×

Alagoas

Pesquisadores identificam corais de aquário como vetores de bioinvasão marinha

O estudo confirmou uma bioinvasão marinha

Por trás do cultivo de corais de aquário pode haver um grande problema ecológico. Professores da Universidade Federal de Alagoas foram convidados para avaliar um fenômeno registrado na Bahia desde 2018, quando mergulhadores observaram corais moles desconhecidos, formando um enorme “tapete azul”. O estudo confirmou uma bioinvasão marinha, que está mudando o ambiente recifal de algumas praias da Baía de Todos os Santos, em Salvador.

O professor Cláudio Sampaio, do Laboratório de Ictiologia e Conservação (Lic) da unidade da Ufal em Penedo, explica que foram identificados dois octocorais nativos do oceano Indo-Pacífico e conhecidos do mercado ornamental marinho, sendo utilizados em aquários domésticos.

Os resultados do estudo, que registrou as espécies pela primeira vez no oceano Atlântico, foram publicados recentemente no periódico Journal of the Marine Biological Association, do Reino Unido.

“Esses octocorais estão invadindo os ambientes naturais, como costões rochosos e áreas adjacentes, incluindo naufrágios. Essa bioinvasão causa intensa disputa pelo espaço entre os octocorais estrangeiros e espécies exclusivas do litoral brasileiro e, como crescem rápido e não possuem predadores naturais, estão ganhando essa disputa”, alerta Sampaio.

Técnicas de mergulho científico e análises genéticas foram utilizadas no estudo, que contou com a participação da professora Taciana Kramer Pinto, do Laboratório de Ecologia Bentônica (Leb/Ufal) e o pesquisador do Projeto Meros do Brasil – Alagoas, José de Anchieta Nunes, que é vinculado ao Lic/Ufal. Também assinam o artigo pesquisadores das universidades federais da Bahia (Ufba) e de Pernambuco (UFPE), além da Harvey Mudd College, nos Estados Unidos (EUA).

Trabalho prevê grandes prejuízos

O estudo feito em parceria com os pesquisadores da Ufal identificou duas espécies invasoras de octocorais, além de quantificar sua distribuição e abundância. O trabalho também discutiu origem, vetor e impactos sobre as espécies nativas como o primeiro passo para monitorar a invasão.

De imediato, os resultados revelaram dois novos octocorais nocivos para os recifes rochosos tropicais do Oceano Atlântico. Um é do gênero Sarcothelia (Xeniidae), 'pólipos azuis', nativo do Havaí e o outro é um Briareum hamrum (Briareidae), nativo do Oceano Índico, de cor acastanhada a creme. A Sarcothelia foi identificada como dominante no recife rochoso, exibindo alta cobertura também nos habitats arenosos e adjacentes. Já as colônias de B. hamrum foram encontradas fora da área de amostragem.

O professor Cláudio Sampaio alerta sobre os riscos: “Além de causarem prejuízos para a fauna e flora nativa, estão alterando a paisagem do fundo, deixando nossos recifes menos coloridos e atraentes”.

Causas podem ser evitadas

De acordo com Sampaio, os octocorais encontrados são rústicos, atraentes e de fácil manutenção em aquários. Mas essas características que chamam atenção dos aquaristas podem se tornar o maior risco para a invasão biológica, já que os animais são resistentes e não têm predadores naturais, por isso o perigo de entrar em contato com espécies nativas.

Sua invasão [na Bahia] pode ter sido iniciada com a soltura de alguns pólipos por um aquarista que desconhecia os riscos. Como esses octocorais crescem rápido, o aquário poderia estar cheio e sem avaliar as consequências negativas, um aquarista soltou na praia”, considera o docente.

Os pesquisadores reforçam no estudo a necessidade de uma mobilização que envolva lojistas, mergulhadores e os órgãos competentes para evitar novas invasões: “Após identificar o comércio de aquários como o principal vetor de introduções de octocorais, reforçamos a importância de fiscalizar a importação de espécies marinhas e a necessidade urgente de implementar um plano governamental para mitigar os impactos das espécies invasoras nos recifes naturais do Brasil”.