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Pelo andar da carruagem

Não há dúvida que é muito cedo para fazermos uma previsão do que será, concluído o mandato, a atual administração municipal. Temos em nós, no entanto, o sentimento da intuição que, reforçado pela regra de que a comparação reforça a generalização e explica a exceção, o andar da carruagem, pela observação comparativa de fatos semelhantes, dá-nos uma idéia do itinerário e destino final, infelizmente nada animador.

O prenúncio de mau agouro já tem início na campanha eleitoral com cenas vergonhosas de espionagem às manifestações do eleitor, com o intuito de inibi-lo e pressionar sua escolha, ofuscando a democracia no mais comezinho direito do cidadão. Um verdadeiro show de barbarismo, numa total falta de conhecimento do que seja política, como fazê-la de uma maneira elevada, regredindo à condição de amadores. Em virtude disso, vivemos o obscurantismo da democracia, subjugada que se encontra a razão aos baixos instintos do ódio e da intolerância.

Não bastasse o manto das trevas que nos envolve na vergonha, fato inusitado, indigesto e nada palatável ao eleitor que escolheu o atual prefeito, diz respeito ao autoritarismo da Secretária de Ação Social que, extrapolando funções adstritas à sua pasta, interfere nas demais, dando a entender quem manda na administração municipal. Servindo-se dessa aberração, é natural que a opinião pública, nas mais variadas reações que vão da revolta, da frustração do voto dado, transforme o Prefeito no centro das chacotas. Ávida pelo poder, mas arredia ao bom-senso, dá o ritmo e as cores da atual gestão, pintando o “sete” com as tonalidades da intolerância e do nanismo no discernimento de suas decisões. É tão difícil a atividade cerebral? Como seria bom se a secretária, adepta do racional, se inspirasse no Voltaire quando dizia que a razão é doce, é humana, inspira a indulgência, abafa a discórdia e fortalece a virtude.

O que mais chama a atenção nessa anomalia de atribuições é o verdadeiro estelionato do poder pela secretária em referência. E perguntamos: seu poder de mando além dos limites, é uma decisão do Prefeito ou imposição da mesma? Seja qual for à resposta, nenhuma goza da aprovação e do respeito da opinião pública. Na primeira hipótese, seria de se lamentar tão estapafúrdia iniciativa, confundindo a coisa pública como uma extensão do particular, para satisfazer caprichos domésticos. Na segunda, diríamos que o Prefeito é digno de comiseração. É tão notória essa inversão do poder, comenta-se publicamente, que quando alguém quer tratar de negócio que envolve o município, dirige-se à secretária e não ao Prefeito. Onde estamos? Penedo virou casa de sogra? Quando alguém recebe um mandato público, pode dispô-lo como bem entende? Não, sob pena de incidir na irresponsabilidade.

Qual a conclusão que podemos tirar dessa super-secretária? Achamos, dentro do absurdo que vivemos, que o Prefeito, a revelia da consulta popular, instaurou o parlamentarismo municipal. A secretária em tela é a primeira-ministra e, como tal, é quem governa. O Prefeito, numa função um tanto figurativa, é o chefe de Estado. É o pitoresco que faltava para ficar registrado na história de Penedo. Para tentar amenizar a culpa do Prefeito, perguntaríamos: será que a explicação estaria numa possível depressão, adquirida no curso da árdua e difícil campanha eleitoral? Esse quadro doentio não seria o responsável pela fobia em querer administrar? Se verdadeira fosse essa suposição, por um lado teríamos de lamentar e, por outro, seria capaz de resgatar-lhe todos os pecados cometidos.

Confessamos, é grande o nosso desconforto em abordar os presentes fatos, em razão do relativo conhecimento que temos com o Prefeito e ter-lhe sido um fiel eleitor. Mas como não devemos confundir o público com o particular, fazemos, sensíveis aos sussurros e insatisfação das ruas, imbuídos do espírito de crítica construtiva, na esperança de que, feita a devida avaliação, passem as ações a fluir dentro da normalidade.

Dizíamos, no início, que é muito cedo para fazermos uma avaliação da atual gestão do município. Podemos, no entanto, seja qual for o resultado, se mudança não houver, que desaprovamos o conflito de poder, situação que denigre a imagem de Penedo. Em síntese, não achamos que essa aparente acefalia seja o prenúncio do sucesso. Face a esse quadro que destoa das expectativas, sentimos palpitar dentro de nós a força do instinto das aves migratórias e, contrariando o nosso conservadorismo, buscar refúgio na segurança de novas e alentadoras esperanças.