O versículo 16 do capítulo 1 do livro de Rute, diz: “… para onde fores, irei também, onde for tua moradia, será também a minha; teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus.” Consoante, sua paz é nossa paz, sua alegria, nossa alegria, sua felicidade, nossa felicidade, como também, sua dor é nossa dor, seu sofrimento, nosso sofrimento e seu desespero, nosso desespero.
Eu não estava na hora de maior angústia de sua vida, no entanto, saiba que quando ela teve início, apesar de ter cumprido rigorosamente com minhas orientações médicas, algo fez com que eu despertasse amedrontado, com uma vontade quase incontrolável de lhe telefonar e, durante todo o seu triste, infeliz e impiedoso período, se apossou de meu pobre e medroso ser um desespero e uma ansiedade nunca por mim vivida.
Perdoe-me por não estar fisicamente presente no momento de sua extrema agonia. Perdoe-me pela falta de coragem de presenciar determinadas cenas. Perdoe-me por me recusar a desmanchar-me em pranto em locais que julgo impróprios. Perdoe-me por achar que não devia vê-la ter este tipo de sofrimento, pois você nada fez para ele merecer. Perdoe-me por não lhe ter estendido a mão para lhe oferecer carinho e um pouquinho de segurança em meio à tormenta, pois de vez em quando eu cometo blasfêmia, porque teimo em não concordar com certas decisões do Criador.
Quero que acredite. Acredite que pedi a Virgem Maria por vocês. Acredite que eu rezei e rezei para que tudo terminasse bem. Acredite que em nenhum momento, desde o primeiro dia, meus pensamentos e meu coração, por um segundo sequer, deixaram de sentir ou pensar em vocês. Acredite que lágrimas, quentes como a lava de um vulcão, rolaram por minha face e soluços, como o de uma criança, se apossaram de mim quando soube que minhas preces não foram ouvidas e a medicina nada mais podia fazer.
A vida é, ao mesmo tempo, bela e terrível. Terrível porque existe a dor. A dor, independente de sua natureza, nos fere, estigmatiza e tenta extrapolar nossos limites. O que fazer? Dormir com a solidão e acordar com a tristeza? Não, claro que não! Devemos nos lembrar que nossa sacralidade está no poder de gerar seres a imagem e semelhança do Criador. Entender que a Terra é, ao mesmo tempo, um gigantesco cemitério e um mega-útero. Paradoxo? Não, basta saber que é exatamente no percurso compreendido entre a vida e a morte que nos tornamos “deuses”, pois passamos de seres criados a criadores.
Portanto, esquecermos a morte e pensarmos na vida é a grande lição divina.
