Padre Aldo de Melo Brandão completa 56 anos de sacerdócio nesta terça-feira, 23 de novembro. Aos 84 anos de vida, o religioso segue firme na dedicação de manter trabalhos sociais que resgatam a dignidade de crianças e adolescentes em situação de risco social. Na última quinta-feira, Padre Aldo recebeu a reportagem do aquiacontece.com.br no Lar de Nazaré, internato que atualmente atende 24 meninas em Penedo, cidade onde o religioso nasceu.
“Logo que eu me ordenei, fundei a Escola Profissionalizante Lar de Nazaré numa casa alugada na Rua São José com aulas de marcenaria, corte e costura e bordados”, relembrou o padre sobre como tudo começou em 1956. Com a doação de um terreno pela Diocese de Penedo, a escola profissionalizante ganhou sede própria, a princípio apenas uma casa em meio a um sítio. Naquela época, não havia a vizinhança que surgiu no entorno do prédio erguido com verbas de uma instituição alemã e recursos captados junto aos governos federal, estadual e municipal.
Padre Aldo ressalta também a colaboração efetiva, por meio de emendas parlamentares, dos políticos Oceano Carleal, Oséas Cardoso e Hélio Lopes e ainda o apoio do então prefeito de Penedo, Raimundo Marinho, para a realização da obra. Com a ampliação do espaço físico, o Lar de Nazaré também passou a funcionar como internato e chegou a atender cerca de 100 jovens e adolescentes (dados da década de 1970) em seus cursos profissionalizantes, ampliando a oferta de ofícios nos ramos de padaria, pintura, artes gráficas e pedreiro.
Lar de Nazaré depende de colaborações para se manter
Apesar do ensino de profissões e acolhimento de crianças e adolescentes, o Lar de Nazaré depende de colaborações para se manter. A ajuda eventual e a contribuição de colaboradores não são suficientes para custear os serviços que, por falta de recursos, foram reduzidos. Atualmente, apenas as 24 internas que estudam em colégios públicos recebem aulas de artesanato, pintura, bordado e informática, além de reforço escolar promovido por alunos voluntários do curso de Letras da Faculdade Raimundo Marinho.
As meninas também tem aulas de dança, recebem assistência social – com profissional encaminhado pela prefeitura de Penedo – e psicológica, esta realizada com recursos do internato. Perguntado como consegue manter o Lar de Nazaré em atividade, Padre Aldo responde sem titubear. “Eu saio pedindo”, resume o religioso sobre a peregrinação já costumeira e que poderá ser intensificada em breve. No próximo dia 15 de dezembro, a entidade receberá a última parcela de R$ 2.800,00, quantia repassada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) desde fevereiro deste ano.
O reforço no caixa veio com a descoberta pelo Ministério Público Estadual do recebimento a mais do duodécimo destinado à Câmara de Vereadores de Penedo. A investigação coordenada pelo promotor de justiça José Carlos Castro foi concluída com a determinação da devolução do valor indevido pelo parlamento. A quantia encaminhada mensalmente ao CMDCA, rateada entre instituições de assistência social do município ribeirinho, será concluída no próximo mês.
Cestas básicas repassadas pela justiça garantem alimentação
As doações voluntárias e o envio de cestas básicas, pagamento de penas alternativas encaminhados pela 4ª Vara Criminal de Penedo e Juizado Especial, garantem a alimentação das internas, mas os recursos para custeio geral serão drasticamente reduzidos com a quitação do pagamento pela Casa Legislativa penedense. Uma alternativa já colocada em prática para buscar nova fonte de financiamento depende agora da aprovação do projeto encaminhado para a Petrobrás. Em 2009, o Lar de Nazaré foi excluído das entidades beneficiadas em Alagoas com o repasse financiado com recursos de 1% do imposto de renda da estatal, verba repassada ao Fundo da Infância do Adolescente.
A crise econômica mundial causou perdas para a estatal que também justificou o fim do repasse com base na ausência do município na chamada “área de atuação” da Petrobrás, classificação para os locais onde a companhia extrai petróleo ou gás. A expectativa em torno da retomada do repasse é aguardada com ansiedade, volta da garantia de segurança financeira que não é problema para a Casa da Menina, internato criado pelo Padre Aldo em Arapiraca, onde ele reside desde 1986, quando assumiu a paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho, padroeira do município.
Assinantes da Revista O Mensageiro bancam internato arapiraquense
De acordo com Padre Aldo de Melo, a solução para manter a Casa da Menina veio com a campanha lançada em 2001. “O assinante da revista O Mensageiro, que é mensal, paga no mínimo R$ 7 por mês, mas a contribuição pode ser maior. Cada um dá quando quiser”, explicou sobre a contribuição que injeta cerca de R$ 10 mil a cada mês na instituição que atualmente cuida de 38 internas e emprega oito funcionários, além de mais seis cedidos pela prefeitura de Arapiraca.
Além da Casa da Menina, Padre Aldo instalou no coração do Agreste alagoano o santuário Cidade de Maria e a Unidade de Recuperação Nutricional (UREN), estrutura com capacidade para atender até 20 recém-nascidos e bebês desnutridos. Outro investimento na cidade é a rádio comunitária A Voz do Povo, a Voz de Deus (105,9 Mhz), emissora com programação voltada para o público cristão que diariamente vai ao ar das 5h30 às 23h00. Entre tantos trabalhos de cunho social, o sacerdote aposentado da paróquia arapiraquense por critério de idade celebra missas na Cidade de Maria, ritual que era motivo de diversão em sua infância.
Capela improvisada reunia amigos em Penedo
A recordação do que era apenas uma brincadeira de criança veio com a pergunta sobre a descoberta de sua vocação religiosa. “Meus brinquedos eram esses que estão presentes nas missas. Na casa de um amigo, o Antônio, a gente improvisava uma capela na sala, aí tinha um colega que tocava violino e mais um grupo fazia o coral e eu ‘celebrava’ a missa”, relembrou Padre Aldo sobre a diversão vivida quando tinha cerca de 10 anos.
Não por acaso, ao completar 15 anos, o então adolescente Aldo de Melo Brandão ingressou no seminário da Arquidiocese de Maceió. Antes disso, o entrevistado frisa que trabalhou em Penedo a partir dos 9 anos. “Comecei na farmácia do senhor Oton Silva, na época um boticário, onde ajudava nas tarefas de limpeza e também atendia os clientes. Depois eu fui um tipo de ‘office-boy’ do armazém de Mário Freire Leahy, que funcionava na Rua da Praia”, recordou Padre Aldo com um sorriso.
Por último, antes da ida para o seminário na capital alagoana, o adolescente percorria as ruas de Penedo entregando telegramas a serviço da agência dos Correios. “Eu andava pela cidade a pé, de bicicleta ou então pegando a ‘sopa’, um tipo de ônibus que existia em Penedo naquele tempo. Eu ia agarrado do lado de fora”, detalha o filho de pai advogado e mãe dona de casa, família formada por seis filhos, sendo duas mulheres.
Padre Aldo é descendente do primeiro bispo diocesano de Penedo
Descendente pelo lado paterno do primeiro bispo diocesano de Penedo, Dom Antônio Brandão, Aldo de Melo Brandão atendeu o chamado cristão. O seu currículo de padre secular começa com a direção diocesana do ensino religioso em Penedo, cargo substituído com a atuação de cooperador da catedral durante quatro anos. O trabalho em sua cidade natal foi substituído por sua atuação à frente da paróquia da cidade de Coruripe, onde passou seis anos, mudando em seguida para a paróquia de Piaçabuçu.
Depois de retornar para Penedo, onde assumiu a paróquia de Santa Luzia, Padre Aldo atendeu a convocação para tomar conta da catedral de Arapiraca. Apesar de aposentado do cargo, a vontade de tornar a vida das pessoas menos sofrida, principalmente de crianças e adolescentes, permanece viva nas declarações e na vida prática do religioso que será homenageado com um jantar no próximo sábado, 27, no Lar de Nazaré, onde o sacerdote irá celebrar uma missa.