Pesquisadores apoiados pela Fapeal, como o físico Francisco Fidelis, revelam outros talentos por trás dos jalecos e da rotina de sala de aula
Progredir na carreira de pesquisador, em Alagoas e no mundo, traz desafios e responsabilidades. A esta missão de examinar a realidade e estar sempre se atualizando, soma-se a carga daqueles que também se ocupam do trabalho de formar e preparar os novos pesquisadores. Talvez muitos ainda os desconheçam, pois se criou um estereótipo de que eles estão tímidos em seus laboratórios, se debruçando dias e noites em trabalhos que, se até hoje não transformaram vidas, de certo algum dia transformarão.
Porém, em julho, quando se comemorou a pesquisa científica e o pesquisador brasileiro, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) investigou talentos, na busca de saber quem são os pesquisadores por trás dos dados, gráficos, artigos científicos e todas as aulas preparadas semanalmente. Com quatro personagens (músico, fotógrafo, atleta e DJ), representando um espaço tão diverso, a reportagem descobriu como essas facetas se misturam.
A acústica da física
Desde 2004, o doutor Francisco Fidelis atua da graduação à pós-graduação no Instituto de Física da Universidade Federal de Alagoas (IF Ufal) e tem como especialidade a física do estado sólido, uma área que estuda as propriedades elétricas, em condições térmicas.
Um de seus maiores prazeres é dedicar-se à docência, mas não o único. Fidelis relata que aprendeu a tocar violão aos 16 anos, sendo autodidata e tendo um vizinho que o incentivava. Mas ele se encantava mesmo com os chorinhos que o pai sempre escutava com seus vinis na vitrola de casa.
Ingressando no mestrado, a vida acadêmica não o distanciava em nada deste amor. O pesquisador alimentava a curiosidade por música, inclusive na Física, através da acústica dos instrumentos e dos sons. Com metas traçadas, seguia o seu trajeto de pesquisador, porém sem nunca esquecer o lado artístico.
Mas na época de sua formação, relembra, ser músico nem sempre foi visto com bons olhos. As pessoas acreditavam que esta prática o afastaria dos seus estudos e da possibilidade de se tornar um pesquisador sério, e esta foi uma transição que ele teve de enfrentar com muita determinação.
Dono de composições próprias, o físico diz que toca os chorinhos todos os dias, pelo menos uma hora, de forma saudosa, seja no violão de sete cordas, no violão tenor ou no bandolim, instrumento pelo qual possui uma enorme dedicação e lembra-se das peripécias que fez para conseguir seu primeiro exemplar:
“Eu ainda era estudante quando fui participar de um congresso no Rio de Janeiro, mas estava motivado mesmo era para encontrar um bandolim porque na época não existia este instrumento em Maceió. Chegando lá eu comprei, mas restou pouco dinheiro para que eu passasse a semana, o que para mim não importava. Eu alimentava uma paixão enorme para aprender a tocá-lo”, alega.
Ele comenta inclusive sobre a quantidade de músicos que têm habilidades e uma inclinação à música, não só pela curiosidade, mas por ter um ouvido sensível à construção dos sons, provando que existe sim uma ligação com os aspectos físicos: “Na minha vida eu não consigo separar a Física da música. Eu me vi em muitos momentos terminando trabalhos científicos cheios de problemas e pegando o violão, tocando um pouco. Os dois estiveram muito presentes em minha realidade”, explica o professor.
Fidelis tem uma relação antiga com a Fapeal. Já foi beneficiado com três projetos de pesquisa e, atualmente, foi aprovado no edital de apoio a Pesquisas dos Programas de Pós-Graduação (PPG).
