No último dia de visita a Cuba, o papa Bento XVI defendeu hoje (28), durante missa para cerca de 300 mil pessoas na Praça da Revolução, em Havana, o direito à liberdade religiosa. Ele condenou o fanatismo religioso. O sermão de Bento XVI ocorre no momento em que a França investiga as ligações de Mohamed Merah, autor de sete assassinatos em Toulouse – quatro em uma escola judaica -, com a rede terrorista Al Qaeda.
“Há os que interpretam mal essa busca da verdade, o que os leva à irracionalidade e ao fanatismo, pelo que se fecham na sua verdade e tentam impô-la aos outros. São como aqueles legalistas obcecados que, ao verem Jesus ferido e ensanguentado, exclamam enfurecidos: 'Crucifica-o'”, disse o papa.
Na semana passada, Merah atirou contra uma escola judaica em Toulouse, no Sul da França. O autor dos disparos matou um adulto, professor de religião, e três crianças, assumindo a responsabilidade sobre os crimes. Dias antes, ele atirou e matou três militares. Nas negociações com as autoridades, Merah demonstrou fanatismo religioso e foi morto no último dia 22.
Durante a missa em Havana, o papa lembrou que a liberdade religiosa é fundamental para a construção de uma sociedade mais humana, harmônica e pacífica. “O direito à liberdade religiosa, tanto na sua dimensão individual quanto comunitária, manifesta a unidade da pessoa humana”, disse.
Bento XVI ressaltou que [o esforço para manter a liberdade religiosa] consolida a convivência, alimenta a esperança de um mundo melhor, cria condições favoráveis para a paz e o desenvolvimento harmonioso e, ao mesmo tempo, estabelece bases firmes para garantir os direitos das gerações futuras”.
Oficialmente, Cuba é um país laico. Porém, há informações que mais de 60% da população seguem o catolicismo. Nos últimos anos, a Igreja Católica de Cuba passou a negociar com o governo a libertação de dissidentes políticos, exercendo um papel de relevância no cenário interno. O papa condenou hoje aqueles que tentam pregar o ceticismo e o relativismo.
“Essa atitude, no caso do ceticismo e do relativismo, produz uma transformação no coração, tornando as pessoas frias, vacilantes, distantes dos demais e fechadas em si mesmas. São pessoas que lavam as mãos, como o governador romano [Pôncio Pilatos em relação à condenação de Cristo], e deixam correr o rio da história sem se comprometer”, disse.