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Penedo e Piranhas: O que têm em comum?

Há uns três anos atrás, com alguns amigos, estivemos na cidade de Piranhas. Não a conhecíamos e ficamos sem conhecê-la no todo por falta de tempo. Tínhamos saído de Paulo Afonso com a finalidade de dar um passeio pelo lago de Xingó. Lá chegando, depois do passeio acima, fomos em direção à beira do rio. Instalamo-nos em um bar para beber. Ficamos incrédulos com o calor que sentíamos, não obstante fôssemos todos nordestinos, conhecedores das altas temperaturas. O de Piranhas é abrasante. Quase ninguém teve necessidade de ir ao banheiro. Todo o líquido ingerido era eliminado abundantemente pelos poros. Lembramo-nos da nossa Penedo, também quente, mas nem tanto.

Com essa característica aparentemente inóspita, seria concebível que fosse habitável tão-só por homens de fogo e seus habitantes perfeitamente adaptados. Não podíamos, assim, acreditar, mesmo com toda imaginação, que alguma iniciativa fosse capaz de fazê-la mexer-se sob os raios do sol escaldante. Ledo engano, o milagre está acontecendo.
Semanas atrás, quando conversávamos sobre turismo, veio à tona a cidade de Piranhas por intermédio de um penedense que há pouco a tinha visitado. Ficou deslumbrado. Relatou-nos da sua surpresa em ter visto algo que foge a quase regra geral das cidades por este Brasil afora onde seus administradores, sem o senso da estética, indiferentes, displicentes e incivilizados, pouca ou nenhuma importância dão à beleza das mesmas. Viu uma cidade com aparência de uma noiva no dia de seu casamento. As casas são pintadas com todo esmero. As ruas são impecavelmente limpas. Seus olhos, disse-nos, começaram a lacrimejar. Foi uma emoção simultaneamente conflitante entre o encantamento de ver uma pequena cidade bonita e bem arrumada e o desencanto com Penedo. Uma Penedo escondida sob o manto de uma lamentável realidade, suja e, o que é pior, órfã de um projeto que possa resgatar-lhe a imponência do passado, de um dedo que aponte, com toda ênfase, na direção da sua natural vocação.

Afinal de contas, o que há de comum entre elas? Em que diferem? Com uma topografia diametralmente oposta, diríamos que o que há de mais comum entre as duas é o fato de serem banhadas pelo Rio São Francisco. Façamos outras interrogações. Qual delas tem o maior potencial turístico? Presumimos que seja Penedo. Quem, atualmente, tem o maior fluxo turístico? Piranhas. Como conseguiu essa façanha? Através da publicidade. O que tem Piranhas para oferecer ao turista? A administração local enumera o centro histórico, cânions do São Francisco, hidroelétrica de Xingó, artesanato, mirante, museu do sertão e música ao vivo. Penedo, infelizmente, não consegue ofertar tantas opções. Por quê? Puro comodismo, aliado a uma deficiência de visão. Há muito ela se encontra sentada na cadeira de um oftalmologista para tentar curar uma cegueira que teima em persistir no tempo. Esperamos que a cura aconteça o mais rápido possível e possa enxergar muito além do que habitualmente oferece ao turista.

Constatados esses inconcebíveis disparates, é difícil sermos condescendentes com Penedo, vítima de sucessivas administrações de olhos vendados, sem convicção do rumo a seguir, tateando no escuro para tentar adivinhar o caminho da claridade. O atual prefeito, Israel Saldanha, como exceção, empreende alguma iniciativa na área de lazer e cultura, destacando-se a inauguração das novas reformas da Casa de Aposentadoria onde estão a funcionar a Academia Penedense de Artes e Letras, restaurante, área de artesanato e, aos sábados à tarde, na praça de eventos, música ao vivo.

Embora representem um pequeno passo, esperamos que sirvam de inspiração para que outros maiores possam ser dados.
Por outro lado, com uma paisagem um tanto hostil, a pobre Piranhas procura redimir-se de suas carências. Com a chama vital a inspirar-lhe a criatividade, está a ignorar a inclemência da natureza que a envolve e parte, com sucesso, em busca da redentora mina de ouro do turismo, um dos mais importantes segmentos da economia mundial, em crescente ascensão. Era preciso acreditar e ousar. Foi exatamente o que fez.

O que não pode acontecer é que se dê por satisfeita e acomode-se com os louros de uma batalha provisória. A criatividade é uma atividade permanente. Nada é definitivo e somente as guerras convencionais têm fim, não a do dia-a-dia que é uma luta constante a renovar a vida.
Sentada no trono de um paraíso sem vida, Penedo lembra uma debiloide apoiada nas muletas do passado e, recusando-se a assumir o que deveria e deve ser, prefere abrir a janela do tempo para, com uma índole preguiçosa e inerte, vê-lo passar na sua fria e insípida aridez.

Em síntese, é como se estivéssemos diante de Golias e Davi. São duas cidades com potencial turístico. De um lado, Penedo, o Golias que deveria estar se destacando pela sua condição de histórica, nacionalmente conhecida e muito além, era de se esperar que estivesse oferecendo ao turista um roteiro mais diversificado, além de suas igrejas e casario colonial. Do outro, Piranhas que, transfigurada em Davi, menor, mas bem mais inteligente, corajoso e criativo, está sabendo tirar melhor proveito em relação ao míope Golias, ocupando atualmente, a nível estadual, a terceira posição.

Essa inacreditável realidade apoia-se numa abismal diferença entre as duas: enquanto Piranhas está sendo agraciada com a competência da atual administração municipal, que soube envolver a população na arrancada para o sucesso do turismo, Penedo, com tudo para consumar sua vocação, está perdida no tempo, e não sabemos quando, cheia de convicção, tomará a iniciativa para alçar vôos de imaginação para amenizar o tempo perdido.