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PCC vence eleição presidencial

Participantes da oficina de avaliação em Pirapora-MG

Embora alguns pareçam bem reais, não existe, na maioria dos sonhos, qualquer coerência. Raramente ficam retidos na memória e são esquecidos no confuso emaranhado de suas obscuras significações inconscientes. São, em grande parte, resultado das impressões do dia a dia, traduzidos em imagens que vão do real ao irreal. Não foi outra a causa do sonho abaixo, claro na memória nos mínimos detalhes, senão o bombardeio diário pelos meios de comunicação sobre rebelião nos presídios e os escândalos e tramas de corrupção envolvendo grandes empresas da construção civil, as maiores do país, mancomunadas com políticos do mais alto escalão do executivo e legislativo. Eis como transcorreu.

 Vejo pela televisão, acenando para o povo, a figura de Marcola, ex-chefe e criador da extinta facção criminosa, criada na capital de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital. Duas coisas deixaram-me incrédulo e estupefato. Marcola, no parlatório em frente ao palácio do planalto, exibia no peito a faixa presidencial. A multidão em frente, toda de cabeça para baixo, formava um perfeito mapa do Brasil. Quando aplaudia o presidente, fazia com os pés, topando um no outro, produzindo um som que lembrava uma sinfonia de matracas. Depois de receber efusivos aplausos, inicia seu breve discurso por meio do qual fez seus agradecimentos pelos votos recebidos e fazendo, em rápidas pinceladas, diretrizes de seu governo.

 “Se o Brasil, e certamente o mundo, encontram-se apalermados com a minha ascensão à presidência da república, não faço exceção, reconheço, por fazer parte de uma realidade do impossível. Sendo produto de duas atmosferas empesteadas pela corrução política e pelo crime organizado, hei de agir como um superman ou semideus para destruir toda essa engrenagem que envergonha a imagem do Brasil, sufoca e emperra o crescimento do Brasil. Do ex-PCC, irei buscar apenas o exemplo da ordem na aplicação de seus estatutos que, mesmo que frontalmente contrários às leis vigentes, tinham a virtude da disciplina e o respeito aos mesmos. Precisamos dar um basta à frouxidão na aplicação das leis, causa anarquia que impera nos diversos setores da administração pública.

 Tudo é possível, mesmo o impensável ou que esteja completamente fora do previsível, bem assim com o que possa aparentemente estar além das nossas possibilidades. Há exemplo mais flagrante do que minha transformação, tendo chegado ao ápice da criminalidade? Nessa condição de egresso arrependido que volta ao convívio sadio da sociedade, não posso perder a graça dessa transformação sob pena de causar-me enorme frustração. Frustração maior aos eleitores que com elevado discernimento e imbuídos de um sentimento humanitário acreditaram que o homem, mesmo que tenha chegado ao último degrau de sua degradação, é passível de recuperação. Não existe mais em mim a ansiedade em adquirir dinheiro e riqueza. Da mesma forma, apaguei a inveja que nutria dos políticos corruptos que, a sombra da lei, auferia o lucro fácil enquanto o infrator comum, por aceitáveis ou inaceitáveis razões, assume o risco de ser preso ou perder a vida.

Mostrarei ao mundo que aqui, a partir de hoje, será posto em prática o único antidoto capaz de salvar o Brasil. Vamos fazer do veneno do crime organizado, quase extinto, a cura das picadas venenosas do que saqueiam o dinheiro público. Quanto à segurança pública, nossos soldados do extinto PCC e outras facções que igualmente debandaram do crime, com a experiência que dispõem irão garantir a tranquilidade dos cidadãos.

Não cheguei a ouvir a conclusão do discurso. A cena que se seguiu foi o deslocamento do presidente na campanha de seu vice Fernandinho Beira Mar, para dar posse ao deputado federal Bolsonaro como ministro do recém-criado Ministério da Segurança Pública. Também não foi possível ouvir as palavras do ministro vez que o curioso sonho achou por bem fechar as cortinas como uma forma de censura às ideias radicais do ministro, inimigo figadal, como tantos, de homicidas friamente desumanos, estupradores e traficantes, manifestamente irrecuperáveis. O que vi, finalizando o sonho, sabia estar no terceiro ano do mandato de Marcola. Dirijo-me a uma banca de jornal. Dou uma olhada em todos, dos mais importantes aos sensacionalistas, com predileção pelas manchetes de sangue ou catástrofes. Os sérios, noticiavam o controle da inflação, a queda do desemprego e o crescimento da economia a uma taxa de 10% ao ano. Os nanicos ou vampirescos, carentes de sangue, em sua anemia profunda relatavam pequenos ilícitos, nada de tragédias, rebeliões nas penitenciárias e a bestialidade de seus crimes que foram além da imaginação do inferno de Dante. Qual teria sido a causa de tamanho fenômeno?

Apagou-se. Despertei algum tempo depois e fiquei a matutar sobre sonho tão absurdo, vendo o Brasil de cabeça para baixo a sair do fundo do poço em sua crise socioeconômica e a redimir-se dos demais pecados que o afligiam Mas seria totalmente absurdo? Será que os opostos, nem sempre tão opostos, não se encontram de fato? Será que nele, com todo o seu surrealismo, como só acontecer na vida, não pode estar incrustada alguma verdade? Quem sabe?!