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Penedo

“Penedo é uma menina que você começa a namorar, conhecer, e termina por se apaixonar”

Além dos milhares de filhos, a Cidade dos Sobrados em seus 378 anos, acolheu outros centenas

Reza a lenda que um filho convive tanto com seus pais, que às vezes passa despercebido detalhes que seriam muito importantes para quem os gerou, para quem os carregou durante meses no ventre. E já aquele que é ‘adotado’, consegue enxergar com maior clareza, detalhes que os ‘verdadeiros’ filhos algumas vezes, não conseguem.

Bem, não que um filho adotado seja diferente, menos importante que aquele consanguíneo. Sou adotado, mas, nunca escondi isso de ninguém. Nasci em Maceió, e com um ano e alguns meses, vim morar em Penedo, devido o segundo casamento da minha mãe.

Não por isso, afirmo que nasci na capital. Pelo contrário, defendo Penedo onde chego, falo que sou natural da cidade. Cresci, estudei, fiz amigos, trabalhei, fui embora e, novamente estou na cidade trabalhando, sou natural de Penedo. Também casei com uma mulher da terra. Infelizmente, pelos percalços da vida, meu filho nasceu em Arapiraca, quando ele quis vir ao mundo, na ocasião não teve médico para lhe trazer. Mas, não é por isso que a minha admiração diminuiu, ainda por ser uma senhora, aprendemos que os mais velhos merecem respeito. E esta bela e imponente senhora de 378 anos, ainda mais.

Então, em comemoração por mais um ano, fomos à busca de adotados, que aprenderam a respeitar, amar, se apaixonar, tanto quanto os que aqui nasceram. Objetivando buscar o que os ‘consanguíneos’ deixam escapar, um outro olhar.

O penedense precisa valorizar mais a sua cidade, perceber o potencial dela

O empresário natural de Minas Gerais, formado em marketing, José Carlos Tavares, 39 anos, é um adotado que se integrou à cidade naturalmente. A princípio, quando chegou em 1998, sofreu um choque cultural, mas com o passar dos anos, começou a se apaixonar, gostar da cidade.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.br“Vim para Penedo a convite do meu tio. Ele estava procurando novas praças, e terminou detectando um grande potencial econômico aqui. Então, ele abriu lojas e o acompanhei, no início, pensando apenas em juntar um bom dinheiro e ir embora”, contou.

Júnior como também é chamado pelos amigos, chegou casado, separou e novamente casou, agora com uma penedense. “Conheci minha esposa durante o carnaval de Neópolis (capital sergipana do frevo), começamos a namorar, nos casamos e estamos há cinco anos unidos. Dizem que um namoro de carnaval não demora. E o meu já tem até um menina”, brincou o empresário. Ele se integrou tanto à cidade, que também leciona na Faculdade Raimundo Marinho, duas cadeiras no curso de administração.

Como todo filho, ele faz algumas críticas, mas também destaca que a cidade tem um grande potencial, ainda não explorado. “A cidade é linda, possui qualidade de vida, opções, bons restaurantes, bares, uma vida calma, apesar dos índices de violência, que não é apenas um problema de Penedo, mas, sim, de todo o Estado. A cidade é bela, seu casario e igrejas seculares chamam a atenção. Percebo que o penedense, não generalizando, precisa valorizar mais a cidade. Saber que potencial turístico daqui é muito grande. Porém, para isso, ainda é preciso investir mais em infraestrutura, turismo, na área urbana. Os governantes ainda precisam investir mais na cidade, prepará-la, para depois chamar o turista. Potencial possuímos, muito”, observou Tavares.

Ele conta que a alguns dias, presenciou um espetáculo na natureza, que também pode ser explorado na região. O chamado o turismo ecológico, de esportes, já sendo oferecido como destino em outras cidades. “Fui até a cidade de ‘Carrapicho’ (cidade sergipana do barro, cerâmica) com uma turma de amigos, praticando stand up paddle (esporte que consiste em ficar de pé em uma prancha de surf, e remando. A prática surgiu no Havaí nos anos 40), o cenário do Rio São Francisco é belo. O pôr do sol, um espetáculo, e a cidade vista a partir do Rio, muito linda. Então, mais um potencial que pode ser explorado, ser vendido, divulgado. Além das belezas arquitetônicas, as belezas naturais da região”, colocou.

Concluindo a entrevista que aconteceu em uma das três lojas, das quais é sócio na cidade, e ao lado da sua esposa penedense, perguntei se hoje ele deixaria Penedo, por algum motivo: “Já recebi convites do próprio grupo do qual faço parte, e de outros, para gerir negócios em praças diferentes. Não foi convidativo. Hoje estou bem na cidade. Mas, também não posso dizer se amanhã uma proposta for satisfatória, recuse. Mas, enquanto isso, tenho qualidade de vida e o que eu busco na cidade. Penedo é um menina que você começa a namorar, conhecer, e termina por se apaixonar”.

Uma defensora ‘tchê’

Para aqueles que não sabem, Andrea Carla Tonin, idade, não sou atrevido, nem muito menos deselegante para perguntar, é natural do Rio Grande do Sul, gaúcha. Traduzindo, um mulher tchê, amiga. Ela é mais uma que adotou, ou melhor, foi adotada.

Tonin reside na cidade deste 2011, chegou em Alagoas por concurso público prestado para integrar os quatros da Defensora Pública, sendo designada para Penedo. Ela também é mãe de uma menina, que como vários penedenses, estuda no centenário e rígido colégio de freiras.

Arquivo pessoal“Desde que cheguei ao estado para exercer o cargo de defensora, em maio de 2011, que resido em Penedo, minha primeira comarca e onde fixei morada. Acredito que somente vivendo a vida da cidade é que podemos efetivamente contribuir para sua melhoria em todos os aspectos. Como sou de fora, era importante conhecer a vida do povo daqui, conhecer a cultura, a história, e a fluência da cidade para quem dela faz parte”, analisou.

Com relação aos trabalhos desempenhados na cidade, a defensora conta que muitas avançaram.

“Lembro da luta para criar o caixa preferencial nos supermercados e minha insistência para que efetivamente funcionasse, uma coisa tão singela, mas que faz muita diferença para quem dela tem direito. Ainda hoje intervenho quando vejo alguém no caixa preterindo alguém que tem direito a ele, mas isso também é educar para a cidadania, uma das minhas funções institucionais”.

Como todo bom filho, a defensora faz algumas observações com a sua morada.

“A cidade me parece mais conservada, tanto em suas memórias do Centro Histórico, quanto nas residências, embora, ainda seja necessário um investimento em pavimentação de ruas, uniformização das calçadas, instalação de coberturas para os pontos de ônibus. Instalação de lixeiras e a implantação de coleta seletiva. Tudo para que possa contribuir com a nossa cidade, e também poderia ser uma fonte de geração de emprego e renda. Outro ponto, melhorias das praças, como a construção de parquinhos para que as nossas crianças possam se divertir. Seria uma boa opção de divertimento, até aos finais de semana”, colocou.

E a gaúcha encerrou: “Quero parabenizar essa cidade que eu escolhi para ser um pouco minha, e dizer que sou toda dela. Sigo meu caminho e na luta pelos direitos fundamentais e pela justiça social, um desafio cheio obstáculos, mas que vale muito a pena porque Penedo e os penedenses merecem”.

Um profissional que prima pela categoria

Coincidências a parte, nosso terceiro e último adotado, também é mineiro, Wagner Souza Leite, 38 anos. Igualmente ao primeiro, chegou na cidade em 1998, após a separação dos seus pais. Trabalhou em um posto de combustíveis na Orla, foi comissionado da Ciretran local, atualmente é taxista e prestador de serviços da Prefeitura de Penedo, lotado na Secretaria de Saúde, fazendo o transporte de pessoas que necessitam de diálise em Arapiraca.

“Meus pais se separaram, então acompanhei minha mãe, que é natural de Penedo. Meu pai ficou em Minas, e sempre ia visitá-lo quando vivo. Aqui conheci minha primeira esposa, que é professora da rede pública estadual de ensino. Tenho dois garotos com ela, e já estou no meu segundo casamento. Gosto muito de Penedo, amo, embora tenha mágoas de algumas pessoas, que me prejudicaram, tiraram o meu sustento por um bom tempo no passado. Mas, apesar de tudo, perdoei. Deus ajuda a curar as feridas”, disse.

Wagner diz que na primeira gestão do atual prefeito, ganhou uma concessão de uma praça de táxi na orla. Porém, quando ouve a mudança de administração, ela foi cassada. Recorreu na Justiça, a litigância durou um bom tempo, depois a sentença foi favorável a administração. Só agora, a Prefeitura lhe deu novamente a concessão para voltar a trabalhar como taxista.

Como todo profissional, ele defende a categoria e alerta que o trânsito está em fase de crescimento e a cidade já começa a precisar de mudanças para a boa convivência.

“Penedo cresceu, as ruas, o trânsito. Se existe o crescimento, vários fatores precisam acompanhar. Quanto a sinalização de trânsito, vejo que em alguns lugares a cidade precisa de semáforos. Existem cruzamentos intensos em Penedo, em que os condutores não respeitam as leis. Então, precisamos de outros instrumentos, como placas de sinalização, barreiras, mão única, e até guardas que possam orientar e, se preciso, multar”, mencionou.

Em meio as suas observações, ele pede ao gestores que por Penedo passarem, independente de ideologias partidárias, olhem mais pela cidade, cuidem, preservem, como se um filho fosse.

O taxista Wagner Souza Leite, 38 anos, apesar de ser mineiro, e do Rio São Francisco nascer em seu estado natal, ele garante: “Apesar do ‘Velho Chico’ ser mineiro de nascimento como eu, a água que banha Penedo é muito boa, diferente. E quem bebe, não que ir mais embora [risos]”.

Essa é Penedo, acolhedora, bela, e repleta de histórias, sejam elas dos aqui nascidos, ou dos ‘adotados’, que passaram a integrar sua história. Defeitos, pode ter. Afinal, ninguém é perfeito. Essa é uma pequena homenagem à bela e histórica Penedo, pela passagem dos seus 378 anos de história, de todos que fazem parte do maior portal do Baixo São – www.aquiacontece.com.br -, integrante da Organização Hélio Lopes, também detentora da Rádio Penedo FM. Parabéns!!!