver os resultados por aqui. O objetivo é continuarmos aqui até a conclusão da extensão do canal”, explica o diretor de operações da Slum, Pablo Ângelo de Almeida. “Daqui vamos instalar o equipamento no Canal do Joaquim Leão. Já o equipamento que está no Canal do Gulandi deverá ser instalado no Riacho do Sapo na sequência, mas não há previsão de transferência”, detalha.
Já o terceiro equipamento de barragem móvel está instalado de modo fixo no Riacho do Salgadinho, em trecho situado no Vale do Reginaldo. Além disso, uma equipe de limpeza manual com dez agentes também atua em sistema de rodízio nos demais canais que passam pela capital.
