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Sergipe

Para além da saúde, Projeto Florir promove transformações de cunho social

Projeto Florir, iniciativa que conta com a parceria do Ministério Público de Sergipe

A Prefeitura de Aracaju está prestes a iniciar a distribuição de absorventes e a pôr em prática ações de saúde menstrual para as crianças e adolescentes. Esse é o norte do Projeto Florir, iniciativa que conta com a parceria do Ministério Público de Sergipe (MP/SE) e impactará a vida de 7.272 pessoas que menstruam matriculadas nas escolas municipais.

Mais do que um projeto que visa garantir o cuidado à saúde, é um meio de olhar de forma ainda mais humana para a vulnerabilidade social que faz parte da realidade de muitas dessas crianças e adolescentes.

O projeto será desenvolvido por meio da intersetorialidade que envolve as secretarias municipais da Educação (Semed), da Assistência Social e da Saúde (SMS), com vistas à promoção de ações de orientação sobre a dignidade menstrual e seus estigmas, os quais fazem parte da vivência de alunas como as da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Sérgio Francisco da Silva, situada no bairro Lamarão, zona Norte da capital sergipana.

O que para muitas pessoas é um lado da higiene pessoal e processo natural da vida, para elas e outras tantas alunas da rede pública é motivo para se ausentar de aulas por falta de condições financeiras para adquirir absorvente.

No entanto, na Emef, a atitude da diretora Delma Araújo e da funcionária administrativa Edilene Santos servia como suporte fundamental para as crianças e adolescentes da unidade as quais, por vezes, sofriam com as dificuldades que, com a chegada do projeto Florir, serão encerradas.

“Nós, que estamos no chão da escola, sabemos os principais problemas vivenciados pelos alunos e, antes do projeto ser aprovado, muitas vezes eu e Edilene comprávamos absorventes para as alunas, numa tentativa de evitar que as meninas faltassem às aulas porque isso é muito recorrente. Junto a isso, conseguimos enxergar as condições para além dos muros da escola e as dificuldades enfrentadas. Não é só a cólica, é a falta de recursos para comprar um item de higiene. Nem todo mundo consegue ter essa visão porque não tem uma ligação real com o povo, e esse projeto mostra que a Prefeitura se preocupa, de fato, com as pessoas”, destaca Delma.

Na escola, quem, muitas vezes, faz a ponte é Edilene. É a ela que as alunas recorrem quando precisam de algum suporte. “É muito gratificante ser procurada pelas alunas. Foi graças a essa proximidade com as alunas que conseguimos entender quais os principais problemas vivenciados. De fato, doar os absorventes era muito dispendioso para nós, mas, ao mesmo tempo, era gratificante saber que fazíamos algo positivo para elas. O Projeto Florir vai cumprir uma missão muito importante e humana”, acrescenta Edilene.

O Florir vai alcançar adolescentes como Yasmim Santos, de 15 anos, Maria de Fátima Santana, 15, Laiane Santos, 16, e Manuelle Vitória, 15. Elas são algumas das alunas que enfrentam as dificuldades no período menstrual.

“Menstruei aos 13 [anos de idade]. Algumas vezes, quando não tinha absorvente, usava pano e deixava de ir à escola. Eu sempre me senti mal quando via que minha mãe não podia comprar. Agora, me sinto mais aliviada por saber que teremos todos os meses. Ainda tenho algumas dúvidas e vai ser muito bom ter mais informações”, conta Yasmim.

Aos 10 anos, Maria de Fátima sentiu a primeira cólica menstrual. “Fiquei assustada e não sabia direito o que estava acontecendo, pensei que estivesse tendo uma hemorragia. Agora, já sei o que acontece com o nosso corpo, mas ainda tenho algumas curiosidades. Me sinto mais tranquila por saber que terei os absorvente e não vou mais precisar faltar aula”, afirma.

Para Laiane, o projeto vai tirar um peso. “Porque sei que não vou precisar me preocupar se terei absorvente ou não quando a menstruação chegar, sem contar que vai ser bom falar mais sobre o assunto e tirar dúvidas”, frisa.

No início do ano passado, pouco antes da pandemia, Manuelle Vitória sentiu a menstruação pela primeira vez, estava na escola. “Fiquei preocupada, sem saber muito bem o que fazer. Procurei pela direção e Delma e Edilene me ajudaram com o absorvente. Se não fossem elas, não teria em casa. Assim como minhas colegas, me sinto aliviada por ter a garantia do absorvente todos os meses, mesmo quando meus pais não puderem comprar, como acontece, às vezes”, ressalta.