A renda de bilro, uma arte trazida pelos portugueses e difundida principalmente no Nordeste, estava perdendo espaço no Sertão sergipano. O trabalho delicado de tecer as linhas na almofada através dos bilros (pequenas hastes de madeira) estava a ponto de ser extinta no estado, já que apenas cinco idosas no município de Poço Redondo ainda cultivavam essa tradição. Foi com o objetivo de resgatar essa memória e difundi-la para as novas gerações que nasceu o Ponto de Cultura ‘Na Trilha do Sertão’. A ação faz parte do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura (Minc), que em Sergipe é coordenado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult).
Inicialmente, adolescentes e jovens do município foram capacitadas em uma oficina que ocorreu em julho de 2011, trabalho que, segundo a coordenadora do Ponto de Cultura, Marluce Rocha Falcão, precisou vencer o preconceito das meninas. “Além de acharem que era coisa de velha, elas não queriam andar com a almofada de bilro nas pernas, elas achavam feio. Então, para acabar com isso, nós criamos um suporte onde elas colocam a almofada em cima. Após essa adaptação, até as rendeiras antigas também gostaram e aderiram ao suporte”, explica.
Além disso, as almofadas que antes eram cobertas com panos de saco ganharam um novo revestimento, mais colorido e com vida, despertando ainda mais o interesse das jovens em aprender a arte produzida desde os tempos das suas bisavós.
Esse trabalho de formação das artesãs mirins contou com a parceria do Sebrae e capacitou 20 jovens que hoje produzem e vendem a renda de bilro. Elas passaram a produzir também réplicas das almofadas de bilro para comercializar como souvenir. Com a venda das peças, parte do dinheiro arrecadado é repassado para as artesãs. “Graças à Deus, com esse trabalho, temos alcançado muitos frutos. É muito bom ver que esses jovens estão utilizando o que aprenderam para gerar renda para suas famílias”, comemora Marluce.
Para a secretária de Estado da Cultura, Eloísa Galdino, o projeto ‘Pontos de Cultura’ vem desempenhando um papel de destaque na preservação da cultura sergipana. “Este trabalho dialoga com as nossas políticas públicas para a área da cultura, e o mais importante: eles estão produzindo resultados muito positivos na qualificação dos nossos jovens e na preservação da nossa identidade”, afirma. Atualmente, existem mais de 650 Pontos de Cultura espalhados pelo Brasil e 30 deles estão em Sergipe.
Na trilha do projeto
Marluce Falcão, coordenadora do Ponto de Cultura localizado em Poço Redondo, conta que neste primeiro ano de atuação já foram realizadas, além da oficina com as jovens rendeiras, oficina de multimídia com os estudantes de cinco escolas da região e uma oficina de guias turísticos. “O sertão tem potencialidades e pode absorver esses jovens no mercado de trabalho, eles só precisam de uma oportunidade para se qualificarem”, ressalta a coordenadora do projeto.
Para este ano, o Ponto de Cultura ‘Na Trilha do Sertão’ deverá realizar oficinas de trabalhos em couro e em palha, utilizando sempre a estética e o imaginário do cangaço. Haverá ainda uma oficina de mudas de orquídeas, que será trabalhada diretamente com os jovens da comunidade quilombola da Serra da Guia. “Queremos despertar o interesse desses jovens para a preservação do que há de mais bonito na região da Serra da Guia”, destaca Marluce.
Após as oficinas programadas para acontecer ainda este ano, o Ponto de Cultura ‘Na Trilha do Sertão’ irá promover um Colóquio com o tema ‘A mulher sertaneja no cenário do Cangaço’ e, por fim, para concluir os trabalhos será realizada uma Feira Cultural com os produtos confeccionados dentro do projeto.
Sobre os Pontos de Cultura
Em Sergipe, atualmente, 30 instituições são beneficiadas pelo ‘Pontos de Cultura’ – ação do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura (Minc), adotado pela Secult de Sergipe. Após serem aprovadas, através de editais, as iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil passam a receber verba federal para colocarem em prática suas ações.
Os Pontos aprovados no edital devem ser projetos sem fins lucrativos de caráter cultural ou com histórico de atividades culturais e devem ser coordenados por instituições que atuem na produção artístico-cultural há pelo menos dois anos, contribuindo para a inclusão social dos envolvidos.