O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, anunciou, junto ao prefeito de Santos, Rogério Santos, e o de Araraquara, Edinho Silva, o início de um projeto piloto para utilizar plasma convalescente para tratar pacientes com Covid-19. Em ambas cidades, poderão receber o tratamento pessoas imunossuprimidas, com comorbidades e maiores de 60 anos – é necessário ter diagnóstico comprovado de Covid-19.
O piloto em Santos e Araraquara está inserido no contexto do estabelecimento de uma rede para a coleta e distribuição do plasma convalescente organizada pelo Instituto Butantan. Para isso, hemocentros com diversas unidades espalhadas pelo estado de São Paulo se tornarão pontos de coleta, armazenamento e distribuição do plasma hiperimune: H.Hemo, Pró-Sangue, Hemocentro da Unicamp e Hemocentro de Ribeirão Preto.
Enquanto a hemorrede coletará o plasma de voluntários que já tenham tido Covid-19, os municípios de Santos e Araraquara montarão estruturas para avaliar o impacto de seu uso no tratamento de pacientes, sempre acompanhados pela equipe do Butantan. Se o piloto der certo, a ideia é expandir o tratamento para todos os municípios do estado. “Santos e Araraquara são pilotos controlados. Mas qualquer município que tenha banco de sangue pode incluir a terapia de plasma nos seus procedimentos”, explica Dimas Covas.
Há diversos estudos sobre o tratamento de Covid-19 com plasma hiperimune, alguns deles realizados no Brasil. Segundo Dimas Covas, a partir dessa base de conhecimento é possível concluir que o plasma não funciona tardiamente, ou seja, deve ser usado precocemente (após no máximo 72 horas do surgimento dos sintomas) e em volumes importantes. “Essas características estão sendo observadas no protocolo que foi validado pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e que está se tornando uma rotina em muitos hospitais”, completa o presidente do Butantan.
A utilização de plasma convalescente no tratamento de pacientes de Covid-19 é comum na Argentina, por exemplo. Além disso, o Butantan chegou a enviar a Manaus plasma convalescente para ajudar no tratamento de vítimas do novo coronavírus no auge da crise sanitária do Amazonas. O protocolo da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) sobre o assunto pode ser consultado neste link.
O que é o tratamento com plasma convalescente?
O plasma é a parte líquida do sangue, e é nele que estão contidos os anticorpos. O objetivo de um tratamento utilizando plasma convalescente é transferir ao paciente, de maneira passiva, um quantitativo de anticorpos suficiente para combater o vírus. Dimas Covas compara o tratamento a uma vacina imediata: ele transfere anticorpos contra o novo coronavírus ao mesmo tempo em que o organismo do paciente responde pela sua imunidade normal.
O plasma convalescente é obtido por meio de doação voluntária de plasma por aferese ou de plasma por meio de doação de sangue total de pessoas que já foram contaminadas pelo novo coronavírus e que, portanto, já possuem anticorpos. Para doar, é fundamental que a pessoa tenha sido contaminada pela Covid-19 pelo menos 30 dias antes do ato da doação. É preciso estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 kg, evitar alimentação gordurosa antes da doação e apresentar documento original com foto.
Apenas homens podem se voluntariar para doar o plasma convalescente. Isso porque, durante a gestação, a mulher libera anticorpos na corrente sanguínea que podem causar, no paciente que recebe o plasma, uma lesão pulmonar grave associada à transfusão chamada TRALI (transfusion-related acute lung injury).
