São diversos os benefícios terapêuticos da própolis vermelha de Alagoas. O material é estudado por pesquisadores brasileiros e do exterior. Na Ufal, também são várias as pesquisas que se dedicam a encontrar maneiras de utilizar as propriedades deste bioproduto tipicamente alagoano em tratamentos principais ou coadjuvantes.
No Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), o professor Irinaldo Diniz lidera um estudo sobre o uso da própolis vermelha na produção de uma membrana para tratar feridas na pele. Conhecidas por escaras ou lesões por pressão, são um sério problema de saúde pública, pois prolongam o tempo de tratamento e interferem diretamente na qualidade de vida. Pacientes acamados, cadeirantes ou imobilizados por muito tempo são os grupos com mais chances de desenvolvê-las.
“As lesões por pressão são feridas decorrentes de isquemia tecidual local provocada pela alteração de reflexo de dor em pacientes com lesão medular, debilitados, idosos ou cronicamente doentes” esclarece o professor Irinaldo. Ainda de acordo com o pesquisador, esse tipo de lesão “acomete, em média, 29% dos pacientes hospitalizados, segundo dados do Ministério da Saúde”.
A pesquisa realizada na Federal de Alagoas busca otimizar o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com a expectativa de auxiliar o tratamento com os fármacos convencionais, liberando leito, reduzindo tempo e custos. “Neste momento, o projeto se encontra na fase de intervenção, prospectiva, randomizada e controlada, em que serão avaliados 60 pacientes com úlceras decorrentes de lesões por pressão (LP), internados e atendidos pelo Serviço de Atenção à Pele de Feridas (SAPF) do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (HGE), localizado em Maceió”, informa o docente.
Auxílio na regeneração rápida e efetiva do tecido
Diniz explica que as membranas enriquecidas com própolis vermelha são desenvolvidas a partir de matrizes poliméricas reabsorvíveis, que auxiliam na regeneração rápida e efetiva do tecido cutâneo. “Elas possibilitam a absorção de exsudato, mantém alta umidade entre ferida e curativo, permite trocas gasosas e representa uma barreira física contra microrganismos”, informa.
O professor reforça que as membranas são “filmes biorreabsorvíveis e representam uma alternativa viável, pois além de não enfrentarem o risco de rejeição, atuam na interface com os tecidos receptores, interagindo com eles”.
Ainda de acordo com o pesquisador da Ufal, “a associação das matrizes poliméricas com fármacos cicatrizantes podem potencializar a atividade na regeneração tecidual”. E ressalta: “Neste sentido, a própolis vermelha vem se destacando na medicina popular e atrai muita atenção por suas aplicações na prática médica, graças às suas propriedades antifúngicas, antibacterianas, antiprotozoárias, entre outras”.
Entre os tantos potenciais no tratamento estudado na Ufal, o pesquisador Irinaldo também destaca “a grande repercussão no campo psicossocial e do bem-estar do indivíduo acometidos com essas lesões, além da contribuição para o acesso mais fácil e democrático da população a tratamentos alternativos e complementares pelo Sistema Único de Saúde”.
Estudantes na pesquisa
O desenvolvimento do estudo que busca otimizar o tratamento de lesões por pressão em pacientes atendidos pelo SUS conta com a participação de duas estudantes do curso de Farmácia. E como destaca o professor Irinaldo, são elas que estão “na linha de frente” da pesquisa.
Maria Fernanda Santos, discente do 5º período, é bolsista do projeto pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti/Ufal), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela conta que tem sido gratificante se dedicar a uma pesquisa voltada para o bem-estar de pessoas atendidas pelo SUS.
“É uma experiência única. Além de ser inspiradora, pelo fato de trabalhar em um projeto que busca a saúde e a melhora dos pacientes, tem sido de bastante aprendizado também. Os experimentos, as pesquisas e os testes são um conjunto de atividades que me proporcionam muitos momentos bons. Eu estou bastante feliz e realizada em poder contribuir no projeto com as membranas”, afirma entusiasmada.
Thayná Figueredo Gois, do 6º período, também integra a equipe. Ela destaca que “tem sido uma experiência incrível” e que, diariamente, experimenta uma vivência diferente da sala de aula, com novos aprendizados e desafios.
“A atuação nesse projeto de pesquisa me permitiu ver a realidade de muitas pessoas que sofrem com esse tipo de ferida e ver a necessidade de tratamentos mais acessíveis e eficazes, que melhorem a qualidade de vida dessas pessoas. Permitiu-me também ver o quanto é importante valorizar os produtos naturais da nossa região, onde a própolis vermelha se mostra bastante promissora, trazendo resultados positivos em diversas aplicações”, comenta.
Participante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic/Ufal) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), por sua atuação no projeto com membranas enriquecidas com própolis vermelha, Thayná recebeu o Prêmio Excelência Acadêmica e Tecnológica no 30º Congresso Acadêmico de Iniciação Científica (Caic) e no 13º de Iniciação Tecnológica (Cait) da Ufal. As premiações selecionam trabalhos com resultados mais relevantes e de qualidade.
“Foi uma sensação muito gratificante. O sentimento é de dever cumprido e de que o esforço e dedicação estão sendo reconhecidos. Isso incentivou ainda mais a mim e a equipe a buscar resultados cada vez melhores”, diz a estudante.
Mais sobre o estudo
A pesquisa tem como título Avaliação clínica de curativos a base de filmes poliméricos biorreabsorvíveis associadas com Própolis Vermelha para recobrimento e tratamento de feridas cutâneas. O estudo recebe financiamento público pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapel), aprovado na Chamada Pública 06/2020 – Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): Gestão Compartilhada em Saúde – DECIT-SCTIE-MS/CNPQ/ Fapeal/ Sesau-AL.
Entre os benefícios e avanços esperados com a realização do trabalho, Irinaldo Diniz aponta que a padronização do processo de obtenção de produtos a partir da própolis vermelha é um caminho promissor e “pode ser útil na obtenção de produtos farmacêuticos de qualidade que podem auxiliar o Projeto de Estimulo à Produção Farmacêutica do Ministério da Saúde, a política de produção nacional de medicamentos para atenção básica e, assim, beneficiar as populações acometidas por lesões por pressão”.
Ainda de acordo com o docente, o objetivo final da pesquisa “é possibilitar a obtenção de bioprodutos eficientes e de baixo custo que possam contribuir para a eliminação desse tipo de lesão em menor tempo”.